No dia 25 (sexta-feira) de janeiro último, a barragem 1 do complexo Mina de Feijão, da mineradora Vale, rompeu-se em Brumadinho (MG), a cerca de 60 km de Belo Horizonte, na região metropolitana. Quase treze milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério despencaram da barragem atingindo a área administrativa da Vale, comunidades da região, e o rio Paraopeba, na Bacia do Rio São Francisco.
A queda da barragem aconteceu pouco mais de três anos depois da do Fundão, em Mariana, até então considerada a maior tragédia-crime humano-ambiental da história do país.
Na noite do dia 27 (domingo), o Corpo de Bombeiros informou que pelo menos 60 pessoas morreram. Nos dois primeiros dias foram resgatadas 192 pessoas e no terceiro dia de buscas nenhum sobrevivente foi encontrado. O Instituto Médico Legal já identificou 19 corpos.
O Corpo de Bombeiros informou também que 292 pessoas são consideradas desaparecidas. A queda da barragem em Brumadinho já fez mais vítimas que o desastre de Mariana (19 mortos), em 2015.
A partir do dia 28 (segunda-feira) começaram a ser utilizados equipamentos trazidos por uma missão israelense. Segundo o governo de Minas Gerais, 136 militares israelenses (médicos, engenheiros, bombeiros e técnicos) - que chegaram ao Brasil na noite do dia 27 - já estão auxiliando nos trabalhos de buscas e salvamentos das vítimas da barragem.
A Justiça de Minas Gerais bloqueou R$ 11 bilhões da Vale para compensar os danos provocados pelo rompimento da barragem.
Que compensação é essa? Não é uma tapeação? Não é uma hipocrisia? Será que, bloqueando alguns bilhões de reais, tudo estará resolvido? Os responsáveis pela tragédia-crime da mineradora Vale e do Poder Público não deveriam ser presos, julgados e condenados?
Conforme foi divulgado, somente Minas Gerais conta com 450 barragens e 22 delas não têm garantia de estabilidade. O que está sendo feito pelas autoridades para evitar novos rompimentos de barragens?
No caso de Brumadinho (como no de Mariana e mais ainda), trata-se de uma tragédia-crime humano-ambiental “anunciada”, de uma perversidade e crueldade inimaginável: fruto de “um sistema econômico iníquo” (Documento de Aparecida - DA 385) ou - em outras palavras - de um "sistema nefasto", que considera "o lucro como o motivo essencial do progresso econômico, a concorrência como lei suprema da economia, a propriedade privada dos bens de produção como um direito absoluto, sem limites nem obrigações correspondentes" (São Paulo VI. Desenvolvimento dos Povos - PP 26).
O sistema capitalista neoliberal - uma violência estrutural permanente, institucionalizada e legalizada - coloca o “deus dinheiro” como um valor absoluto, a serviço do qual tudo pode e deve ser sacrificado, inclusive a vida do ser humano e de todo o meio ambiente. “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6, 24).
“Pergunto-me se somos capazes de reconhecer que estas realidades destrutivas correspondem a um sistema que se tornou global. Reconhecemos que este sistema impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza? Se é assim - insisto - digamo-lo sem medo: queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos... E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco”. É um sistema que “exclui, degrada e mata!”. “Queremos uma mudança nas nossas vidas, nos nossos bairros, no vilarejo, na nossa realidade mais próxima; mas uma mudança que atinja também o mundo inteiro, porque hoje a interdependência global requer respostas globais para os problemas locais. A globalização da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres, deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença” (Papa Francisco. 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Santa Cruz de la Sierra - Bolívia, 09/07/15).
Quanto sofrimento, quanta dor e quanta destruição na tragédia-crime de Brumadinho por causa da ganância por dinheiro dos poderosos e do descaso das autoridades!
Outro mundo é possível e necessário! Lutemos por ele! Como cidadãos e cidadãs conscientes, como homens e mulheres de fé não podemos perder a esperança. A vitória é nossa!
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 01 de fevereiro de 2019
Nenhum comentário:
Postar um comentário