O fato que vou narrar agora
- entre outros - mostra claramente que O Popular (Goiânia - GO) é um Jornal que
está a serviço dos interesses dos poderosos (como, infelizmente, a maioria dos
Jornais).
No dia 13 de fevereiro
passado enviei o seguinte e-mail ao editor de O Popular, Fabricio Cardoso: “Não
sei se será possível, mas tomo a liberdade de fazer um pedido. Como eu vivi
muito de perto - sofrendo com o povo - o caso do Parque Oeste Industrial,
gostaria muito que O Popular publicasse o meu artigo “Jônathas Silva esqueceu um ‘detalhe’: o despejo da Ocupação ‘Sonho Real’”, em resposta ao artigo de auto-exaltação
do professor Jônathas Silva (à época Secretário de Segurança Pública de Goiás) “Não
à politicagem” (O Popular, 03/02/21, p. 3) e em memória dos 16 anos do despejo
(acontecido no dia 16 de fevereiro de 2005).
No dia 15, Fabricio
respondeu: “Ficamos agradecidos pela disposição em publicar conosco, dando um
testemunho pessoal em nossas páginas. O único ponto é o tamanho do artigo, que
deve ser de 2,6 mil toques com espaço. O seu está com 3,5 mil. Podemos editar,
mas é de bom tom oferecer essa possibilidade ao autor”.
Atendendo à exigência
do Jornal, enviei novamente o artigo com tamanho reduzido e pedi que - se
houvesse necessidade de reduzi-lo mais ainda - me comunicasse. No mesmo dia
Fabricio respondeu: “Não se preocupe. Estourou um tantinho, mas está na margem
do ajustável”. Fiquei contente, certo de que O Popular publicaria o meu artigo.
No dia seguinte (16), tive
uma surpresa que me deixou profundamente indignado. Sem a minha autorização, o
artigo foi publicado como “carta ao leitor” com o título trocado e com mais alguns
cortes no texto. Sempre no mesmo dia - diante da minha indignação - Fabrício pediu
desculpa por não me ter avisado antes e me deu a seguinte justificativa: “No grupo de editores surgiu um argumento de
que do seu texto derivariam pedidos de respostas reiterados, com réplicas e
tréplicas. No esforço de preservarmos a pluralidade de temas nos artigos
(que ‘pluralidade’ é essa!), encaminhamos
a solução pela seção de cartas”.
Ora, eu pergunto: Por
que os defensores e bajuladores dos poderosos - esteios do sistema capitalista
neoliberal dominante - têm direito a “pedidos de respostas reiterados, com
réplicas e tréplicas” e os porta-vozes dos excluídos/as e descartados/as (que
nunca têm voz e nem vez) desse sistema iniquo não podem ter o mesmo direito?
Concretamente, no caso
em questão, por que o autor desse
escrito não tinha o direito de desmascarar um Secretário de Segurança Pública
que despejou de suas moradias (numa hora e 45 minutos) 14 mil pessoas - entre
as quais, muitas crianças e idosos - como se fossem ”lixo”?
A minha indignação foi tanta
que, num primeiro momento, pensei em mover uma ação judicial contra o Jornal O
Popular, que - do ponto de vista legal - não tinha o direito de transformar o artigo
numa “cartinha”, trocando o título e fazendo cortes no texto sem a minha
autorização.
Depois de refletir
melhor, sabendo que uma ação judicial exigiria de minha parte bastante tempo
(que não tenho) e sabendo - também e sobretudo - que as redes sociais têm hoje um alcance muito
maior que o Jornal, optei por escrever
esse artigo de denúncia, divulgando-o em nível nacional.
Termino com um testemunho: como ser humano e cristão, compartilhar a
experiência de vida dos irmãos e irmãs da Ocupação “Sonho Real” - verdadeiros
heróis e heroínas na defesa do direito à moradia digna - me edificou muito, e
me fortaleceu no desejo de estar sempre ao lado e do lado dos excluídos/as e
descartados/as, na construção de um Brasil Novo e de um Mundo Novo.
Lutemos por uma imprensa a serviço da Justiça e da Verdade!
Por fim, quero dizer que a minha denúncia é contra O Popular e seus
responsáveis, e não contra os/as jornalistas, que também são trabalhadores/as.
(Leia o artigo "Jonathas Silva esqueceu um 'detalhe': o desejo da Ocupação 'Sonho Real', em http://www.ihu.unisinos.br/606912-jonathas-silva-esqueceu-um-detalhe-o-despejo-da-ocupacao-sonho-real ou em: http://freimarcos.blogspot.com/2021/02/jonathas-silva-esqueceu-um-detalhe-o.html
Marcos
Sassatelli, Frade dominicano
Doutor
em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor
aposentado de Filosofia da UFG
E-mail:
mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 16 de março de 2021
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