Tive a graça de participar do 13º
Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que aconteceu em
Juazeiro do Norte-CE, terra do padre Cícero Romão Batista, de 7 a 11 de
janeiro.
O
tema foi “Justiça e Profecia a Serviço da Vida” e o lema “Romeiras do Reino no
Campo e na Cidade”.
“Em atitude romeira, o povo das CEBs
de todos os cantos do Brasil colocou-se a caminho, respondendo ao chamado da
grande fogueira acesa pela Diocese de Crato-CE, convocando para o 13º
Intereclesial. A luz da fogueira alumiou tão alto que fez acorrer
representantes de Igrejas irmãs evangélicas e de outras religiões. Até foi
avistada em toda a América Latina e Caribe, Europa, África e Ásia” (Carta Final
do 13º Intereclesial das CEBs do Brasil ao Povo de Deus).
Éramos
5046 pessoas, incluíndo as equipes de serviço e visitantes: 2248 mulheres, 1788
homens, 146 religiosos/as, 232 padres, 72 bispos, 20 evangélicos/as, 35 de
outras religiões, 75 indígenas, 36 estrangeiros/as e 68 da Coordenação Ampliada
e da Assessoria.
O
papa Francisco enviou aos participantes do Intereclesial uma mensagem, que foi
lida na Celebração de abertura e acolhida por todos/as com muita alegria.
O
bispo de Crato, dom Fernando Panico, sempre na Celebração de abertura,
proclamou: “as CEBs são o jeito da Igreja ser. As CEBs são o jeito ‘normal’ da
Igreja ser”. As CEBs, como Comunidades a serviço da vida, anunciam a Boa
Notícia de Jesus de Nazaré, discernindo os sinais dos tempos à luz da Palavra de
Deus e respondendo aos desafios que o mundo de hoje apresenta.
“Ao
ouvir a proclamação desta Boa Notícia, o ventre do povo que veio em romaria
para Juazeiro do Norte (Diocese de Crato-CE) ficou de novo grávido deste sonho,
desta utopia. A esperança foi fortalecida. A perseverância e a resistência na
luta foram confirmadas. O compromisso com a justiça a serviço do ‘Bem-Viver’
foi assumido” (Ib.).
O
Encontro foi realmente um novo Pentecostes, uma verdadeira irrupção do Espírito
Santo na vida da Igreja e uma experiência única. Ele nos permitiu vivenciar
intensamente, até o mais profundo das entranhas, uma Igreja pobre, para os
pobres, com os pobres e dos pobres: a Igreja que Jesus de Nazaré sonhou.
O
povo de Juazeiro do Norte é um povo acolhedor, fraterno e muito religioso. “O
Cariri, ‘coração alegre e forte do Nordeste’, se tornou a ‘casa’ onde se
encontraram a fé profunda do povo romeiro, nascida do testemunho do padre
Ibiapina e do padre Cícero, da beata Maria Madalena do Espírito Santo Araujo e
do beato José Lourenço, com a fé encarnada do povo das CEBs, nascida do grito
profético por justiça e da utopia do Reino”.
No Intereclesial “houve um encontro
entre a Religiosidade popular e a Espiritualidade libertadora das CEBs. As duas
reafirmaram seu seguimento de Jesus de Nazaré, vivido na fé e no compromisso
com a justiça a serviço da vida” (Ib.).
A memória de dom Helder Câmara esteve
sempre presente e suas palavras “não deixem a profecia cair!” ecoaram por todo
lado. Em nome dos indígenas - e dos quilombolas - que, celebrando e festejando
a terra como mãe, sonham viver em terras demarcadas, o índio Anastácio, em tom
profético, proclamou: “Roubaram nossos frutos, arrancaram nossas folhas,
cortaram nossos galhos, queimaram nossos troncos, mas não deixamos arrancar
nossas raízes”.
O plenário (no Ginásio poli-esportivo,
denominado Caldeirão Beato José Lourenço), os mini-plenários (ranchos) e os
grupos (chapéus) do Encontro “tornaram-se espaços de partilha das experiências
de busca para compreender a sociedade, que é o chão, onde as CEBs labutam e
vivem” (Ib.).
Participamos das visitas missionárias
a famílias e a algumas Comunidades: uma experiência rica e inesquecível. O ponto
alto do Intereclesial foi a Celebração “em memória dos profetas/profetizas e mártires
da fé, da vida, dos direitos humanos, da justiça, da terra e das águas,
realizada no Horto, onde se encontra a grande estátua do padre Cicero,
comungando com a causa dos pobres: povos indígenas, quilombolas, pescadores
artesanais e demais sofredores, e com a causa do ecumenismo, na promoção da
cultura da vida e da paz, do encontro” (Carta dos Bispos participantes do 13º
Intereclesial da CEBs ao Povo de Deus).
Os gritos dos excluídos, que ecoaram
no Intereclesial, nos sensibilizaram e nos comprometeram a todos/as: “gritos de
mulheres e jovens que sofrem com a violência e de tantas pessoas que sofrem as
consequências do agronegócio, do desmatamento, da construção de hidrelétricas,
da mineração, das obras da copa do mundo, da seca prolongada no Nordeste, do
tráfico humano, do trabalho escravo, das drogas, da falta de planejamento
urbano que beneficie os bairros pobres, de um atendimento digno para a
saúde...”.
As CEBs, “estando enraízadas na
Palavra de Deus, aí encontram luzes para levar adiante sua missão evangelizadora”,
vivenciando o que nos pedem a todos/as o tema e o lema do Intereclesial. “Nossa
palavra - dizem os bispos - é de esperança e de ânimo junto às CEBs que, espalhadas
por todo esse Brasil, pelo continente latino-americano e caribenho e demais
continentes representados no Encontro, assumem a profecia e a luta por justiça
a serviço da vida. Desejamos que sejam, de modo muito claro e ainda mais forte,
Comunidades guiadas pela Palavra de Deus, celebrantes do Mistério Pascal de
Jesus Cristo, Comunidades acolhedoras, missionárias, atentas e abertas aos
sinais da ação do Espírito de Deus, samaritanas e solidárias”.
Depois de visitarmos o túmulo do padre
Cícero na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e de uma caminhada até a
Basílica de Nossa Senhora das Dores, cantando com alegria, participamos da
Celebração eucarística de encerramento e de envio “para que no retorno às Comunidades
de origem possamos ser de fato ‘sal da terra e luz do mundo’” (Ib.).
A respeito das CEBs, dom José Maria
Pires, certa vez afirmou: “cometemos erros, mas acertamos o caminho”. O caminho
é Jesus de Nazaré e todos/as são convidados/as a entrar no caminho. Os
primeiros cristãos/ãs eram chamados os seguidores/as do caminho. Como disse frei
Carlos Mesters, Jesus “não fez profecia, ele foi uma profecia ambulante”.
No final do Encontro, abraçamo-nos com
amorosidade e muita alegria. Amém, Axê, Auerê, Aleluia!
Termino com as palavras do nosso irmão,
bispo de Roma e pastor primaz da unidade, papa Francisco: “há que afirmar sem
rodeios que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. (...)
Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas,
a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias
seguranças. Não quero uma Igreja preocupada em ser o centro, e que acaba presa
num emaranhado de obsessões e procedimentos” (A Alegria do Evangelho - EG,
48-49).
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