quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Se Jesus fosse pároco da Catedral de Goiânia


22:30 horas do dia 10 de dezembro de 2018. Acabo de chegar - juntamente com dois irmãos dominicanos, Frei Carlinhos e Frei José Fernandes - de um Ato Inter-religioso, realizado em frente à Catedral Metropolitana. O Ato - em comemoração dos 70 anos da Declaração Universal de Direitos Humanos - faz parte da programação da 2ª Jornada de Direitos Humanos - de 01 a 13 de dezembro - promovida pelo Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduino, formado por cerca de 70 Entidades, comprometidas com a defesa e a promoção dos Direitos Humanos e da Justiça e Paz
Há alguns dias, representantes da Coordenação do Comitê conversaram com Dom Moacir Arantes, bispo auxiliar da Arquidiocese de Goiânia (que, posteriormente, relatou o teor da conversa a Dom  Washington Cruz, arcebispo de Goiânia) e com Pe. Daniel Lagni, pároco da Catedral, comunicando que o Ato Inter-religioso seria realizado em frente e na escadaria da Catedral, no dia 10, às 20 horas e que os participantes só entrariam na Igreja - que é do Povo - em caso de chuva.
Meus irmãos e minhas irmãs, pasmem! Chegamos na Catedral quando estava terminando a Celebração da Missa. No final da Celebração uma pessoa comunicou à Assembleia: “Por motivo de segurança, hoje não teremos o Grupo de Oração. A Igreja fechará mais cedo”. Com estas palavra, a Igreja preconceituosamente  “criminalizou” as Entidades e Movimentos Populares e chamou a todos e todas - eu também estou incluído - de “bandidos”: uma ofensa gravíssima. Que vergonha para a Arquidiocese de Goiânia!
Pessoas como essas podem ser chamadas de cristãos e cristãs? Com certeza não merecem esse nome. São os fariseus hipócritas de hoje, que fecham as portas da Catedral e não deixam Jesus entrar, na pessoa dos pobres e de todos aqueles e aquelas que lutam pelos Direitos Humanos, pela Justiça e Paz e por um Mundo Novo.
Imaginemos agora o contrário. Se Jesus fosse pároco da Catedral ou bispo de Goiânia, nesse caso como teria se comportado? Com certeza teria chegado ao local cedo, teria aberto as portas da Catedral, teria acesas todas as luzes e, sorrindo, teria acolhido de braços abertos - sem se importar com sua religião - a todos os irmãos e irmãs com muita ternura e muito amor. Com certeza, teria também participado do Ato Inter-religioso, anunciando a Boa Notícia do Reino de Deus, com um destaque especial para as Bem-Aventuranças. E o Papa Francisco? Também teria feito a mesma coisa. Lembremos os três Encontros Mundiais com os Movimentos Populares.
Se o pároco da Catedral e os bispos da Arquidiocese de Goiânia tivessem um mínimo de consciência do que significa ser cristãos hoje, teriam participado do Ato Inter-religioso, teriam feito as honras de casa e teriam acolhido a todos e a todas com a ternura de irmãos e irmãs. Quanta hipocrisia, quanta falsidade e quanto legalismo existem na Igreja!
     Jesus nasceu como “sem-teto” na manjedoura de um estábulo, porque não havia lugar para ele dentro de casa. Hoje, em Goiânia, Jesus nasce na rua, porque “por motivo de segurança” não há lugar para ele dentro da Catedral.
    Irmãos e irmãs, o que aconteceu no dia 10 deste mês de dezembro na Catedral de Goiânia foi um comportamento totalmente antievangélico. Foi uma violação dos Direitos Humanos em nome de Deus. Que Deus é esse? Não é certamente o Deus de Jesus de Nazaré. Desse Deus, que certos bispos e padres pregam, Jesus é ateu.
     O pároco da Catedral e os bispos da Arquidiocese de Goiânia deveriam pedir perdão publicamente por aquilo que aconteceu. Foi um grave pecado contra o mandamento do amor a Deus e aos irmãos e irmãs, principalmente aos pobres.
Ouçamos o convite do nosso irmão, o Papa Francisco a todos os cristãos e cristãs, incluindo padres e bispos.
“Soube que são muitos na Igreja aqueles que se sentem mais próximos dos Movimentos Populares. Muito me alegro por isso! Ver a Igreja (reparem!) com as portas abertas a todos vocês, que se envolve, acompanha e consegue sistematizar em cada Diocese, em cada Comissão ‘Justiça e Paz’, uma colaboração real, permanente e comprometida com os Movimentos Populares.
Convido-vos a todos, bispos, sacerdotes e leigos, juntamente com as organizações sociais das periferias urbanas e rurais, a aprofundar este encontro” (Discurso do Papa Francisco aos participantes do 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Santa Cruz de la Sierra - Bolívia, 09/07/15).
Se o pároco da Catedral e os bispos da Arquidiocese de Goiânia tivessem atendido ao convite do nosso irmão o Papa Francisco, teriam deixado as portas da Catedral abertas e oferecido generosa e gratuitamente todo o apoio logístico necessário para a realização do Ato Inter-religioso.
Pelo amor que tenho à Igreja, em especial à Igreja de Goiânia, diante de tudo o que aconteceu, a minha dor foi tão profunda, que - na noite entre o dia 10 e 11 - nem deitei. Só cochilei poucos minutos sentado, enquanto escrevia estas linhas, denunciando o fato.
Uma outra Igreja é possível e necessária. Lutemos por ela! A esperança nunca morre!



C:\Users\usuario\AppData\Local\Temp\Rar$DI01.497\1 - 1e66a188-e141-4ed4-8228-5a0763369cbb.jpg


C:\Users\usuario\AppData\Local\Temp\Rar$DI33.210\3 - 80045770-cddc-4906-9ded-ed73e231ae95.jpg



C:\Users\usuario\AppData\Local\Temp\Rar$DI00.391\2 - 6510a346-df55-446b-8a27-a089b53a202a.jpg



Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 12 de dezembro de 2018

12 comentários:

  1. Jesus ainda encontra resistência, mas ele vai nascer nos nossos corações essa atitude da Igreja de Goiânia (da Catedral), foi de abandonar/excluir os pequenos que isso não se repita.
    O nosso ato foi um sucesso SIM, pela nossa insistência e pela nossa causa ser a causa do Amor. DIREITOS HUMANOS NÃO SE EXIGE DE JOELHO, MAS DE PÉ E DEBAIXO DE CHUVA E SOL.

    ResponderExcluir
  2. Sentimos muito frio com aquela chuva.
    Era como se sentia os nossos irmãos moradores de rua que enfrenta essa realidade diariamente

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Agora mais do que nunca os pobres são excluídos. Espero tudo dessa arquidiocese.Frei Marcos sabemos do tb que o Sr tem, as Cebs aqui não tem voz nem vez. A hipocrisia mora aqui... Saudade do dom Fernando e dom Antonio esses sim era profeta de Deus.

      Excluir
  3. Observações perfeitas, frei Marcos! Lamento pelo ocorrido, mas tenha coragem, vocês estão no caminho certo do Caminho, pregando a verdade da Verdade, e para que todos tenham a vida que a Vida sonhou!

    ResponderExcluir
  4. Frei Marcos, o senhor é um Religioso com letra maiúscula. Tem todo o meu respeito.

    ResponderExcluir
  5. Graças a deus ainda existe homens como frei Marcos que defende a igreja de Jesus Cristo onde os pobres são protagonistas da história,que deus continue abençoando sua vida nessa incansável defesa da vida

    ResponderExcluir
  6. Há tempos que cristianos têm mais força do que os cristaos e os humanos por eles não crerem no Deus da Bíblia.

    ResponderExcluir
  7. Isso me entristece profundamento me pergunto que igreja é esse que critao São patabens Frei Marcos por ser a voz do pobre que sempre querem calar.

    ResponderExcluir
  8. Essa negativa só mostra a ideologia do medo nesses que negaram abrir as portas da catedral. O gesto mostra ausência de Jesus vida libertada e libertadora.

    ResponderExcluir
  9. Frei Marcos a sua coragem, a sua resistência são exemplos para nós nos espelharmos! Sigamos em frente.

    ResponderExcluir
  10. Não sabia disso.se foi isso que aconteceu,lamento muito.
    Como é difícil ser a Igreja que Cristo queria!

    ResponderExcluir
  11. Que vergonha, que absurdo. Não há justificativa para essa falta de sensibilidade. Parece que ainda não chegamos ao Concílio Vaticano II... Como cristão atento aos folhetos da missa dominical, ao jornal da arquidiocese, às homilias, às ações de eclesiásticos, religiosos e cristãos em geral, parece-me que, lamentavelmente, estamos longe do que, mesmo mesmo à distância, venho acompanhando e procurando viver desde o Vaticano II, as reuniões de Medellín e Puebla, o pontificado de Francisco... Não é, então, de se estranhar a omissão/adesão ingênua de cristãos, padres, bispos e cardeais a ideologias, projetos, discursos, ações, partidos e candidatos que distorcem as discussões e encaminhamentos das grandes questões nacionais... E a grande votação dos goianos, dos que se dizem cristãos, em candidatos que a todo momento invocam (em vão) o nome de Deus e, ao mesmo tempo, pregam o ódio, apoiam a tortura, a entrega das empresas, bens e riquezas nacionais aos grandes grupos internacionais; em candidatos que são contrários aos direitos humanos, ao direito dos índios, dos quilombolas, dos LGBTS, dos trabalhadores, dos camponeses... Prof. Ildeu Moreira Coêlho, 52 anos de magistério.

    ResponderExcluir

A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos