Na madrugada do dia 25 (sábado)
deste mês de março, mais de 600 famílias ocuparam a Fazenda São Lucas no
município de Hidrolândia, Região Metropolitana de Goiânia - GO. A ação - afirma
o Movimento dos Trabalhadores/as Rurais Sem Terra (MST- GO) - quer que a
fazenda seja destinada à Reforma Agrária. Trata-se de uma fazenda que
anteriormente pertencia a um grupo, condenado em 2009 por crimes de exploração
sexual e era usada como cativeiro para
tráfico internacional de mulheres, sobretudo adolescentes. Desde 2016, a área
integra o patrimônio da União.
O objetivo da Ocupação é fazer
com que a área seja utilizada para a Reforma Agrária e o assentamento dessas
famílias.
O
MST informou que “a ação foi realizada por mulheres ligadas ao Movimento e
faz parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra, que ocorre
em todo país durante o mês de março”.
“Denunciamos
o crescimento da violência contra as mulheres do campo e esta área representa o
grau de violência que sofremos". E ainda: "Exigimos que esta área,
que antes era usada para violentar mulheres, seja destinada para o assentamento
dessas famílias, para que possamos produzir alimentos saudáveis e combater as
violências" (Patrícia Cristiane, da Coordenação Nacional do MST).
Na noite do mesmo dia 25, o
MST divulgou uma Nota à imprensa informando que a saída das 600 famílias da
área ocupada, ocorreu de forma pacífica e denunciando que - por se tratar de um
terreno da União - a Polícia Militar do Estado de Goiás (PM-GO) promoveu o
despejo fora de sua jurisdição e deverá ser processada.
Nos meios de comunicação e
nas redes sociais fala-se muito de “invasões” ou “invasores” de terras. Na
realidade, trata-se de “ocupações” (e
não de “invasões”) de terras que não têm
função social e que, portanto, são de quem delas precisa para morar e
trabalhar. Trata-se, pois, de exigir os
três direitos fundamentais de toda pessoa humana: terra, teto (moradia) e
trabalho (os “três T” do Papa Francisco).
Além de tudo - como já
afirmei outras vezes - todo despejo,
mesmo legal, é injusto, desumano, antiético e anticristão.
Parabéns às heroínas da Ocupação S. Lucas, da
Reforma Agrária Popular e de muitas outras lutas! Estamos com vocês. Contem
com o nosso apoio e a nossa solidariedade.
Em Goiás, “Invasões de terras entram na pauta da
Assembleia” (O Popular, 28/03/23, p. 2). Infelizmente é essa a preocupação da maioria
dos deputados estaduais.
A todos e todas que - como
esses deputados - estão preocupados com as “invasões” de terras, lembro que no
Brasil os verdadeiros “invasores” ou
os verdadeiros assaltantes são
aqueles que pertencem ao grupo dos 1 % da população, que se apropriaram de um
patrimônio equivalente ao da metade da população brasileira.
Termino com uma boa notícia.
“Neste ano, milhares de Mulheres Sem
Terra se mobilizaram em 23 Estados, no Distrito Federal, além de Zâmbia, na
África. Como parte da Jornada
Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra, elas realizaram acampamentos
pedagógicos, ocupações de terras, ações de solidariedade com doação de
alimentos e de sangue, feiras com produtos da Reforma Agrária, plantio de
árvores, espaços de formação e debates, e ocuparam as ruas do país, com marchas
em parceria com Movimentos e Organizações populares urbanas e rurais” (https://mst.org.br/2023/03/25/contra-exploracao-sexual-mulheres-sem-terra-ocupam-latifundio-em-goias/).
Unidos e unidas na
caminhada; esperançar e preciso.
Marcos
Sassatelli, Frade dominicanoDoutor em Filosofia
(USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)Professor aposentado
de Filosofia da UFGE-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia,
29 de março de 2023
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