No
dia 30 de setembro passado - numa operação previamente estudada e cuidadosamente
planejada pela Cia e pelos militares, como se fosse uma caçada a um animal
feroz - os EUA mataram, no Iêmen, Anwar al Awlaki, 40, nascido nos EUA, Estado
do Novo México, filho de iemenitas e de dupla cidadania iemenita-americana. Ele
foi apontado como um dos líderes da Al Qaeda na Península Arábica e uma inspiração
para muitos terroristas. “Era considerado um dos mais perigosos propagandistas
da franquia iemenita da rede Al Qaeda. Seus sermões na internet, que o tornaram
uma espécie de celebridade entre terroristas, são alvo de diversas
investigações internacionais” (Folha de S. Paulo. 01/10/11, p. A16).
Tido
como mentor de atentados recentes aos EUA, incluindo o ataque á base militar de
Fort Hood, no Texas, em 2009, Anwar al Awlaki - que havia escapado de um ataque
semelhante em maio passado - foi morto por um avião não tripulado americano (os
chamados “drones”). No ataque morreu também o americano Samir Khan, editor de
uma revista on-line, ligada à Al Qaeda. A notícia, amplamente divulgada pela imprensa
nacional e internacional, correu o mundo inteiro.
O
presidente dos EUA, Barack Obama, querendo justificar o assassinato de Anwar al
Awlaki, afirmou que ele “convocava indivíduos nos EUA e ao redor do globo a
matar homens, mulheres e crianças inocentes”.
A American Civil Liberties Union (união de liberdades
civis) criticou o assassinato e, em comunicado oficial, afirmou que a ação
“viola tanto as leis americanas quanto as internacionais”, ao assassinar
cidadãos “sem processo judicial”. “A autoridade do governo - continua a
entidade - de usar força letal contra seus próprios cidadãos deveria ser
limitada a circunstâncias em que a ameaça à vida é concreta, específica e
imediata”.
A execução sumária, sem investigação ou julgamento, de
Anwar al Awlaki “reacende o debate sobre liberdades civis e terrorismo” (Ib,).
Para os defensores das liberdades civis, o governo dos EUA (como qualquer outro
governo) não tem o direito de tirar a vida de um cidadão, americano ou não.
No
caso do assassinato de Anwar al Awlaki - e também em outros casos - os EUA
agiram como se fossem os donos do mundo, com poderes absolutos sobre a vida e a
morte de cidadãos de seu próprio país e de outros países.
Por
que - diante dessa arrogância e autossuficiência - os países, que se dizem
democráticos, não manifestam publica e veementemente o seu repúdio para com a
prática terrorista e ditatorial dos EUA? Por que a ONU não intervém, condenando
a forma como os EUA atacam e assassinam?
“A
‘Guerra contra o Terrorismo’ vem utilizando-se amplamente do terrorismo como
arma”. “Terrorismo gera terrorismo. Eis o principal motivo a nos levar a
desconfiar - e desconfiar muito! - de uma guerra liderada pela maior e mais
poderosa nação terrorista do mundo contra o terrorismo” (Lázaro Curvêlo Chaves.
O Terrorismo dos EUA. Em: www.culturalbrasil.org
- 11/09/03). Muitas vezes o lobo se apresenta em pele de cordeiro. Quem
acredita que com Barack Obama os EUA se transformaram está equivocado. Os EUA
continuam combatendo o terrorismo com terrorismo.
“Nós,
o resto do mundo, recebemos uma representação bastante distorcida dos EUA. De
um lado, eles são os (muito questionável) salvadores e samaritanos, eles nos
protegeram e salvaram dos nazistas, do comunismo (que era – a meu ver - um
capitalismo de Estado) e de muitos ditadores. Por outro lado, eles instauraram
um regime absolutista, apóiam publicamente corruptos, Estados totalitários e
levam em consideração tantos regimes hostis ao ser humano, caso estes atendam
seus interesses. Eles compram Governos e Estados, tornando-os dependentes,
sugam-nos sem consideração à população. Os EUA são aquilo que se combate
oficialmente, eles são os terroristas que, com seu violento arsenal e maior
exército do mundo, querem impor a este sua vontade. Sem se preocupar com
perdas, sem consideração à população. Tudo em prol de um Governo
inescrupuloso e absolutista, que é controlado por conglomerados e bancos!” (Johannes. EUA são o terrorista mais perigoso
do mundo. Em: www.inacreditavel.com.br – 08/06/10).
Podemos concluir afirmando que o
terrorismo não se combate com terrorismo. É preciso mudar as relações
internacionais, ou seja, as relações entre os povos. Estas relações devem ser
baseadas na igualdade (nenhum país é superior ao outro), no respeito mútuo, no
diálogo sincero, no reconhecimento das diferentes culturas e religiões, na
busca de valores comuns, na promoção dos direitos humanos, na colaboração
recíproca e no empenho de todos com a construção de “um outro mundo possível”,
um mundo de paz, de harmonia, de solidariedade, de justiça social e, sobretudo,
de amor, que dá sentido à vida e faz a todos/as ser felizes.
Para que isso aconteça, precisa, antes
de tudo, que os governantes de todos os países tenham vontade política. Precisa
também que a ONU seja reestruturada e fortalecida, como organismo
internacional, para que - quando se fizer necessário - tenha a “autoridade” de
intervir, na solução de conflitos entre países, no mundo inteiro.
Fr. Marcos Sassatelli, Frade
dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em
Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG
(aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em
Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e
Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato
Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da
Paróquia Nossa Senhora da Terra
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