Nesse
tempo do Sínodo sobre Sinodalidade
(outubro 21 - outubro 24), tivemos, e ainda temos, a possibilidade de viver -
presencial ou virtualmente - o processo
sinodal em todas as suas etapas: local, regional, nacional, continental e
mundial. O tema é: “Por uma Igreja
Sinodal: comunhão, participação e missão”.
A 16ª
Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos sobre Sinodalidade será realizada em duas
sessões: a primeira de 4 a 29 de outubro deste ano e a segunda em outubro
de 2024.
Na vivência de todo o processo sinodal, a
Igreja - graças a Deus e ao
apoio do nosso irmão Papa Francisco - deu
um passo, que a marcou profundamente e a tornou mais comunitária e mais de
acordo com os ensinamentos do Concílio Ecumênico Vaticano II.
Mesmo mantendo o nome, “foram introduzidas novidades e mudanças em relação à composição dos participantes da Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos de outubro deste ano no Vaticano: 70 ‘não bispos’ também participarão como membros votantes”. Eles e elas “são nomeados pelo Papa a partir de uma lista de 140 pessoas identificadas pelas Conferências Episcopais e pela Assembleia de Patriarcas das Igrejas Católicas Orientais (20 cada). Em outras palavras, cada Assembleia continental terá que propor uma lista de 20 nomes e o Papa escolherá 10 dentre eles”. Pede-se “que as mulheres sejam em 50% e que a presença dos jovens seja valorizada”.
Entre os 70
‘não bispos’ temos presbíteros
(padres), pessoas de particular
consagração (chamadas Religiosos e Religiosas) e outros cristãos e cristãs (chamados leigos e
leigas), provenientes das Igrejas locais.
Outra novidade é que a Assembleia contará também com a
participação - mas sem direito a voto - de facilitadores,
especialistas em vários aspectos do assunto em questão. Haverá também delegados fraternos, membros de outras
Igrejas e Comunidades Eclesiais.
Os cardeais
Mario Grech e Jean-Claude Hollerich (respectivamente Secretário-Geral e
Relator-Geral do Sínodo) apresentaram as novidades na Sala de Imprensa da Santa
Sé, no dia 26 de abril deste ano.
Tudo isso que
aconteceu e está acontecendo no processo sinodal é positivo, mas falta muito
ainda para que a Igreja volte às Fontes
do Novo Testamento e dos Primeiros Pensadores Cristãos e seja realmente uma
Comunidade de Irmãos e Irmãs (sem
classes: Clero, Vida Religiosa, Laicato), iguais
em dignidade e valor, que - na variedade
dos dons e na diversidade dos
serviços ou ministérios - vivem em
comunhão à luz do Espírito Santo.
Jesus - antes
de se entregar livremente para morrer na Cruz por amor - pediu ao Pai: “Eu não te peço só por estes
(os discípulos), mas também por aqueles/as que vão acreditar em mim por causa
da palavra deles, para que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em
ti. E para que também eles/as estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu
me enviaste” (Jo 17, 20-21).
O Concílio Ecumênico Vaticano II no ensina: “O mistério do ser humano
só se torna claro verdadeiramente no mistério do Verbo Encarnado. (...) Cristo
manifesta plenamente o ser humano ao próprio ser humano e lhe descobre a sua
altíssima vocação” (A Igreja no mundo de hoje - GS 22).
“A fé esclarece todas as coisas com luz nova. Manifesta o plano divino
sobre a vocação integral do ser humano. E por isso orienta a mente para
soluções plenamente humanas” (Ib. 11). “Todo aquele ou aquela que segue Cristo,
o Homem perfeito, torna-se ele/ela também mais ser humano” (Ib. 41).
Ser cristãos ou cristãs na Igreja e no mundo significa
ser plenamente ou radicalmente seres humanos. Ora, se a democracia é um valor
humano, ser cristãos ou cristãs na Igreja e no mundo, significa também ser
plenamente ou radicalmente democráticos/as.
Portanto, pela lógica e, sobretudo, pela
coerência para com seus ensinamentos, a Igreja - como Comunidade de cristãos e
cristãs, irmãos e irmãs - deve (ou, deveria) ser plenamente ou radicalmente
democrática: um testemunho vivo de democracia. A própria Sinodalidade na
Igreja, só será completa, quando for plena ou radicalmente democrática.
A Igreja Povo de Deus do Concílio Ecumênico Vaticano II é:
- o jeito de ser Igreja que Jesus de Nazaré quis;
- o jeito de ser Igreja das Primeiras Comunidades Cristãs e, hoje;
- o jeito de ser Igreja das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).
Para caminhar rumo a esse ideal - profundamente evangélico e plenamente sinodal - apresento uma Proposta concreta:
Que o Sínodo dos Bispos e sua Assembleia Geral (1ª sessão), de outubro deste ano de 2023, criem - em nível local, regional, nacional, continental e mundial - seus próprios substitutos: o Sínodo do Povo de Deus e sua Assembleia Geral.
(Entre outras, lembro duas experiências de Igrejas profundamente evangélicas e plenamente
sinodais (democráticas): a Igreja
local (Prelazia) de S. Felix do Araguaia-MT e as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Por exemplo, à época de Dom
Pedro Casaldáliga, na Assembleia da
Igreja de S. Felix, o voto do bispo tinha o mesmo valor do voto de qualquer outro
cristão ou cristã, membro da Assembleia)
Marcos
Sassatelli, Frade dominicanoDoutor em Filosofia
(USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)Professor aposentado
de Filosofia da UFGE-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 18 de setembro de 2023
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