sábado, 22 de fevereiro de 2020

Campanha da Fraternidade 2020: seu sentido



    A Campanha da Fraternidade “é um modo privilegiado pelo qual a Igreja no Brasil vivencia a Quaresma. Há mais de cinco décadas, ela anuncia a importância de não separar a conversão do serviço aos irmãos e irmãs, à sociedade e ao planeta, nossa Casa Comum. A cada ano um tema é destacado como sinal de que realmente necessitamos de conversão” (Texto-Base, Apresentação).  
O tema da Campanha da Fraternidade 2020 é: “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso”, e o lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34). 
A Campanha nos convida “a olhar de modo mais atento e detalhado para a vida” (Texto-Base, Ib.). Ora, “olhando transversalmente as diversas realidades”, a Campanha “nos interpela a respeito do sentido que estamos atribuindo à vida em suas diferentes dimensões: pessoal, comunitária, social e ecológica” (Ib.).
Pela Palavra de Deus “tudo foi criado e no faça-se! (Gn 1,3), quando tudo passou a existir, a vida divina foi irresistivelmente comunicada como um transbordamento do Amor Trinitário. Todos os seres animados e inanimados, como efusão do amor de Deus, foram criados por amor. Nada escapa ou está fora desse amor. Assim, Deus vem ao nosso encontro, pois quer ‘comunicar a sua própria vida divina aos seres humanos, criados livremente por ele, para fazer deles, no seu Filho único, filhos adotivos’ (Catecismo da Igreja Cat., 52). Essa comunicação de Deus nos permite conhecê-lo e amá-lo e, assim, participarmos da glória amorosa da Trindade Santa” (Texto-Base. 22). 
A vida “é um dom que recebemos de Deus e que somos chamados a partilhar em busca da plenitude” (Ib. 23). Que no tempo da Quaresma “possamos nos dispor a uma profunda conversão da cultura da morte para a cultura da vida” (Ib. 25). 
O objetivo geral da CF 2020 é: “Conscientizar, à luz da Palavra de Deus, para o sentido da vida como Dom e Compromisso, que se traduz em relações de mútuo cuidado entre as pessoas, na família, na comunidade, na sociedade e no planeta, nossa Casa Comum”. 
Os objetivos específicos são:
  • Apresentar o sentido de vida proposto por Jesus nos Evangelhos.
  • Propor a compaixão, a ternura e o cuidado como exigências fundamentais da vida para relações sociais mais humanas.
  • Fortalecer a cultura do encontro, da fraternidade e a revolução do cuidado como caminhos de superação da indiferença e da violência.
  • Promover e defender a vida, desde a fecundação até o seu fim natural, rumo à plenitude.
  • Despertar as famílias para a beleza do amor que gera continuamente vida nova.
  • Preparar os cristãos e as comunidades para anunciar, com o testemunho e as ações de mútuo cuidado, a vida plena do Reino de Deus.
  • Criar espaços nas comunidades para que, pelo Batismo, pela Crisma e pela Eucaristia, todos percebam, na fraternidade, a vida como Dom e Compromisso.
  • Despertar os jovens para o dom e a beleza da vida, motivando-lhes o engajamento em ações de cuidado mútuo, especialmente de outros jovens em situação de sofrimento e desesperança.
  • Valorizar, divulgar e fortalecer as inúmeras iniciativas já existentes em favor da vida.
  • Cuidar do planeta (a Mãe-Terra), nossa Casa Comum, comprometendo-se com a ecologia integral” (Ib. 25).
Acrescento - e destaco como sendo fundamental - mais um objetivo específico, que não se encontra no Texto-Base:   
  • Participar das lutas dos Movimentos Populares, Sindicatos de Trabalhadores, Partidos Políticos Populares e outras Organizações, para que - juntos e juntas - possamos dar passos concretos no caminho que leva à superação e à mudança do sistema capitalista neoliberal (ultraliberal): desordem estabelecida (institucionalizada, legalizada), sistema econômico iníquo, pecado social ou estrutural, pecado ecológico, pecado do mundo, reino do mal, antirreino de Deus.   
Hoje - que, graças ao desenvolvimento das ciências sociais, temos a possibilidade de conhecer “cientificamente” como funciona a sociedade - precisamos “ver, sentir compaixão e cuidar” dos irmãos e irmãs - caídos nas mãos de assaltantes - não somente nas relações pessoais ou interpessoais, mas - também e sobretudo - nas relações sociais ou estruturais, combatendo as causas da situação de injustiça, exclusão e descarte em que se encontra a maioria do nosso povo. 
Como exemplo de irmãos e irmãs caídos nas mãos do maior e mais perverso assaltante dos pobres, que é o sistema capitalista neoliberal - representado pelo Governo de Goiás - cito o despejo, em 16 de fevereiro de 2005, de 14 mil pessoas da Ocupação “Sonho Real” do Parque Oeste Industrial, em Goiânia.
(Retomarei o assunto no artigo - o próximo - sobre os 15 anos do despejo citado e - posteriormente - no artigo sobre a mensagem da CF2020).






Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 18 de fevereiro de 2020

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