terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Vereadores de Goiânia: R$ 27.603,80 - Salário mínimo do Brasil: R$ 1.518,00

 


O título fala por si só! É uma afronta! É um pontapé na cara dos Pobres! É uma violência legalizada e institucionalizada que - nas pessoas com um mínimo de sensibilidade humana - suscita uma profunda indignação.

Uma realidade como essa monstra que o Sistema Capitalista Neoliberal - estruturalmente desumano e antiético - é de uma iniquidade e perversidade diabólicas. Sua hipocrisia é de fazer inveja aos fariseus!

60% dos trabalhadores brasileiros/as vivem com até um salário mínimo mensal: R$ 1.518,00; 70% ganham no máximo dois salários mínimos mensais: R$ 3.000,36.

Em total contraste com essa reaidade, os Vereadores de Goiânia, que já têm um salário mensal de R$ 20.702,85, no dia 26 deste mês de dezembro/24, aprovaram - um bônus de um terço do salário, ou seja, R$ 6.900,95, que - somado ao salário - dá a quantia de R$ 27.603,80.

Por incrível que pareça, só dois Vereadores do PT se posicionaram contra o bônus: Kátia Maria e Fabrício Rosa. Esse último criticou a manobra durante a sessão dizendo: "Se as vossas excelências (e que “excelências”!) não estão conseguindo trabalhar com todos os privilégios, com todas as benesses, tem alguma coisa errada na política". Parabéns Kátia e Fabrício!

No dia 27 deste mesmo mês, o bônus teve a aprovação da Comissão de Constituição e Justiça (e que “justiça”!) da Câmara Municipal.

Por fim, no dia 30 deste mesmo mês ainda, o bônus foi aprovado de forma definitiva no plenário da Câmara Municipal em sessão extraordinária, com os votos contrários dos dois  Vereadores acima citados e mais dois: Aava Santiago (PSDB) e Sargento Novandir (MDB).

Que vergonha! Não dá mais para aguentar! Precisamos dar um “basta” a essa podridão política! Um dia - acredito eu - chegaremos a um “basta radical”, transformando a “prática político-partidária” em prática de voluntariado como a “prática sindical” e a “prática popular”. Isso acontecendo, os Políticos - que certamente serão bem diferentes - viverão de seu trabalho profissional. Só serão pagos - com salário mensal - os trabalhadores e trabalhadoras que, na Política Partidária, prestarão serviços de secretária e de administração. Um dia chegaremos lá!

Atualmente, até a maioria dos Partidos Políticos - que se dizem de esquerda - são Reformistas. Seus Governos não têm a preocupação de abrir caminhos novos, dando os passos históricos possíveis, para mudar o Sistema Capitalista Neoliberal Dominante, mas querem simplesmente oferecer algumas “balinhas” aos Pobres - sempre com promessas de mais “balinhas” - para que fiquem contentes com sua “doçura”, não façam greves e não se revoltem contra o Sistema, que os mata aos poucos e - o que é pior - legalmente.

Com essa política, que visa “adoçar” a vida sofrida da grande maioria do nosso Povo, os Governos dos Partidos Políticos Reformistas acabam reproduzindo - com alguns retoques - o Sistema Capitalista Neoliberal dominante. Suas estruturas não ficam minimamente abaladas, mas - ao contrário - fortalecidas.

Os Governos dos Partidos Políticos Populares - para serem coerentes - não podem e não devem fazer “Aliança” - que é “Comunhão de Projetos” - com os Governos Capitalistas Neoliberais, cada dia mais crueis. Do ponto de vista ético, só podem e devem fazer - em casos especiais - “acordos pontuais” para aliviar e, se possível, resolver situações de degradação humana e de sofrimento, que não podem esperar a mudança do Sistema.

Apesar de todas as ambiguidades e traições políticas, temos consciência que - mesmo com suas diferenças - são somente as Forças Sociais Populares (Partidos Políticos Populares, Síndicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras, Movimentos Populares, Comitês ou Fóruns de Defesa dos Direitos Humanos e de Cuidado para com a Irmã Mãe Terra, Nossa Casa Comum e Outras) que, unidas e organizadas, têm condições de dar passos históricos concretos rumo ao Projeto Político Popular, igualitário, comunitário, justo, sem classes: um Projeto político de Irmãos e Irmãs, que é o verdadeiro Socialismo. É o Projeto pelo qual nós lutamos. É o Projeto de Jesus de Nazaré, que - infelizmente - a maioria dos que se dizem seus seguidores e seguidoras não vivem e, muitas vezes, deturpam para legitimar “hipócrita e religiosamente” um Projeto Político totalmente desumano.

Hoje - como diz o Papa Francisco - os Pobres não são somente “excluídos”, mas “descartados”, ou seja, não são nem “lixo reciclável”, mas “lixo descartável”.

A caminhada é longa, mas a luta continua!  Esperançar é preciso! Um Ano Novo muito Feliz e de muitas vitórias!

 

Marcos Sassatelli - Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br - Cel. e WA: (62) 9 9979 2282

https://freimarcos.blogspot.com/ - Goiânia, 31 de dezembro de 2024


Câmara Municipal de Goiânia - Setor Central - Goiânia - GO

                                    Foto: Vanessa Chaves/G1



sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Viver o Natal de Jesus hoje

 


“Eu vim para que todos e todas tenham vida e a tenham em abundância” (Jo10,10).  Essas poucas palavras nos dizem, de maneira muito clara, porque Jesus veio ao mundo e qual foi a sua missão. Fica a pergunta: que caminho Jesus escolheu para fazer isso?

Como já disse outras vezes - e não me canso de repetir - no Natal e em toda sua vida - Jesus teve lado, o lado dos Pobres: os oprimidos, os excluídos, os descartados e todos aqueles e aquelas que - na sociedade - não tinham voz e não tinham vez. Desde o nascimento até a morte na cruz, Jesus sempre se identificou e solidarizou com os Pobres, incluindo a Irmã Mãe Terra Nossa Casa Comum. Vejamos!

Tudo indica que - ainda no seio de sua mãe Maria e com seu pai José - Jesu foi “morador de rua”. Para cumprir o decreto de recenseamento, ordenado pelo imperador Augusto, “José, que era da família e descendência de Davi, subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, até à cidade de Davi, chamada Belém, na Judeia, para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida” (Lc 2,4-5). Antes que alguém - vendo a situação - abrisse um estábulo para Maria dar à luz - ela deve ter perambulado e dormido, com seu esposo José, nas ruas de Belém.                                                                                                                   

Com certeza, Jesus nasceu como “sem-teto”. Enquanto Maria e José estavam em Belém, “completaram-se os dias para o parto. Ela deu à luz seu filho primogênito. Envolveu-o em panos e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles dentro da casa” (Ib. 2,6-7).

Os primeiros que receberam a Boa Notícia do nascimento de Jesus foram os pastores - que eram os “sem-terra” da época - malvistos e desprezados pelos poderosos, porque ocupavam os campos com seus rebanhos de ovelhas. Segundo uma Lei daquele tempo, um pastor não podia ser testemunha em Tribunal. Não era considerado pessoa idônea.

O mensageiro de Deus disse aos pastores: “Não tenhais medo! Porque eis que lhes anuncio a Boa Notícia, uma grande alegria para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias e Senhor” (Ib. 2,10-11).

Jesus recebeu a visita dos magos, sábios e estudiosos da natureza, que representavam todos os povos de todas as culturas. “Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele e lhe prestaram homenagem” (Mt 2,11).

Ainda criança, Jesus foi “migrante e refugiado” no Egito por causa da ganância de Herodes que queria matá-lo. O mensageiro de Deus falou em sonho a José: “Levante-se, pegue o menino e a mãe dele, e fuja para o Egito. Fique aí até que eu lhe avise, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo. Ele se levantou, e de noite pegou o menino e a mãe dele, e foi para o Egito. E aí ficou até a morte de Herodes” (Mt. 2,13-15).

Em sua vida anônima, Jesus foi carpinteiro com seu pai José. A respeito de Jesus, as pessoas diziam: “De onde vêm essa sabedoria e esses milagres? Esse homem não é o filho do carpinteiro?” (Ib. 13,54-55). “Esse homem não é o carpinteiro?” (Mc 6,3).

Em sua vida pública - anunciando a Boa Notícia do Reino de Deus - Jesus foi sempre próximo e entranhadamente solidário com os Pobres. Como exemplo, cito o caso do homem com a mão direita seca. “Jesus disse ao homem: ‘Levante-se e fique no meio’. ‘Estenda a mão’. O homem assim o fez e sua mão ficou boa” (Lc 6,8.10).

Jesus denunciou, com profunda indignação, a hipocrisia dos doutores da Lei e dos fariseus. “Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e podridão! Assim também vocês: por fora parecem justos diante dos outros, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e injustiça” (Mt 23,27-28).

Na última Ceia, Jesus lavou os pés dos discípulos. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim (Jo 13,1). “Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos” (Jo 15,13).

Jesus foi preso e acusado de “subverter” o povo. “Achamos este homem fazendo subversão entre o nosso povo” (Lc 23,2). Foi morto na cruz como criminoso. “Jesus deu um forte grito: ‘Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito’. Dizendo isso, espirou” (Ib. 23,46).

Jesus - o Libertador, o Salvador, o Filho de Deus - ressuscitou dos mortos. Às mulheres, angustiadas por não ter encontrado o corpo de Jesus no túmulo, os mensageiros de Deus disseram: “Por que vocês estão procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui! Ressuscitou!’” (Ib. 24,5-6).

Jesus enviou o Espírito Santo aos discípulos e discípulas. “Ele lhes disse: ‘A paz esteja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês’. Tendo falado isso, soprou sobre eles e elas, dizendo: ‘Recebam o Espírito Santo’” (Jo 20,21-22).

Jesus Ressuscitado continua vivo na Comunidade dos seus seguidores e seguidoras. “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei aí no meio deles” (Mt 18,20). E ainda: “Eu estarei com vocês todos os dias, até o fim dos tempos” (Ib. 28,20).

Por fim, pergunto: O que significa viver o Natal de Jesus no mundo de hoje, tão desigual e tão injusto? Se somos seguidores e seguidoras de Jesus, não devemos fazer hoje o mesmo caminho que Jesus fez em sua época? Não devemos “ter o lado dos Pobres” para que - a partir deles e delas e junto com eles e elas - todos e todas “tenham vida e vida em abundância”?

Para a Igreja, a “Opção pelos Pobres” não é “preferencial” (uma alternativa entre duas ou mais alternativas), mas é única; é o caminho “desde a manjedoura”, o caminho de Jesus, o caminho que leva à Vida, à verdadeira Vida. “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6)). Todos e todas - inclusive os ricos - são convidados e convidadas a mudar de vida, praticar a partilha e entrar nesse caminho.

Que o Natal de Jesus seja hoje o nosso Natal! São estes os meus sinceros votos a todos os Irmãos e Irmãs, Companheiros e Companheiras de caminhada. Um Ano 2025 de muitas lutas e vitórias.

 

Marcos Sassatelli - Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br - Cel. e WA: (62) 9 9979 2282

https://freimarcos.blogspot.com/ - Goiânia, 20 de dezembro de 2024


Paróquia Nossa Senhora da Terra - Jardim Curitiba 3 - Goiânia - GO - 2021


segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Ditadura nunca mais!



 O dia 10 de dezembro deste ano de 2024 - Dia Internacional dos Direitos Humanos - foi um Dia de Mobilização Nacional.

Milhares de pessoas foram às ruas “em mais de 40 cidades do norte ao sul do país para participarem dos Atos ‘Sem Anistia’. Os manifestantes pediram a punição para os que tentaram dar um Golpe de Estado, além de planejarem os assassinatos do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes” (https://www.cut.org.br/noticias/sem-anistia-nas-ruas-do-pais-manifestantes-pedem-prisao-para-os-golpistas-da65)

Os principais objetivos da Mobilização Nacional foram: combater o golpismo e a violência policial (que aumenta a cada dia que passa); defender a democracia; prender os golpistas e lutar contra a carestia da vida

Sem anistia para os golpistas! Prisão para Bolsonaro e seus cúmplices, já! Pela vida, pela justiça, pela democracia e pela soberania popular!

Em Goiânia, o evento foi convocado pelo Fórum Goiano em Defesa dos Direitos, da Democracia e da Soberania, e pelas Centrais Sindicais Frente Brasil Popular e Povo Sem Medo. Aconteceu às 16h, em frente ao prédio do Ministério Público Federal (MPF), com boa participação.

Além de outros, os temas destacados pelos que se manifestaram foram: o respeito às instituições democráticas e à soberania do voto popular. Um carro de som foi estacionado na frente do MPF, chamando a atenção das pessoas que passavam pela avenida Olinda, ao lado da Assembléia Legislativa do Estado de Goiás (ALEGO).

A Central Única dos Trabalhadores e das Trabalhadoras de Goiás (CUT-GO) marcou presença. Foi representada por seu vice-presidente, Ademar Rodrigues, e por seu secretário de administração e finanças, Napoleão Batista, com falas contundentes em defesa do Estado democrático de direito e da ordem constitucional democrática, contra a ação criminosa dos golpistas: Bolsonaro e companhia limitada.

Devido ao espaço de um artigo, entre as muitas cidades onde aconteceu o Ato, cito - além de Goiânia - somente São Paulo. No Ato organizado pela CUT, as Frentes Brasil Popular e Povo sem Medo e outros Movimentos Sociais Populares, o secretário de Relações do Trabalho, da CUT Brasil, Sérgio Antiqueira declarou que a sociedade não tolera mais nenhum tipo de anistia.

“O Brasil já é refém disso, Golpe após Golpe. Então, a gente não pode permitir que esse criminoso, que é o Bolsonaro, a quadrilha dele, os militares envolvidos, de todo o staff dele promovam um Golpe no Brasil, e para que isso não aconteça de novo a gente precisa deixar um recado: sem anistia!”. 

Concluiu dizendo: “O mercado financeiro está fazendo pressão contra o governo Lula, e a gente não pode deixar o governo Lula refém do mercado, dos banqueiros, e do agronegócio. Nós temos que fazer esse enfrentamento, e é assim na rua que a gente consegue” (Maria Dias, CUT-SP). 

Por fim, uma reflexão que considero fundamental. No Sistema Capitalista Neoliberal - estruturalmente irracional, desumano e antiético - o chamado “Estado Democrático de Direito” é meramente formal

Na realidade - apesar dos Movimentos Sociais Populares e Sindicatos de Trabalhadores/as conscientes e organizados - a grande maioria do nosso Povo continua ainda ideologicamente oprimida e dominada. O opressor está hospedado agradavelmente na cabeça do oprimido.

Diversas vezes eu ouvi trabalhadores e trabalhadoras, que - bem intencionados e por falta de consciência crítica - diziam: “eu não voto em pobre porque - por ser pobre - se ganhar, vai roubar mais; eu voto em rico, porque - por ser rico - se ganhar, vai roubar menos”. Exemplo: o resultado das últimas Eleições municipais.

Mesmo com todas essas limitações ideológicas, na Democracia Formal do Sistema Capitalista Neoliberal (o que não acontece num Sistema Ditatorial imposto com violências, mortes e Golpe de Estado), temos a possiblidade de realizar um Trabalho de Base de conscientização e libertação: nos Partidos Políticos Populares, nos Sindicatos de Trabalhadores/as, nos Movimentos Sociais Populares e outras Organizações Populares, e também na Igreja, sobretudo nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e nas Pastorais Sociais. 

Com esse trabalho - mesmo nas contradições históricas existentes - podemos abrir caminhos novos que - a médio e longo prazo - levam à Democracia Popular (a verdadeira Democracia) e, consequentemente, ao Sistema Político Popular.

É a nossa meta, é o nosso ideal! A luta continua! Um dia chegaremos lá!


Marcos Sassatelli  Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
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A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos