Domingo,
dia 17 do mês corrente, à tarde e à noite, muitos brasileiros e
brasileiras (no Brasil e no exterior) tiveram a oportunidade de
assistir a um espetáculo vergonhoso e deprimente, um verdadeiro
circo, cujos atores (cumprindo um papel ridículo e - diga-se de
passagem - de péssima qualidade do ponto de vista artístico) foram
os deputados federais, que em sua maioria, são uma corja de
fariseus, hipócritas, falsos, corruptos, oportunistas, covardes,
conspiradores e traidores.
Foi nojento e repugnante ver que - depois
de conquistar o 342º voto - um grupo desses deputados federais
conspiradores e traidores (alguns deles eram ministros do governo até
poucos dias antes da votação), numa atitude inescrupulosa e
diabólica, correram para a casa do chefe dos conspiradores e
traidores, que os recebeu com um sorriso cínico e maldoso (vejam
foto compartilhada nas redes sociais). É inacreditável! Para
qualquer pessoa que tem um mínimo de decência e dignidade humana,
foi uma cena de provocar vômito!
A
bem da verdade, precisamos reconhecer que na Câmara há também um
pequeno grupo - e isso é motivo de muita esperança - de deputados
federais honestos que, apesar das condições adversas, esforçam-se
para fazer da prática política um verdadeiro serviço ao povo e ao
bem comum. Como dizia Paulo VI e repete hoje o Papa Francisco: a
verdadeira prática política é uma das formas mais sublimes da
caridade (do amor).
Infelizmente,
nestes últimos anos, o maior erro das forças políticas populares
no governo foi fazer a aliança com um grupo político, que é parte
integrante dos detentores do poder econômico (os “demônios” de
hoje). Deu no que deu! Espero que a traição dos novos “Judas”
sirva de lição para essas forças políticas populares e também
para todos os movimentos sociais populares e todos os sindicatos de
trabalhadores e trabalhadoras que lutam por uma nova sociedade, justa
e igualitária.
Lembremos
as palavras de Jesus de Nazaré: “Vocês não podem servir a Deus e
ao Dinheiro” (Mt 6, 24): o deus dinheiro, o grande ídolo do nosso
tempo.
“Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus
hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: por fora parecem
bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e podridão!
Assim também vocês: por fora parecem justos diante dos outros, mas
por dentro estão cheios de hipocrisia e injustiça!” (Mt 23,
27-28). Essas palavras são o retrato perfeito do que vimos na Câmara
Federal, durante a votação do impeachment, que foi um golpe
político baixo, covarde e vingativo.
Uma das coisas mais nojentas da sessão de
votação do impeachment foi ver como deputados federais, durante o
voto, emitiam frases de efeito, profanando os valores mais sagrados
da vida humana e, às vezes, utilizando - de maneira deturpada,
oportunista e farisaica - a própria Palavra de Deus para defender
seus interesses pessoais e de grupo. Houve até deputado que fez uma
homenagem a um dos maiores torturadores da ditadura civil e militar.
É execrável!
Lamento profundamente que muitos deputados
federais (que se dizem, mas não são) cristãos católicos ou
cristãos evangélicos sejam piores do que os outros. Como pode, por
exemplo, um presidente da Câmara Federal, notoriamente corrupto,
presidir uma sessão tão importante? É realmente o fim da picada! O
despudor não tem mais nenhum limite! Nunca vi esses fariseus falarem
tanto o nome de Deus em vão.
A bancada goiana de deputados federais (com
uma única exceção) confirmou - com sua prática política - que o
Estado de Goiás é um dos Estados mais atrasados do Brasil, do ponto
de vista cultural e ético. Em Goiás, ainda predomina o coronelismo
rural (dos latifundiários), o coronelismo urbano (dos donos das
imobiliárias) e o coronelismo político, este último a serviço dos
dois primeiros.
Em Goiás, os criminosos - muitas vezes
presos ou com mandato de prisão - são os trabalhadores e
trabalhadoras que lutam pelo direito sagrado à terra e à moradia.
Quem tiver estômago para isso, leia na
mídia o depoimento dos deputados federais goianos - e de outros
Estados também - na hora da votação do impeachment. É
estarrecedor! Por fim, lembrem-se os deputados federais que Deus é
justo. Aguardem! A hora da justiça vai chegar!
Em contraposição ao uso demagógico e
oportunista da palavra “povo” por parte dos deputados federais,
deixo um testemunho: domingo 17, dia da votação do impeachment, nas
Comunidades da Paróquia Nossa Senhora da Terra (Região Noroeste de
Goiânia), onde eu atuo pastoralmente, havia no meio do povo um clima
de muita preocupação e, no rosto das pessoas, estava estampado um
sentimento de decepção e tristeza. Isso é muito significativo!
Pessoalmente, só pude assistir à última parte do “circo” da
votação do impeachment, mas foi mais do que o suficiente para
perceber claramente que se tratava de uma grande farsa.
Na conquista do 342º voto houve um
profundo silêncio. Por volta das 23h, as ruas e avenidas do bairro
Floresta e Jardim Curitiba III, onde eu passei de carro, estavam
totalmente vazias. Parecia um clima de velório. Não houve nenhum
sinal de manifestação ou euforia por parte do povo. Esse fato, por
si só, fala muito mais do que todas as frases demagógicas de efeito
dos deputados federais de Goiás e de todo o Brasil.
Há
uma diferença fundamental no uso da palavra “povo” entre os
deputados federais e os que lutam por uma nova sociedade, que é a
sociedade do bem viver ou - à luz da Fé - o Reino de Deus na
história do ser humano e do mundo. Para os primeiros, o “povo”
são as elites e os grupos de classe média que, para defender seus
próprios interesses, se aliaram às elites e, nas manifestações
públicas, costumam fazer muito barulho. Para os segundos, o “povo”
são os pobres - os trabalhadores e trabalhadoras - que são a grande
maioria, e seus aliados. Pensemos!
Como diz o Papa Francisco, fazendo suas as palavras dos movimentos
populares, “esse sistema não se aguenta mais. Temos que mudá-lo,
temos que voltar a levar a dignidade humana para o centro, e que,
sobre esse pilar, se construam as estruturas sociais alternativas de
que precisamos” (1º Encontro Mundial dos Movimentos Populares.
Roma, 27-29/10/2014).
Nas
próximas eleições vamos banir da vida pública - de uma vez por
todas - esse bando de políticos corruptos e traidores, que são
capazes de vender até a própria mãe para defender seus interesses.
Vamos votar em trabalhadores e trabalhadoras honestos, que não se
vendem e que estão dispostos a colocar a prática política a
serviço do bem comum. Chega de tanta maracutaia!
Estamos
no tempo pascal. Páscoa - para os cristãos e cristãs - é
“passagem” para uma vida nova. Não temos direito - sobretudo os
seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré - de perder a esperança.
Cantemos: “Vitória, tu reinarás”!
Fr.
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor
em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor
aposentado de Filosofia da UFG
E-mail:
mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia,
20 de abril de 2016
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