No final da Assembleia anual (São Paulo, 21-24 de janeiro último), os Frades Dominicanos do Brasil (Província Frei Bartolomeu de Las Casas) divulgaram uma Mensagem na qual assumem o compromisso de uma atuação profética.
A Mensagem tem como título “Tenho de gritar, tenho de arriscar” e subtítulo “Dominicanos do Brasil reafirmam valor da Democracia, da Justiça e da Paz”.
Começa dizendo: “Assim como o Senhor dirigiu a Jeremias e colocou suas palavras na boca do profeta, nós Frades Dominicanos - reunidos em Assembleia - que recebemos do Senhor a vocação de sermos pregadores de sua Palavra, não podemos ficar indiferentes, ou mesmo com medo, de nos colocarmos à frente para atuar em defesa da vida, dos direitos dos pobres e dos direitos da Terra”.
Continua afirmando: “A fidelidade a Jesus e aos propósitos de São Domingos levaram historicamente a Família Dominicana a se envolver diretamente com a causa da Justiça e da Paz, que se traduziu, por exemplo, na defesa dos direitos dos indígenas na América Latina, na luta contra o apartheid na África do Sul ou na luta contra a ditadura militar no Brasil. Nomes como Frei Antônio Montesinos, Frei Bartolomeu de Las Casas, Frei Gil Vilanova, Frei Tito de Alencar, entre tantos outros, servem hoje de inspiração e convocação para que lutemos, mais uma vez, por esses valores. Com eles enfrentamos este momento conturbado da história nacional, no qual somos chamados a sermos luz no meio da escuridão (Mt 5, 13-16)”.
Manifesta, pois, o repúdio dos Frades Dominicanos a todas as medidas governamentais que violam os direitos dos pobres e da Mãe Terra.
“Em razão do mandamento do Senhor, pela fidelidade ao Evangelho e à herança que recebemos de nosso Pai São Domingos de Gusmão, repudiamos:
1. O rebaixamento dos direitos dos mais pobres decorrente de projetos de reformas previdenciárias e trabalhistas que reforcem as vantagens de categorias já privilegiadas.
2. A criminalização dos Movimentos Populares e das ONGs, em contradição com o princípio constitucional de fortalecimento da sociedade civil e da democracia;
3. A multiplicação do preconceito e da discriminação em relação a vários grupos sociais, especialmente à comunidade LGBTI+;
4. O esvaziamento da reforma agrária, a redução das terras indígenas e dos territórios quilombolas, em afronta aos direitos dos sem-terra, dos povos originários e dos afrodescendentes;
5. O desmatamento da Amazônia e a privatização do patrimônio público;
6. A liberação da posse de armas e, em breve, a flexibilização de seu porte.
Declara ainda: Como brasileiros, permaneceremos vigilantes e exigimos que o governo não poupe esforços para fortalecer a democracia e priorizar políticas que visem a melhoria dos serviços de saúde e educação, o combate ao desemprego e a redução da desigualdade social”.
Por fim, conclui: “Como cristãos, assumimos o compromisso de atuar profeticamente para que toda a nossa nação alcance o anseio de Jesus de “que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10, 10).
Como discípulos de Cristo, conclamamos todas as pessoas de fé, incluindo as autoridades da Igreja Católica, a assumirem sua missão evangélica, fazendo-se presença e voz atuante no anúncio da Justiça e da Paz;
Como Frades Dominicanos, fieis à nossa história, conclamamos todo o povo a reforçar a organização e o protagonismo social e revigorar as energias na luta em favor de uma sociedade democrática, justa, fraterna e solidária”. Que assim seja!
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 06 de fevereiro de 2019
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