“Tem
que mudar o governo para estancar a sangria da Operação Lava Jato” (Romero
Jucá). É esse o pacto dos políticos corruptos. É essa a verdadeira motivação do
processo do impeachment contra a presidenta Dilma. Hoje, no Brasil, a política
é um mar de lama.
A
decisão de Sérgio Machado - ex-senador e ex-presidente da Transpetro,
subsidiária da Petrobras - de gravar conversas com pessoas como Renan, Sarney e
Romero Jucá (todos do PMDB), “foi recebida com um misto de raiva, surpresa e
indignação. Os diálogos com os três políticos sugerem articulações para deter
as investigações da Operação Lava Jato” (Folha de S. Paulo, 29 de maio de 2016,
p. A6).
No
dia 24 de maio, após reportagem da Folha de S. Paulo revelar o conteúdo das gravações,
Romero Jucá - com 11 dias no Ministério do Planejamento - foi demitido do cargo
pelo “golpista interino” Michel Temer.
No dia 30 de maio, em apenas 19 dias de governo, o
ministro Fabiano Silveira - cujo Ministério, por ironia, chama-se “da Transparência,
Fiscalização e Controle” - pediu demissão. Em áudio gravado por Sérgio Machado,
Silveira aparece criticando a condução da Operação Lava Jato pela Procuradoria
Geral da República (PGR), e orientando o executivo e o presidente do Senado,
Renan Calheiros, sobre como agir diante das investigações.
Os
políticos, com poucas exceções, acham a corrupção tão natural que até estranham
por terem sido descobertos com a boca na botija. Levantam a voz indignados, com
o dedo em riste, como se estivessem defendendo um direito. Será que esses
políticos descobriram um novo direito: “o direito à corrupção”? Com suas
atitudes arrogantes parecem dizer: quem são vocês para manchar a imagem de
“pessoas de bem”!
Por
que será que as delações premiadas, com suas gravações, causam tanta apreensão
no governo e nos políticos ligados ao Palácio do Planalto? Quem não deve, não
teme!
Quanta
hipocrisia! É realmente uma vergonha para o Brasil! Precisamos dar um basta a
tudo isso! Lugar de político corrupto - ladrão de “colarinho branco” - é na
cadeia!
Parabéns aos advogados e juízes da Operação Lava Jato.
Está passando da hora de fazer o que vocês estão fazendo, doa a quem doer. Todos
e todas, que queremos um Brasil diferente, estamos com vocês. Não se deixem
intimidar! E que o jato (da Operação Lava Jato) seja cada vez mais potente, derrubando
todo tipo de corrupção!
Para a nossa reflexão, trago agora um texto do Papa
Francisco sobre a corrupção como um pecado elevado a sistema, que nos questiona
a todos e a todas.
“A corrupção é o pecado que em vez de ser
reconhecido como tal e de nos tornar humildes, se tornou sistema, torna-se um
hábito mental, uma forma de vida. Não sentimos necessidade de perdão e de
misericórdia, mas justificamo-nos e aos nossos comportamentos. (…) O pecador
arrependido, que depois cai e recai no pecado por motivo da sua fraqueza,
encontra novamente perdão quando reconhece que necessita de misericórdia. O
corrupto, por sua vez, é aquele que peca e não se arrepende, aquele que peca e
finge ser cristão, e com a sua dupla vida provoca escândalo.
(…) Embora muitas vezes se identifique a corrupção
com o pecado, na realidade trata-se de duas realidades diferentes, apesar de
interligadas. O pecado, sobretudo se reiterado, pode levar à corrupção, mas não
quantitativamente - no sentido que um determinado número de pecados não fazem
um corrupto -, quando muito qualitativamente: criam-se hábitos que limitam a capacidade
de amar e levam à autossuficiência. O corrupto cansa-se de pedir perdão e acaba
por acreditar que não deve pedir mais. (…) Uma pessoa pode ser uma grande
pecadora e, no entanto, pode não ter caído na corrupção.
Aludindo ao Evangelho, penso no exemplo das figuras
de Zaqueu, de São Mateus, da samaritana, de Nicodemos, do bom ladrão: nos seus
corações pecadores todos tinham alguma coisa que os salvava da corrupção.
Estavam abertos ao perdão, o seu coração pressentia a sua fraqueza, e isto foi
a abertura que permitiu entrar a força de Deus. O pecador, ao reconhecer-se
como tal, de alguma forma admite que aquilo a que aderiu, ou adere, é falso.
Por sua vez, o corrupto esconde aquilo que considera o seu verdadeiro tesouro,
aquilo que o torna escravo, e disfarça o seu vício com a boa educação, arranjando
sempre uma forma de salvar as aparências” (Francisco. O nome de Deus é misericórdia.
Uma conversa com Andrea Tornielli. Planeta, 2015, capítulo VII).
Enfim, diante do cenário de corrupção que existe
atualmente no Brasil, faço um apelo urgente à consciência dos 14 senadores que
votaram a favor da admissibilidade do processo de impeachment da presidenta
Dilma, mas que ainda não se pronunciaram sobre o mérito das acusações contra
ela: sabendo que - embora tenha havido erros - não houve crimes de responsabilidade,
revejam o seu voto e, em defesa da nossa frágil democracia, ponham um fim ao
golpe político em curso. É o que o povo espera!
Fr. Marcos Sassatelli, Frade
dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em
Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de
Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 01 de junho de 2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário