O que é o Ser humano? De
onde ele vem? Para onde ele vai? São estas as perguntas fundamentais
(indagações) que todos e todas nós nos colocamos.
Podemos dizer que de
imediato, o Ser humano percebe-se (descobre-se) a si mesmo como um “ser-no-mundo” (“ser mundano”: parte
integrante do mundo). Enquanto tal, percebe-se também como um “ser-no-espaço” e um “ser-no-tempo”.
A “mundanidade” - “espacialidade” e
“temporalidade” - é a condição existencial do Ser humano e de todos os seres.
O que significa, porém, para o Ser humano “ser-no-mundo" (“ser-mundo"),
“ser-no-espaço” (“ser-espaço”) e “ser-no-tempo” (“ser-tempo”)?
Por “mundo” entendemos a Terra (a Irmã Mãe Terra Nossa Casa
Comum) com tudo o que nela existe, ou o Universo
com tudo o que nele existe, incluindo a Terra. (Hoje, hipoteticamente,
fala-se até de “Multiverso”: um conjunto de universos possíveis, incluindo o
nosso, ou de “Multiversos”).
Seja num caso como no outro,
a palavra “mundo” tem vários
significados, mas todos fazem referência a uma totalidade:
- "A totalidade das
coisas existentes (qualquer que seja o significado de existência) e neste
sentido a palavra emprega-se sem adjetivos;
- A totalidade de um campo
ou de mais campos de investigação (de atividade) ou de relações como quando se
diz: 'mundo físico' ou 'mundo histórico' ou 'mundo artístico' ou 'mundo dos
negócios' ou também 'mundo sensível', isto é, atingível pelos órgãos sensoriais
ou 'mundo intelectual', isto é, atingível pelos instrumentos intelectuais.
Neste sentido fala-se também de 'mundo ambiente' para indicar o conjunto das
relações de um ser vivente com as coisas que o circundam ou a situação em que
se encontra; mas a palavra não tem significado diverso de ambiente;
- A totalidade de uma
cultura como quando se diz 'mundo antigo' ou 'mundo moderno' ou 'mundo
primitivo' ou 'mundo civil';
- Uma totalidade
geográfica como quando se diz 'novo mundo' (...) ou 'velho mundo' (...)" (Abbagnano, N. Mundo. Em: Dicionário de Filosofia.
Mestre Jou, São Paulo, 19822, p. 657.
Os significados da
palavra "mundo" apresentados e outros podem ser reduzidos aos dois
primeiros: o mundo como totalidade de tudo o que existe (na Terra ou no Universo)
e o mundo como totalidade particular ou totalidade de campo: a totalidade do
mundo físico, a totalidade do mundo biológico, a totalidade do mundo humano,
etc. Uma totalidade cultural ou uma totalidade geográfica é também uma
totalidade particular ou de campo. As totalidades particulares ou de campo são
as mais diversas e - quanto ao conteúdo - podem ser mais ou menos abrangentes.
Por exemplo, o "mundo
humano" - como vimos - é uma totalidade particular ou de campo, mas, no
mundo humano, temos totalidades mais particulares ainda como o "mundo
social" (sócio-econômico, sócio-político, sócio-ecológico, sócio-cultural,
sócio-religioso) e o "mundo individual" (corpóreo, bio-psíquico,
espiritual ou pessoal) com suas relações sociais.
Portanto, para o Ser humano - enquanto totalidade
particular ou de campo - “ser-no-mundo", “ser-mundo” (“ser-na-Terra”,
“ser-Terra” ou “ser-no-Universo”, “ser-Universo”), significa ser na totalidade das coisas existentes, ser parte integrante
dessa totalidade.
Como já dissemos, o mundo, por
ser uma realidade concreta, é uma realidade espacial e temporal. A
"espacialidade" e a "temporalidade" fazem parte da
"mundanidade" e, por isso, são também constitutivas do Ser humano e
de todos os seres existentes.
O
que significa, pois, “ser-no-espaço” (“ser-espaço”) e “ser-no-tempo” (“ser-tempo”)?
Para o Ser humano e todos os seres, “ser-no-espaço” (“ser-espaço”) significa
ser em todos os espaços de sua existência; “ser-no-tempo” (“ser-tempo”)
significa ser em todos os tempos de sua existência.
Por fim, o mundo como a totalidade de tudo o que
existe (na Terra ou no Universo), é
uma realidade objetiva, concreta; tem uma constituição ou estrutura com
consistência própria, com funcionamento próprio e com sentido ou valor próprio,
independentemente da consciência do Ser humano. A totalidade material e
orgânica do mundo existe, funciona e tem sentido. "antes" (do ponto
de vista lógico e não necessariamente cronológico) do Ser humano ter
consciência de “ser-no-mundo". O
Ser humano no mundo, por ser racional, pode (como veremos) dar um novo sentido ao mundo ou
desrespeitar e “profanar” o sentido que o mundo já tem.
No
próximo artigo refletiremos sobre o Ser humano como um “ser-com-o-mundo” (“ser-com-o-espaço”
e “ser-com-o-tempo”).
Marcos
Sassatelli, Frade dominicanoDoutor em Filosofia
(USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)Professor aposentado
de Filosofia da UFGE-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 10 de novembro de 2022
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