sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Viver o Natal de Jesus hoje

 


“Eu vim para que todos e todas tenham vida e a tenham em abundância” (Jo10,10).  Essas poucas palavras nos dizem, de maneira muito clara, porque Jesus veio ao mundo e qual foi a sua missão. Fica a pergunta: que caminho Jesus escolheu para fazer isso?

Como já disse outras vezes - e não me canso de repetir - no Natal e em toda sua vida - Jesus teve lado, o lado dos Pobres: os oprimidos, os excluídos, os descartados e todos aqueles e aquelas que - na sociedade - não tinham voz e não tinham vez. Desde o nascimento até a morte na cruz, Jesus sempre se identificou e solidarizou com os Pobres, incluindo a Irmã Mãe Terra Nossa Casa Comum. Vejamos!

Tudo indica que - ainda no seio de sua mãe Maria e com seu pai José - Jesu foi “morador de rua”. Para cumprir o decreto de recenseamento, ordenado pelo imperador Augusto, “José, que era da família e descendência de Davi, subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, até à cidade de Davi, chamada Belém, na Judeia, para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida” (Lc 2,4-5). Antes que alguém - vendo a situação - abrisse um estábulo para Maria dar à luz - ela deve ter perambulado e dormido, com seu esposo José, nas ruas de Belém.                                                                                                                   

Com certeza, Jesus nasceu como “sem-teto”. Enquanto Maria e José estavam em Belém, “completaram-se os dias para o parto. Ela deu à luz seu filho primogênito. Envolveu-o em panos e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles dentro da casa” (Ib. 2,6-7).

Os primeiros que receberam a Boa Notícia do nascimento de Jesus foram os pastores - que eram os “sem-terra” da época - malvistos e desprezados pelos poderosos, porque ocupavam os campos com seus rebanhos de ovelhas. Segundo uma Lei daquele tempo, um pastor não podia ser testemunha em Tribunal. Não era considerado pessoa idônea.

O mensageiro de Deus disse aos pastores: “Não tenhais medo! Porque eis que lhes anuncio a Boa Notícia, uma grande alegria para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias e Senhor” (Ib. 2,10-11).

Jesus recebeu a visita dos magos, sábios e estudiosos da natureza, que representavam todos os povos de todas as culturas. “Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele e lhe prestaram homenagem” (Mt 2,11).

Ainda criança, Jesus foi “migrante e refugiado” no Egito por causa da ganância de Herodes que queria matá-lo. O mensageiro de Deus falou em sonho a José: “Levante-se, pegue o menino e a mãe dele, e fuja para o Egito. Fique aí até que eu lhe avise, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo. Ele se levantou, e de noite pegou o menino e a mãe dele, e foi para o Egito. E aí ficou até a morte de Herodes” (Mt. 2,13-15).

Em sua vida anônima, Jesus foi carpinteiro com seu pai José. A respeito de Jesus, as pessoas diziam: “De onde vêm essa sabedoria e esses milagres? Esse homem não é o filho do carpinteiro?” (Ib. 13,54-55). “Esse homem não é o carpinteiro?” (Mc 6,3).

Em sua vida pública - anunciando a Boa Notícia do Reino de Deus - Jesus foi sempre próximo e entranhadamente solidário com os Pobres. Como exemplo, cito o caso do homem com a mão direita seca. “Jesus disse ao homem: ‘Levante-se e fique no meio’. ‘Estenda a mão’. O homem assim o fez e sua mão ficou boa” (Lc 6,8.10).

Jesus denunciou, com profunda indignação, a hipocrisia dos doutores da Lei e dos fariseus. “Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e podridão! Assim também vocês: por fora parecem justos diante dos outros, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e injustiça” (Mt 23,27-28).

Na última Ceia, Jesus lavou os pés dos discípulos. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim (Jo 13,1). “Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos” (Jo 15,13).

Jesus foi preso e acusado de “subverter” o povo. “Achamos este homem fazendo subversão entre o nosso povo” (Lc 23,2). Foi morto na cruz como criminoso. “Jesus deu um forte grito: ‘Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito’. Dizendo isso, espirou” (Ib. 23,46).

Jesus - o Libertador, o Salvador, o Filho de Deus - ressuscitou dos mortos. Às mulheres, angustiadas por não ter encontrado o corpo de Jesus no túmulo, os mensageiros de Deus disseram: “Por que vocês estão procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui! Ressuscitou!’” (Ib. 24,5-6).

Jesus enviou o Espírito Santo aos discípulos e discípulas. “Ele lhes disse: ‘A paz esteja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês’. Tendo falado isso, soprou sobre eles e elas, dizendo: ‘Recebam o Espírito Santo’” (Jo 20,21-22).

Jesus Ressuscitado continua vivo na Comunidade dos seus seguidores e seguidoras. “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei aí no meio deles” (Mt 18,20). E ainda: “Eu estarei com vocês todos os dias, até o fim dos tempos” (Ib. 28,20).

Por fim, pergunto: O que significa viver o Natal de Jesus no mundo de hoje, tão desigual e tão injusto? Se somos seguidores e seguidoras de Jesus, não devemos fazer hoje o mesmo caminho que Jesus fez em sua época? Não devemos “ter o lado dos Pobres” para que - a partir deles e delas e junto com eles e elas - todos e todas “tenham vida e vida em abundância”?

Para a Igreja, a “Opção pelos Pobres” não é “preferencial” (uma alternativa entre duas ou mais alternativas), mas é única; é o caminho “desde a manjedoura”, o caminho de Jesus, o caminho que leva à Vida, à verdadeira Vida. “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6)). Todos e todas - inclusive os ricos - são convidados e convidadas a mudar de vida, praticar a partilha e entrar nesse caminho.

Que o Natal de Jesus seja hoje o nosso Natal! São estes os meus sinceros votos a todos os Irmãos e Irmãs, Companheiros e Companheiras de caminhada. Um Ano 2025 de muitas lutas e vitórias.

 

Marcos Sassatelli - Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br - Cel. e WA: (62) 9 9979 2282

https://freimarcos.blogspot.com/ - Goiânia, 20 de dezembro de 2024


Paróquia Nossa Senhora da Terra - Jardim Curitiba 3 - Goiânia - GO - 2021


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A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos