terça-feira, 7 de novembro de 2023

Caminhada sinodal: 2021 - 2024 - 2ª Parte: Questionamentos e Propostas

 


Depois de destacar - na 1ª parte do artigo - os pontos positivos e significativos da caminhada sinodal até o momento, apresento agora alguns questionamentos e duas propostas: pequena contribuição de um irmão para que a Igreja (que somos todos e todas nós) se torne - cada vez mais - conforme o Evangelho de Jesus de Nazaré.

Questionamentos:


1.    Sobre a Igreja e o poder

  • Por que, na história, a Igreja cedeu à tentação do poder e incorporou em suas estruturas internas elementos do imperialismo, do feudalismo, do escravismo e do capitalismo totalmente contrários ao Evangelho?

  • Por exemplo, como pôde a Igreja no Brasil - em pleno século 19 - ter ensinado e pregado que a virtude do escravo era a submissão e a virtude do dono de escravos, a benevolência? Essa prática não foi - e continua sendo - repugnante, desumana e antiética?

  • A convivência e conivência com o poder não é o pecado estrutural (eclesial e, sobretudo, eclesiástico) da Igreja, farisaicamente legitimado, legalizado e institucionalizado?

2.    Sobre a Igreja e a hierarquia

  • Os seres humanos não são criados à imagem e semelhança de Deus? Não são todos filhos e filhas de Deus, iguais em dignidade e valor?

  • Então, por que na Igreja se fala tanto em hierarquia?

  • Se a dignidade e o valor estão na pessoa humana e não no cargo que ela ocupa ou no serviço que ela presta, pode-se falar de superior ou superiora? Por uma questão de raciocínio lógico e coerência ética, não se deveria falar de coordenador ou coordenadora?

  • Numa Igreja hierárquica pode haver verdadeira comunhão? A chamada  comunhão hierárquica não é uma enganação do povo?

3.    Sobre a Igreja e a democracia

  • Por que na Igreja temos cristãos e cristãs - sobretudo ministros ordenados - que fazem sempre questão de sublinhar que a “sinodalidade” não é “democracia” e que os Conselhos Pastorais são consultivos e não deliberativos?

  • Por que há tanto medo da democracia? A Igreja não ensina que a democracia é um valor humano e um direto humano? Ela não defende todos os valores humanos e todos os direitos humanos?

  • Ainda por uma questão de raciocínio lógico e de coerência ética, se os cristãos e cristãs devem ser plenamente ou radicalmente seres humanos, não deveriam ser também plenamente ou radicalmente democráticos? Não deveriam ser um modelo de democracia?

  • A sinodalidade (o caminhar juntos) não deveria ser democracia radical? É possível a sinodalidade sem democracia? Não é - mais uma vez - uma enganação o povo?

Há tempo, um conhecido jurista brasileiro (se não estou enganado: Fábio Konder Comparato) escreveu com certa ironia: “por incrível que pareça, a palavra ‘superior’ ainda é usada somente no meio militar e no meio religioso”. Meditemos!

A Igreja - nos ensina o Concílio Vaticano II - é o Povo de Deus. Por isso -  sempre por uma questão de raciocínio lógico e de coerência ética - proponho:   

  1.  Que a 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos - em sua 2ª sessão (outubro 2024) - crie o Sínodo da Igreja Povo de Deusa Assembleia Geral Ordinária do Sínodo da Igreja Povo de Deus, em todos os níveis: local, regional, nacional, continental e mundial. (Retomo aqui a proposta que já tinha apresentado para a 1ª sessão da Assembleia).
  2. Que essa mesma Assembleia crie também os Sínodos Setoriais da Igreja Povo de Deus (Bispos, Presbíteros, Diáconos, Agentes das Pastorais Sacramentais ou Catequistas e Agentes das Pastorais Sicioambientais) e suas  Assembleias Gerais Ordinárias.

Serão essas Assembleias Sinodais que, em seus níveis ou em suas áreas de atuação - com as luzes do Espírito Santo e num clima de Comunhão e Participação na Missão - tomarão as decisões necessárias para a caminhada da Igreja no mundo.

Como estamos longe ainda do jeito de ser de Jesus de Nazaré e do jeito de ser Igreja que Ele sonhou! Não podemos desanimar! Um dia chegaremos lá! Esperançar é preciso!


Foto: Vatican media



Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG

Goiânia, 07 de novembro de 2023


Nenhum comentário:

Postar um comentário

A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos