terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

ALEGO e TJ-GO: mais uma Imoralidade pública descarada

 


A falta de vergonha na cara da maioria (felizmente, não são todos/as) dos deputados/as da Assembleia Legislativa de Goiás (ALEGO) e dos juízes/as e desembargadores/as do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) não têm limites! Trata-se de uma verdadeira falcatrua, que clama a Deus por justiça!

A ALEGO “terá avião à disposição de deputados” (O Popular, 15/02/2 - Manchete, p. 4). Ela “obteve a autorização judicial para utilizar um avião Baron 95-B55, apreendido em operação da Polícia Federal contra tráfico de drogas, e que ficará à disposição dos deputados, com prioridade para o presidente Bruno Peixoto (UB). A direção do Legislativo afirma que a previsão de custo é de R$ 400 mil a R$ 500 mil anuais, incluindo seguro, manutenção e combustível, com voos de até 150 horas. Além disso, serão gastos R$ 91 mil para reparos e garantir o funcionamento da aeronave, com previsão de começar a voar em março” (Ib.).

E tem mais: “Frota da ALEGO chega a 122 veículos com acréscimo de 21 novos carros” (O Popular, 17 e 18/02/24 - Manchete, 1ª página), que são “15 sedãs e 6 caminhonetes no valor de R$ 2,56 milhões” O “custo total com os novos automóveis já soma R$ 16,7 milhões” (Ib. p. 4).

Infelizmente, a falta de vergonha na cara não terminou. Continua no Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO).

Em janeiro deste ano: “Mais de 770 servidores receberam valor acima do teto constitucional (R$ 41.650,92) no TJ-GO” (Ib. Manchete, p. 8). O TJ-GO “chegou a 490 juízes e 110 desembargadores com quantias superiores a R$ 41 mil, entre ativos e inativos; 180 alcançaram mais de R$ 100 mil” (Ib.).

Trata-se realmente de uma pouca vergonha deslavada, que não precisa de comentários. Os fatos falam por si. Os deputados estaduais da ALEGO e os juízes e desembargadores do TJ-GO conhecem muito bem a realidade social de Goiás e do Brasil.

Segundo dados aproximados - amplamente divulgados na imprensa e nas redes sociais - no Brasil:

- de um lado, 1% da população detém 49,6% dos bens do país e 10% ganham 59% da renda nacional total;

- de outro lado, 70 milhões de pessoas estão em estado de insegurança alimentar moderada, ou seja, em dificuldade para se alimentar; e 21 milhões de pessoas, em estado de insegurança alimentar grave, ou seja, em situação de fome permanente.

Pergunto:

Esse comportamento público, totalmente desumano e antiético, da maioria dos deputados/as da ALEGO e dos juízes/as e desembargadores/as do TJ-GO não é “um pontapé no cara dos/as Pobres”? Não são, eles e elas, irmãos e irmãs nossos, que não têm as mínimas condições de viver dignamente?

Nessa sociedade iníqua e perversa, a desigualdade e a injustiça - que aumentam cada dia mais - não se tornaram uma imoralidade estrutural, legalizada, institucionalizada e, muitas vezes, hipocritamente legitimada em nome de um falso deus e de uma falsa religião?

O que podemos esperar desses deputados/as da ALEGO que - enquanto os trabalhadores/as gastam mensalmente mais de 15% do salário mínimo no transporte - têm avião particular a seu serviço? Não é isso um roubo acintoso do dinheiro público, que é dinheiro dos Pobres?.

Como podemos acreditar que esses deputados/as - que, apesar de seus altos rendimentos mensais (cerca de R$ 30 mil, além de outros subsídios e gratificações), buscam sempre novas mordomias - estejam preocupados/as com a busca do bem comum desde os Pobres, construindo um Goiás e um Brasil mais justo, mais igualitário e mais fraterno? (Ah! Como seria diferente se a Política Partidária fosse um trabalho de voluntariado!).

E ainda: Como podemos acreditar que esses juízes e desembargadores do TJ-GO - que também, apesar de seus altos rendimentos mensais (cerca de R$ 80 mil, além de outros subsídios e gratificações) - estejam preocupados com a promoção e a defesa da Justiça desde os Pobres?

Hoje - como diz o Papa Francisco - os Pobres não são (somente) excluídos/as, mas descartados/as.

Por fim, só existe um caminho para com a graça de Deus - à curto, médio e longo prazo - mudar essa realidade: lembrar e viver o ditado “Povo unido e organizado jamais será vencido”! Daí a necessidade urgente de retomar e aprofundar o “trabalho de base” nos Movimentos Socioambientais Populares, nos Sindicatos de Trabalhadores/as, nos Partidos Políticos Populares, nas Entidades de Jovens Estudantes, nos Coletivos de Mulheres, nas Comunidades Eclesiais de Base e em todas as Organizações Socioambientais Populares.

Termino com uma advertência: deputados, juízes e desembargadores lembrem-se: Deus é justo!


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Marcos Sassatelli, Frade dominicano

Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)

Professor aposentado de Filosofia da UFG

E-mail: mpsassatelli@uol.com.br


 Goiânia, 19 de fevereiro de 2024


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A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos