sexta-feira, 14 de agosto de 2015

2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares: seu significado

            
Entre os dias 7 e 9 de julho último aconteceu o 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares (2º EMMP), em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), que reuniu cerca de 1.500 militantes de 40 países. A delegação brasileira contou com 200 representações de diversos Movimentos Populares do país.
No primeiro dia do Encontro, após a mística de abertura, aconteceu o painel “Mãe Terra”, que trouxe importantes dados a respeito do controle que as multinacionais têm sobre a alimentação da humanidade. No debate, dezenas de líderes camponeses relataram a luta em seus países pela soberania alimentar e por um planeta sustentável. O destaque foi a importante participação das mulheres camponesas e indígenas, que com muita garra defendem suas terras e seu povo da gana imperialista, que expulsa os povos originários de suas terras e impõe cruéis e injustas leis de mercado.
Em seguida, os participantes do Encontro receberam a visita do presidente indígena da Bolívia, Evo Morales, que deu as boas vindas a todos e a todas, ressaltando a importância dos Movimentos Populares na luta contra o imperialismo.
No dia seguinte, de manhã, foi a vez do painel “Trabalho”, que reuniu lideranças sindicais de vários países para contar suas experiências de trabalhadores e trabalhadoras na luta contra a exploração e por direitos.
À tarde do mesmo dia, o tema principal foi “A luta pelo teto”. Teve depoimentos de Movimentos Populares do Brasil, Índia, África, Bolívia e Peru sobre suas experiências de luta, cooperativismo e autoconstrução.
No dia 9 aconteceu o Encontro com o Papa Francisco e o presidente Evo Morales, que - depois do Discurso do Papa - encerraram o 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares (cf. http://averdade.org.br/2015/07/encontro-mundial-dos-movimentos-populares-acontece-na-bolivia/).
Antes de tudo, quero reafirmar o que escrevi no artigo “O significado do 1º Encontro Mundial dos Movimentos Populares”, que representa uma verdadeira revolução na Igreja, uma “revolução evangélica” radical (em: http://www.dm.com.br/texto/198692-o-significado-do-encontro-mundial-de-movimentos-populares ou http://freimarcos.blogspot.com.br/search?updated-max=2014-12-03T14:30:00-08:00&max-results=7&start=28&by-date=false e outros sites).
            Neste artigo (o primeiro de uma série) faço algumas considerações e reflexões sobre o significado do 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Em outros artigos - não necessariamente na sequência cronológica - destacarei os pontos mais marcantes do Discurso do Papa aos participantes do 2º Encontro e da declaração final do mesmo, a “Carta de Santa Cruz”, que (como já disse a respeito do 1º Encontro) são luzes para a nossa militância nas Pastorais Sociais e Ambientais, e nos Movimentos Populares.
Qual é, pois, o significado do 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares? O que ele representa? Em primeiro lugar, o 2º Encontro tem o objetivo de dar continuidade ao 1º, realizado no Vaticano (Roma - Itália), de 27 a 29 de outubro de 2014. Em segundo lugar, tem também o objetivo de retomar, ampliar e aprofundar os temas refletidos e debatidos no 1º Encontro. O fato que o 2º Encontro tenha sido realizado pouco tempo depois do 1º (ninguém imaginava isso) é um sinal de que a revolução na Igreja (da qual falei no 1º Encontro) - uma “revolução evangélica” radical - está dando os primeiros passos com muita rapidez. É certamente o Espírito Santo (o Amor de Deus) que está presente e age na história do ser humano e do mundo.
             O Papa Francisco, em seu Discurso aos participantes do 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares, coloca-se no meio deles e delas - num plano de igualdade - como um irmão, que está em plena sintonia com os anseios e as aspirações dos Movimentos Populares. Dirige-se aos irmãos e irmãs desses Movimentos com toda simplicidade, ternura e confiança.
            Depois de saudar a todos e a todas com uma “Boa tarde!” muito carinhosa, Francisco faz uma saudosa memória do 1º Encontro. “Há alguns meses, reunimo-nos em Roma e não esqueço aquele nosso primeiro Encontro. Durante este tempo, trouxe-vos no meu coração e nas minhas orações. Alegra-me vê-los de novo aqui, debatendo os melhores caminhos para superar as graves situações de injustiça que padecem os excluídos em todo o mundo. Obrigado, senhor Presidente Evo Morales, por sustentar tão decididamente este Encontro”. E, do mais profundo do seu coração, continua dizendo: “então, em Roma, senti algo muito belo: fraternidade, paixão, entrega, sede de justiça. Hoje, em Santa Cruz de la Sierra, volto a sentir o mesmo. Obrigado!”.
Reparem agora o que Francisco diz aos cristãos e cristãs para incentivá-los a participarem ativamente dos Movimentos Populares. “Pelo Pontifício Conselho ‘Justiça e Paz’, presidido pelo Cardeal Turkson, soube também que são muitos na Igreja aqueles que se sentem mais próximos dos Movimentos Populares. Muito me alegro por isso! Ver a Igreja com as portas abertas a todos vocês, que se envolve, acompanha e consegue sistematizar em cada Diocese, em cada Comissão ‘Justiça e Paz’, uma colaboração real, permanente e comprometida com os Movimentos Populares. Convido-vos a todos, bispos, sacerdotes e leigos, juntamente com as organizações sociais das periferias urbanas e rurais, a aprofundar este encontro”.
Quanta clareza e quanta paixão nas palavras de Francisco! Ah, se as nossas Igrejas (Comunidades, Paróquias, Dioceses) entendessem e vivessem isso! Infelizmente, existem ainda muita indiferença e omissão por parte da Igreja em relação aos Movimentos Populares! Ah, se as nossas Igrejas ouvissem o apelo do Papa Francisco! Meditemos, irmãos e irmãs! As palavras de Francisco nos questionam, nos incomodam e nos levam a mudar de vida, buscando viver cada vez mais a radicalidade evangélica na sociedade e no mundo de hoje.
Sempre de coração aberto e com muita ternura, Francisco diz ainda: “Deus permitiu que nos voltássemos a ver hoje. A Bíblia lembra-nos que Deus escuta o clamor do seu povo e também eu quero voltar a unir a minha voz à vossa: terra, teto e trabalho para todos os nossos irmãos e irmãs. Disse-o e repito: são direitos sagrados. Vale a pena, vale a pena lutar por eles. Que o clamor dos excluídos seja escutado na América Latina e em toda a terra”.





                                                                                                                                          Fr Marcos Sassatelli,Frade dominicano
                                                                                                     Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP),
                                                                                                                                    Professor aposentado de Filosofia da UFG
                                                                                                                                                     E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
                                                                                                                                                        Goiânia, 05 de agosto de 2015


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