No último
dia 19 (domingo), no Jardim
Curitiba III (Goiânia - GO), aconteceu a 1ª Romaria das Comunidades
Eclesiais de Base (CEBs) à Nossa Senhora da Terra, padroeira de
todos e todas que - com responsabilidade - lutamos para cuidar de
nossa Mãe Terra: Terra Casa Comum, Terra de Moradia (Teto) e Terra
de Trabalho (os 3 T: Terra, Teto, Trabalho).
Queremos que a Terra seja de verdade a Casa
Comum e que - nessa Casa Comum - haja Moradia de qualidade e Trabalho
digno para todos e para todas. Os trabalhadores e trabalhadoras -
sejam aqueles e aquelas que trabalham diretamente na produção
agroecológica, sejam aqueles e aquelas que trabalham em outros
setores de produção, ou aqueles e aquelas que trabalham nas áreas
de serviços, como educação, saúde e outras - devem, com seus dons
e suas capacidades, buscar o bem de toda a sociedade, cuidando - como
jardineiros e jardineiras - da Casa Comum, para que se transforme num
grande e bonito Jardim.
Que Nossa Senhora da Terra, mulher pobre e
trabalhadora, interceda por nós para que possamos cumprir a missão
que Deus nos deu, que é a de cuidar de nossa Casa Comum, a Mãe
Terra e de todas as formas de vida que nela se encontram.
A Romaria teve como tema: “Nossa Senhora
da Terra caminha com seu Povo” e como lema: “o Projeto de Jesus é
uma Igreja Povo de Deus comprometida com os Pobres”. Já, os
destaques foram:
“a história da Imagem de
Nossa Senhora da Terra”, cuja origem é ligada à luta pela terra
no nordeste do Brasil; “a memória dos 60 anos da Arquidiocese de
Goiânia” (Jubileu de Diamante), sobretudo seu papel fundamental na
caminhada das CEBs não só na Capital, mas também em todo o Estado
de Goiás e o Distrito Federal; e “o 1º Dia Mundial dos Pobres”,
que nos ajudou a refletir
sobre o verdadeiro sentido das Obras de Misericórdia e o compromisso
com a busca da Justiça Social.
A Romaria começou às 7:30 horas com a
acolhida ao Povo e a Celebração do Perdão nas Comunidades: Jesus
de Nazaré (Jardim Curitiba I e II), Nossa Senhora da Vitória
(Bairro Floresta) Maria Mãe Santíssima (Bairro Boa Vista), Nossa
Senhora da Paz (Bairro São Domingos) e Nossa Senhora da Terra
(Jardim Curitiba III); continuou com cantos e paradas meditativas
durante a caminhada; e chegou às 9:30 horas (aproximadamente) no
pátio da Igreja Nossa Senhora da Terra (que é a referência da
Paróquia), levantando os estandartes das Comunidades,
Participaram também da Romaria diversos
irmãos e irmãs - entre as quais algumas religiosas - de Comunidades
Eclesiais de Base de outros lugares.
Entramos festivamente na Igreja Nossa
Senhora da Terra, cantando o Glória. Na Igreja,
acolhemos os romeiros e romeiras das 5 Comunidades, que fazem a
Paróquia,
e aqueles e aquelas que
vinham de outras Comunidades. Seguiu-se a Celebração compartilhada
da Palavra e a Celebração da Ceia (a Missa), com grande
participação do povo, terminando às 12:30 horas com um lanche
comunitário.
A manhã inteira foi celebrativa. Foi uma
experiência de Fé e Vida tão bonita e profunda que ninguém viu o
tempo passar. No final, tivemos o momento do Envio, com a benção de
Nossa Senhora da Terra, Mãe dos Excluídos e Excluídas. Todos e
todas fomos enviados em Missão, invocando o Espírito Santo com um
canto e recordando as palavras de Jesus: “O Espírito Santo descerá
sobre vocês e Dele receberão força para serem as minhas
testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até os
extremos da Terra” (At 1, 8). E as palavras: “Como o Pai me
enviou, eu envio vocês. (...) Recebam o Espírito Santo” (Jo 20,
21-22).
Terminada a Romaria, como Igreja
em saída, voltamos para as nossas casas fortalecidos, com muita
esperança e com muita vontade de lutar. Manifestamos também o
desejo de, no próximo ano, realizar a 2ª Romaria das CEBs à Nossa
Senhora da Terra.
Comprometemo-nos com o jeito de ser Igreja
dos Documentos de Medellín, que encarnam os Documentos do Concílio
Vaticano II na América Latina e no Caribe e - como afirma Clodovis
Boff - são os Documentos fundantes da Igreja Latino-americana e
Caribenha, enquanto Latino-americana e Caribenha (e não enquanto
Igreja europeia implantada na América Latina e no Caribe).
A CEB é “o primeiro e fundamental núcleo
eclesial” ou “a célula inicial da estrutura eclesial”
(Medellín, XV, 10) e a Paróquia, “um conjunto pastoral unificador
das Comunidades de Base” (Ib. 13).
Infelizmente, hoje temos Igrejas que - na
prática - jogaram no lixo os Documentos da Conferência de Medellín
(que em 2018 celebra seu Jubileu de Ouro). Quem não aceita os
Documentos de Medellín, não pode exigir que sejam aceitos outros
Documentos posteriores.
Por fim, queremos que a Paróquia Nossa
Senhora da Terra se torne, cada vez mais, um espaço aberto para que
as CEBs - que atualmente são obrigadas, muitas vezes, a viverem nas
catacumbas ou simplesmente “descartadas” - possam se encontrar e
se fortalecer na escuta dos sinais dos tempos, na Celebração
compartilhada da Palavra e na Celebração da Ceia.
Por considera-lo de fundamental importância
para as Pastorais Sociais e Ambientais e para a nossa militância nos
Movimentos Populares, retomo um texto do Papa Francisco (que as
Igrejas - que fazem oposição seletiva e silenciosa ao Papa - nunca
citam).
“Soube - afirma Francisco - que são
muitos na Igreja aqueles e aquelas que se sentem mais próximos
dos Movimentos Populares. Muito me alegro por isso! Ver a Igreja com
as portas abertas a todos vocês, que se envolve, acompanha e
consegue sistematizar em cada Diocese, em cada Comissão ‘Justiça
e Paz’, uma colaboração real, permanente e comprometida com os
Movimentos Populares.
Convido-vos a todos, bispos, sacerdotes e
leigos, juntamente com as organizações sociais das periferias
urbanas e rurais, a aprofundar este encontro” (Discurso do Papa
Francisco aos participantes do 2º Encontro Mundial dos Movimentos
Populares. Santa Cruz de la Sierra - Bolívia, 09/07/15).
Queremos que a Paróquia Nossa Senhora da
Terra - atendendo ao convite do Papa Francisco - se torne também um
espaço aberto para os Movimentos Populares, Sindicatos autênticos
de Trabalhadores, Partidos Políticos (ou Correntes de Partidos
Políticos) comprometidos com o Povo e outras Organizações
Populares, para que sintam o nosso apoio e a nossa solidariedade e
para que contem com a nossa participação de militantes em suas
lutas por outro mundo possível, que à luz da Fé, é para nós o
Reino de Deus acontecendo na história do ser humano e do mundo.
As CEBs não morreram, elas estão muito
vivas. Elas são a Igreja de Jesus de Nazaré hoje. Estamos a caminho
do 14º Intereclesial das CEBs (Londrina - PR, 23-27/01/18). “CEBs
e os Desafios do Mundo Urbano”. “Eu vi e ouvi os clamores do meu
povo e desci para libertá-lo” (Ex 3, 7).
Fr.
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor
em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor
aposentado de Filosofia da UFG
E-mail:
mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia,
22 de novembro de 2017
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