É com muita esperança que - no
dia 9 de outubro deste ano de 2025 - recebamos, a primeira Exortação Apostólica
do Papa Leão XIV: a "Dilexi te" (Eu te amei: Ap. 3,9), datada do dia
4 do mesmo mês, festa de S. Francisco de Assis.
Ela é um chamado à Igreja para
que redescubra o Amor para com os Pobres com mensagem central do Evangelho. O
documento aprofunda a reflexão sobre a relação entre a Fé cristã e a Opção
pelos Pobres, convidando os cristão e cristãs a reconhecerem nele e nelas o
rosto de Cristo e lutarem para superar todas as formas de marginalização
exploração, opressão, exclusão e descarte.
Dou graças a Deus por tudo que o
Papa Francisco fez - com seu testemunho de vida e com seu ensinamentos - pela
renovação da Igreja e que o seu sucessor o Papa Leão XIV - com o jeito próprio
de sua personalidade - pretende continuar.
Mesmo com tudo isso, a
Igreja precisa mudar muito ainda para se tornar uma Igreja de irmãos e irmãs,
realmente a evangélica: uma Igreja Pobre, desde os Pobres, com os Pobres, dos
Pobres e para os Pobres. Jesus nunca quis uma Igreja Estado, uma Igreja de
poder e de luxo.
Um exemplo da vida cotidiana da
Igreja: nestes últimos anos - ao menos até 2021 - na Arquidiocese de Goiânia, a
procissão do Corpo de Cristo passava nas Avenidas e Ruas centrais da Cidade,
levando a Eucaristia num ostensório de ouro maciço e com paramentas luxuosos ao
lado de irmãos e irmãs nossos - moradores em situação de rua - dormindo
deitados na calçada. Não é contradição! Confesso que, pessoalmente, me sentia
muito mal.
Mesmo reconhecendo - por
experiência própria - que, nas Comunidades Cristãs Pobres (CEBs), temos muitas
pessoas que são verdadeiros santos e santas, infelizmente a Igreja Instituição,
em sua história, incorporou as piores contribuições do Imperialismo, do
Feudalismo, do Escravismo e do Capitalismo. Ainda na escravidão do século XIX,
a Igreja ensina que a virtude do escravo era a submissão e a virtude do dono de
escravos era a benevolência. Não é um absurdo? Não é um comportamento
totalmente antievangélico? Dá para entender?
Hoje a Igreja - oficialmente -
condena os exageros do Capitalismo, mas não condena o Capitalismo como tal: um
Sistema estruturalmente desumano, antiético e antievangélico. Com esse pecado
estrutural de omissão, a Igreja Instituição acaba sendo conivente com o Sistema
Capitalista.
"Para desempenhar sua
missão, a Igreja a todo momento (reparem: a todo momento), tem o dever de
escutar (perscrutar) os Sinais do Tempos e interpretá-los à luz do Evangelho
(ou seja, desde os Pobres, na ótica dos Pobres), de tal modo que possa responder,
de maneira adaptada a cada geração, às interrogações eternas sobre os
significados da Vida presente e futura e de suas relações mútuas". "É
necessário, por consguinte, conhecer e entender (repare: conhecer e entender) o
Mundo no qual vivemos, suas esperanças, suas aspirações e sua índole
frequentemente dramática" (Conc.Vatic. II - GS 4).
Escutar, pois, os Sinais dos
Tempos, significa ouvir os apelos de Deus nos acontecimentos, sintonizar com
eles e colocá-los em prática, ou seja, vivê-los.
A Igreja, em sua Ação
evangelizadora, ou seja, no Anúncio da Boa Notícia do Reino de Deus, deve ser
servidora e samaritana, viver a compaixão e a misericórdia - que é o
amor acontecendo - e estar sempre do e ao lado dos Pobres.  
A Escuta dos Sinais dos Tempos à
luz do Evangelho - se for verdadeira - é escuta desde os Pobres, na ótica dos
Pobres e leva necessariamente à Opção
pelos Pobres (empobrecidos, marginalizados, oprimidos, explorados,
excluídos e descartados), que é uma Opção profundamente profética e libertadora
- e não meramente ideológica, embora o ideológico seja uma mediação necessária,
pelo fato de o Ser humano ser histórico, situado (no espaço) e datado (no
tempo).
Fazemos a Opção pelos Pobres,
para - a partir deles e delas e junto com eles e elas - participar do processo
de Libertação do Ser humano todo e de todos os Seres humanos no Mundo com o
Mundo - a Irmã Mãe Terra Nossa Casa Comum - segundo o Projeto de Deus.
Os Direitos Humanos são os
Direitos dos Pobres e - sendo dos Pobres - são de todos e de todas.  
O nosso referencial é Jesus de
Nazaré e sua prática. Jesus
nasceu como sem teto na manjedoura de um estábulo, foi trabalhador carpinteiro
com seu pai José. Em sua vida pública, anunciou a Boa Notícia do Reino de Deus
aos Pobres, até sua morte na cruz com a acusação de estar subvertendo o povo.
Todos e todas somos convidados a entrar nesse caminho. Zaqueu, homem rico, se
converteu e entrou. O jovem rico - ao menos no momento do seu encontro com
Jesus - não teve coragem e foi embora triste.
Jesus declarou: “O Espírito do
Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa
Notícia aos Pobres (reparem: não diz ‘preferencialmente’ aos Pobres);
enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da
vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano de graça do Senhor”
(Lc 4,18-19). E ainda: “Eu vim para que todos e todas tenham Vida e
a tenham em plenitude” (Jo 10,10).
Reafirmo: a Opção pelos
Pobres, “não é preferencial”, ou seja, uma alternativa entre duas ou mais
alternativas, mas única. Ela nos leva a descobrir o verdadeiro sentido de nossa
vida de seres humanos (homens e mulheres, cristãos e cristãs:
radicalmente homens e mulheres) no mundo e com o mundo: a Irmã Mãe
Terra Nossa Casa Comum.
É somente a Opção pelos Pobres
que nos faz verdadeiramente felizes. 
Por fim, a Igreja - sendo Pobre,
desde os Pobres, para os Pobres, com os Pobres e dos Pobres - ela é de todos e
de todas. Que assim seja!
