(Continua a série de artigos sobre o Ser humano)
Para o Ser humano
histórico individual, “ser-no-mundo"
corpórea, bio-psíquica e espiritualmente ou pessoalmente, significa ainda “ser-no-mundo" sexuadamente.
Como totalmente
"corpo", totalmente "vida" (“bio-psique”) e totalmente
"espírito" ou “pessoa” - o Ser
humano individual é também totalmente "sexo" (sexuado). A "sexualidade" - que não se
reduz à "genitalidade", mas a inclui - é constitutiva da
individualidade (corporeidade, bio-psíquicidade e espiritualidade ou
pessoalidade) do Ser humano.
A orientação sexual
do Ser humano individual se desenvolve na adolescência, entre os 12 e os 16
anos aproximadamente. A maioria
dos Seres humanos individuais sente atração (ligação afetiva) pelo sexo
oposto (heterossexuais ou heteroafetivos); alguns (uma proporção bem menor),
pelo mesmo sexo (homossexuais ou
homoafetivos); e outros, por um sexo ou outro (bissexuais ou
biafetivos).
Desde os anos 1990,
para indicar as orientações sexuais minoritárias, usa-se a sigla LGBT
(lésbicas, gays, bissexuais, travestis - transexuais - transgêneros).
Posteriormente, a sigla passou por várias mudanças. Ultimamente, a mais usada é LGBTQIAPN+
(lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer, intersexo, assexuais,
pansexuais, não-binários e outras).
Toda orientação
sexual do Ser humano individual - mesmo que seja minoritária - deve ser
sempre tratada com respeito, igualdade e inclusão.
O mesmo diga-se da identidade
de gênero, que é a forma pela qual o Ser humano individual expressa o
gênero com o qual se identifica.
Na orientação sexual majoritária, o Ser
humano individual (homo) existe como homem (vir, macho) e mulher (mulier,
fêmea).
As Antropologias "tradicionais" e
algumas Antropologias "pós-tradicionais" (modernas) descuidaram deste
dado de fato, considerando-o secundário para a compreensão da existência
humana. É muito significativo o fato que algumas línguas dispõem de uma só
palavra para indicar o homem - macho e fêmea - e somente o macho. Isso demostra
o papel secundário da mulher e a não relevância da distinção homem-mulher (Cf.
GEVAERT, J. Il Problema dell'Uomo. Introduzione all'Antropologia filosofica.
Elle Di Ci, 19814, p. 80-81).
Para o Ser humano, o significado
"humano" de ser homem e mulher está essencialmente na relação entre
indivíduos corpóreos, bio-psíquicos e espirituais ou pessoais. O Ser humano
individual torna-se homem e mulher na reciprocidade do encontro, isto é, no
face a face corpóreo, bio-psíquico e espiritual ou pessoal do homem e da
mulher. Um homem é verdadeiramente homem (vir) - em sentido humano - diante da
mulher (mulier) e uma mulher é verdadeiramente mulher (mulier) - em sentido
humano - diante do homem (vir).
A sexualidade é o fato
de o Ser humano individual (homo) ser dois (vir e mulier) e se manifestar na
reciprocidade (na relação, no encontro inter-subjetivo). Não é o homem (vir) e
a mulher (mulier) que criam uma relação inter-individual (corpórea, bio-psíquica
e espiritual ou pessoal), mas quando o Ser humano individual (homo) se torna
relação (ser-para-um-outro), ele revela a mim a mim mesmo como homem (vir) ou
mulher (mulier) no face a face. É neste face a face que me reconheço como homem
(vir ou mulier) e sou reconhecido como tal.
Não é, portanto, a sexualidade que nos faz inventar o amor,
mas é o amor que nos revela a natureza da sexualidade. Neste contexto do
encontro inter-individual (corpóreo, bio-psíquico, espiritual ou pessoal)
manifestam-se todas as possibilidades de linguagem e de reconhecimento do
outro/a como outro/a, isto é, todas as possibilidades "humanas" das
componentes do homem e da mulher, como as diferenças fisiológicas, o erotismo,
as caracterizações psicológicas, as elaborações culturais, etc.
À sexualidade pertence
a fecundidade. Ela é predisposta pela estrutura biológica e fisiológica do
homem e da mulher, e se reveste de uma dimensão inter-individual (corpórea,
bio-psíquica espiritual ou pessoal) na vivência do reconhecimento mútuo como
homem e como mulher, e na instauração de um novo diálogo com um novo ser.
A estrutura
homem-mulher é, podemos dizer, a estrutura que mais profundamente manifesta
(exprime), no Ser humano, sua natureza inter-individual (corpórea, bio-psíquica,
espiritual ou pessoal) e é o caminho comum para realizá-la (Cf. GEVAERT, J., o.
c., p. 88-89).
Tudo isso - embora de
forma diferente - é válido também nas orientações sexuais minoritárias.
Um Ser humano individual é verdadeiramente ele mesmo - em sentido humano -
diante de outro Ser humano individual. Ora, reciprocidade se dá unicamente onde
há alteridade, ou seja, onde dois Seres humanos individuais existem plenamente.
(No próximo artigo continuaremos as nossas reflexões sobre a “relação”
que existe entre as dimensões do Ser humano individual e sobre o próprio Ser
humano individual como “presença”, “ausência” e “expressão”)
Compartilhando:
Para uma visão mais aprofundada e abrangente
dos temas tratados, veja o meu livro: Ética da Libertação: uma abordagem
filosófico-teológica. Lutas Anticapital, Marília - SP, 2023 (pág. 384).
Por estarmos nos últimos meses do Sínodo
sobre Sinodalidade, veja também o meu livro (pequeno): Rumo ao Sínodo do
Povo de Deus. Lutas Anticapital, Marília - SP, 2024 (pág.67).
(A fonte da Capa encontra-se na pág. 4 dos livros)
www.lutasanticapital.com.br/ - editora@lutasanticapital.com.br
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 28 de
agosto de 2024
O artigo foi publicado originalmente em:
https://portaldascebs.org.br/o-ser-humano-historico-individual-4/
(23 de agosto de 2024)
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