segunda-feira, 31 de março de 2025

A verdadeira “Vox Patris”

 


     No Brasil, as desigualdades e as injustiças são gritantes. Segundo alguns dados amplamente divulgados na imprensa e nas redes sociais:

·         1% da população detém 63% da riqueza nacional.

·         50% dos mais pobres detêm apenas 2% dessa riqueza.

·         Mais de 45 milhões de pessoas vivem em condições precárias e indignas de moradia.

·         Cerca de 330 mil pessoas vivem em situação de rua.

·         Cerca de 1,05 milhão de pessoas vivem em condições análogas à escravidão. 

·         Cerca de 7,5 milhões de trabalhadores e trabalhadoras são desempregados.

·   60% dos trabalhadores e das trabalhadoras recebem até um salário-mínimo por mês (atualmente: R$ 1.518,00).                                                                                                     

34 pessoas em condições análogas à escravidão resgatadas                               Condições precárias e indignas de moradia             
 Imagem: Sérgio Carvalho/Inspeção do Trabalho                                                       www.brasildefato.com.br                  


Nessa realidade de desigualdades e injustiças, na cidade de Trindade (GO – Brasil) foi iniciado em 2012º complexo religioso do (segundo) Santuário Novo (cujas obras estão atrasadas), que foi orçado em R$ 100 milhões e deve ter o custo final de R$ 1,4 bilhão (cf. Folhas de S. Paulo, 04 de setembro de 2020).

A Nova Basílica do Divino Pai Eterno, cuja previsão inicial de conclusão era 2022, ainda está em construção. Será a segunda maior do país e a terceira maior do mundo, com uma área construída de 145 mil metros quadrados. O templo terá capacidade para 8 mil pessoas sentadas.

Em maio próximo - antes da Festa deste ano de 2025 (27/06 - 06/07) será instalado, na Basílica do Divino Pai Eterno, um sino que pesa 55 toneladas; tem 4 metros de altura e 4,5 metros de diâmetro. Foi fabricado por uma empresa polonesa; é o maior sino do mundo que badala e custa R$ 17 milhões (alguns dizem R$ 18 milhões), sem contar os gastos com o transporte e outros. O sino irá compor um carrilhão de 37 sinos no total, também vindos da Polônia.

Como cristão que sou e que - apesar de minhas limitações - procuro ser sempre mais, fiquei profundamente indignado com toda essa história do complexo “religioso” do (segundo) Santuário Novo e do maior sino do mundo. Por isso, denúncio:

·         Trata-se de um complexo “religioso” antievangélico que, ao mesmo tempo, é um pontapé na cara dos pobres.

·         A voz do maior sino do mundo não é a “Vox Patris” (Voz do Pai), mas uma amostra concreta do “pecado estrutural” da Igreja.

A verdadeira “Vox Patris” (Voz do Pai) é a voz dos nossos irmãos e irmãs que vivem nas situações desumanas e injustas acima descritas e em muitas outras semelhantes.

A Igreja Católica no Brasil (e não só no Brasil) - com o apoio dos membros de alguns Movimentos Eclesiais e, sobretudo, de ministros ordenados (diáconos, padres e bispos) -desconsiderou todo trabalho pastoral de renovação do pós-Concílio Vaticano II e da pós-Conferência de Medellín. Voltou a ser uma Igreja conservadora e triunfalista, que quer se impor pela ostentação, pelo prestígio e pelo poder, inclusive financeiro. O complexo do (segundo) Santuário Novo de Trindade - GO, com o maior sino do mundo, é uma prova disso.

A Igreja - como estrutura de poder - não tem nada a ver com o Evangelho de Jesus de Nazaré e com a vida de irmãos e irmãs das Primeiras Comunidades Cristãs..

Ora, apesar do pecado estrutural da Igreja e dos nossos pecados pessoais de cristãos e cristãs, temos - nessa mesma Igreja - muitas pessoas santas. Digo isso baseado na minhã longa experiência pastoral: nas CEBs, nas Paróquias da periferia de Goiânia, nas Pastorais Socioambientais, no trabalho de Coordenador  (Vigário Geral e Vigário Episcopal) da Pastoral da Arquidiocese de Goiânia. E também, na minha longa experiência junto aos Movimentos Socioambientais Populares e no ensino universitário (UFG  e outros Institutos).

A Igreja, como Instituição, precisa viver em processo de conversão permanente e ter sempre presente que Jesus é o Caminho a Verdade e a Vida. Enquanto Caminho, Jesus nasceu como “sem-teto” na manjedoura de um estábulo; esteve sempre do e ao lado dos Pobres e morreu na Cruz por amor, acusado de “subverter” o Povo. Enquanto Verdade, Jesus nos ensinou que - Nele - todos e todas somos irmãos e irmãs, filhos e filhas do mesmo Pai-Mãe, que é Deus, no Amor (Espírito Santo). Enquanto Vida, Jesus se entregou totalmente aos Pobres, morrendo na Cruz por amor, para que - a partir dos Pobres - todos e todas tenham vida e vida em plenitude. Ninguém tem maior amor do que aquele ou aquela que dá a vida pelas pessoas amadas.

Jesus ressuscitou, está vivo, presente no meio de nós e continua sua missão, caminhando com todos e todas que queremos ser de verdade seus seguidores e seguidoras.

Uma outra Igreja Cristã Católica é possivel e necessária! Lutemos por ela! A esperança nunca morre! Ouçamos a verdadeira Voz do Pai. Feliz Páscoa a todos e todas!

(Vejam também o meu artigo: “Trindade: um Santuário faraônivo” de 17 de dezembro de 2021, em: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/615350-trindade-um-santuario-faraonico ou no Blog do Frei Marcos).

(No final, um esclarecimento: o meu juízo ético - humano e cristão - é sobre fatos e situações concretas. A consciência das pessoas envolvidas nesses fatos e situações só Deus conhece e só Deus pode julgar).


 https://www.paieterno.com.br/2025/01/03/                          Foto: picture-alliance/PAP/J. Graczynski            

                 novo-santuario-sendo-organizado-para-romaria-2025/   

       



Marcos Sassatelli, Frade Dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor posentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br - Cel. e WA: (62) 9 9979 2282
https://freimarcos.blogspot.com

Goiânia, 29 de março de 2025

domingo, 23 de março de 2025

Fraternidade-Sororidade e Ecologia Integral (2ª parte)

 

“Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31)


O Texto-Base da Campanha da Fraternidade-Sororidade 2025 - na Introdução - depois de lembrar que a palavra Ecologia deriva do grego “oikos” (casa), afirma: “O desafio para nossa conversão nesta Quaresma é cuidar da casa: da casa interior de cada um de nós (espiritualidade), da casa em que habitamos (família), da  casa em que passamos grande parte do nosso tempo (trabalho), da casa em que nos relacionamos (cidade) etc. e da nossa Casa Comum (o Planeta Terra), pois nela, tudo está interligado” (16).

 

Embora o texto apresente de maneira clara as diversas casas das quais o ser humano - homem e mulher - deve cuidar, o texto menciona a “espiritualidade” somente quando fala da “casa interior de cada um de nós”.

 

Como irmão, faço uma crítica construtiva: o texto revela uma visão teológica de espiritualidade intimista, que não está de acordo com o Evangelho de Jesus de Nazaré e nem com a vida das Primeiras Comunidades Cristãs. Essa visão leva - mesmo que seja (ou, possa ser) em boa fé - a um comportamento, que costumo chamar de “egoísmo religioso”, muito presente na Igreja hoje. “Eu, eu, eu te louvo; eu, eu, eu te agradeço; eu, eu, eu te peço...”. Jesus - ensinando aos discípulos a orar - não falou “Pai meu”, mas “Pai Nosso”.

 

A espiritualidade humana, a espiritualidade cristã (radicalmente humana) e toda verdadeira espiritualidade abrange o ser humano - homem e mulher - todo, em todas suas dimensões e relações: no mundo com o mundo, no mundo com os outros e as outras, e no mundo com o Outro Absoluto (Deus).

 

Sempre como irmão, faço agora alguns questionamentos, que causam muita dor no coração de quem como eu (um “jovem” de quase 86 anos) viveu intensamente e com muito entusiasmo o tempo da renovação da Igreja do pós-Concílio Vat. II e da pós-Conferência de Medellín.

  • Por que a Igreja Católica no Brasil - quando diz que o modelo econômico brasileiro (às vezes chamado modelo de desenvolvimento capitalista) produz muitas desigualdades e injustiças socioambientais gritantes, juntamente com o envenenamento e a profanação da Irmã Mãe Terra, Nossa Casa Comum - não diz também, de maneira clara e profética, que esse modelo se chama hoje sistema econômico capitalista neoliberal ou ultraneoliberal, estruturalmente perverso, cruel, irracional, desumano, antiético e anticristão ?
  • Por que a Igreja Católica no Brasil - nestes últimos tempos - não cita mais, em seus Documentos e nem na Bibliografia ou Lista das Siglas (a não ser muito raramente um ou outro Texto) o Concílio Vaticano II e a Conferência de Medellín?
  • Por que a Igreja Católica no Brasil não fala mais (ou fala muito pouco) da Igreja Povo de Deus e do que isso significa para nós hoje? Na Igreja Povo de Deus, todos e todas somos filhos e filhas do mesmo Pai-Mãe que é Deus, irmãos e irmãs em Cristo e temos o mesmo valor. Pergunto: existe uma dignidade maior do que essa? Na visão de Igreja, Povo de Deus, que se baseia no Evangelho e na vida das Primeiras Comunidades Cristãs, não existem classes. Não existem superiores e inferiores ou subordinados, mas somente coordenadores e coordenadoras. A Igreja que Jesus quis e quer não é uma pirâmide, mas um círculo.
  • Só “existem dons diferentes, mas o Espírito é o mesmo; serviços diferentes, mas o Senhor é o mesmo; modos diferentes de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos e em todas. Cada um e cada uma recebe o dom de manifestar o Espírito para o bem de todos e de todas” (1Cor 4-7).
  • Como estamos longe de uma Igreja realmente de acordo com o Evangelho e a vida das Primeiras Comunidades Cristãs!
  • Por que hoje, na Igreja Católica no Brasil, quase ninguém conhece e fala da visão de Paróquia e de Comunidade de Base da Conferência de Medellín, que é uma releitura do Concílio Vaticano II para a América Latina e o Caribe?
  • Para a Conferência de Medellín, a Paróquia é “um conjunto pastoral unificador de Comunidades de Base” (Med. XV, 13) e a Comunidade de Base é “o primeiro e fundamental núcleo eclesial” ou “a célula inicial da estrutura eclesial” (Ib. 10).
  • A visão de Igreja hoje não é ou não voltou a ser uma visão clerical, que não tem nada a ver com o Evangelho e o jeito de ser das Primeiras Comunidades Cristãs? Meditemos!
  • “Aprouve a Deus salvar e santificar os seres humanos (homens e mulheres), não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles e elas, mas constituindo­-os em Povo que O conhecesse na verdade e O servisse santamente” (LG, 9)
  • Por fim, o conceito de Ecologia Integral, presente na Encíclica Laudato Si’, destaca que a responsabilidade do ser humano - homem e mulher - de cuidar da Casa Comum, promovendo justiça social e ambiental, é parte integrante da ética e espiritualidade cristã (ética e espiritualidade radicalmente humanas).

      Parabéns a todos os companheiros e a todas as companheiras, que - como irmãos e irmãs -                 lutam por um Mundo Novo. Feliz Páscoa!


 




https://cnbbsul.org.br/cebs-igreja-em-saida-na-busca-de-vida-plena-para-todos-e-todas-       

regional-sul-i-presente-no-15o-intereclesial-das-cebs/




 

Marcos Sassatelli, Frade Dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor posentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br - Cel. e WA: (62) 9 9979 2282
https://freimarcos.blogspot.com


Goiânia, 21 de março de 2025


Fraternidade-Sororidade e Ecologia Integral (1ª parte)

 

“Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31)


·         A palavra “homem” (em latim: “homo”) designa o ser humano “macho” (em latim: “vir”) e o ser humano “fémea” (em latim: “mulier”) está subentendido (não expressado, presente de modo implícito).

·         A palavra “fraternidade” designa a comunhão de amor entre os “irmãos” (em latim: “fratres”) e as irmãs (em latim: “sorores”) estão subentendidas.

A Igreja - em sua linguagem e em sua prática - incorporou a cultura machista da sociedade e a aceita como sendo “normal”.

A Campanha da Fraternidade visa aprofundar a comunhão de amor entre irmãos (fratres), refletindo sobre um tema da atualidade (neste ano de 2025, sobre a Ecologia Integral), mas as irmãs (sorores) estão subentendidas.  

Pergunto: não é hora de abrir caminhos novos que levem à mudança dessa mentalidade cultural machista?

Para que os Irmãos e as Irmãs sejam tratados com igualdade - a começar pelo uso da linguagem - a Campanha da Fraternidade não deveria ser chamada “Campanha da Fraternidade-Sororidade” (Fratres e Sorores) ou, simplesmente, “Campanha da Irmandade” (Irmãos e Irmãs)?

(As palavras "soror" e "sorores" são palavras latinas, que são usadas também na língua portuguesa; as palavras “frater” e “fratres” são palavras latinas, que na língua portuguesa se traduzem com as palavras “Frade” e “Frades”). 

Após essas considerações, apresento o texto bíblico sobre a criação do ser humano, homem e mulher: “Deus disse: ‘Façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança. Que ele cuide dos peixes do mar, das aves do céu, dos animais domésticos, de todas as feras e de todos os répteis que rastejam sobre a terra’. E Deus criou o ser humano à sua imagem; à imagem de Deus ele o criou; e os criou macho e fémea. E Deus os abençoou e lhes disse: ‘Sejam fecundos, multipliquem-se, encham e cuidem da terra; cuidem dos peixes do mar, das aves do céu e de todos os seres vivos que rastejam sobre a terra’. E Deus disse: ‘Vejam! Eu entrego a vocês todas as ervas que produzem semente e estão sobre toda a terra, e todas as árvores em que há frutos que dão semente: tudo isso será alimento para vocês. E para todas as feras, para todas as aves do céu e para todos os seres que rastejam sobre a terra e nos quais há respiração de vida, eu dou a relva como alimento’. E assim se fez. Deus viu tudo o que havia feito, e tudo era muito bom” (Gn 1, 26-31).

Tendo por base o texto - acima citado - faço agora algumas reflexões críticas a respeito da Campanha da Fraternidade (pessoalmente, já acrescentei: Sororidade) e Ecologia Integral (CFS-2025).

No Projeto de Deus, a irmã Mãe Terra Nossa Casa Comum é como um Jardim. O ser humano, homem e mulher - criado à imagem e semelhança de Deus - integra esse Jardim e - por ser sua parte pensante - é chamado a ser também seu jardineiro e sua jardineira.

A desobediência do ser humano, homem e mulher, ao Projeto de Deus - desrespeitando, envenenando e destruindo a Irmã Mãe Terra Nossa Casa Comum (em nome, sobretudo hoje, do deus capital ou deus dinheiro) - é o pecado socioambiental (socioeconômico, sociopolítico, socioecológico, sociocultural e sociorreligioso) estrutural do ser humano, que inclui também seus pecados pessoais.

No Projeto de Deus - que é o Seu Reino - os seres humanos, homens e mulheres, são chamados e chamadas a viver sempre mais profundamente o sentido de sua vida, na vida e com a vida da Irmã Mãe Terra Nossa Casa Comum. 

Como ideal, os cristãos e cristãs devem ser radicalmente (plenamente) seres humanos, mas sempre na Terra e com a Terra Nossa Casa Comum.

“O mistério do ser humano só se torna claro verdadeiramente no mistério do Verbo Encarnado”. Cristo “revela o ser humano ao próprio ser humano e lhe descobre a sua sublime vocação” (Conc. Vat. II. GS 22).

“A fé ilumina todas as coisas com uma luz nova, manifesta o Plano de Deus sobre a vocação integral do ser humano e orienta a mente (o espírito) para soluções plenamente humanas” (Ib. 11).

Que a Campanha da Fraternidade-Sororidade 2025 e Ecologia Integral nos ajude a viver o tempo da Quaresma como um tempo forte de graça de Deus e de conversão, em preparação à Páscoa, que é Vida Nova, que é Mundo Novo.

(Continua na 2ª parte)


        Campanha da Fraternidade-Sororidade 2024




Marcos Sassatelli, Frade Dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor posentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br - Cel. e WA: (62) 9 9979 2282
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Goiânia, 21 de março de 2025



segunda-feira, 10 de março de 2025

Os assassinos de Grazielly Silva de Souza

 


Grazielly Silva de Souza, jovem de 25 anos, morreu na quarta-feira (dia 5 deste mês de março), “enquanto aguardava vaga em alguma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em Goiânia” (O Popular, 8-9/03/25, p. 18).

Segundo depoimento da mãe Luzia Almeida, “a filha Grazielly foi diagnosticada com um aneurisma em novembro de 2024 (reparem: em novembro de 2024) e, desde então, esperava por uma tomografia que nunca foi realizada. Nesse período, passou por diversas idas e vindas em Unidades de Saúde. Ela teve uma parada cardíaca e disseram que tentaram reanimá-la por 45 minutos, mas ela não aguentou.

A mãe relata que Grazielly desmaiou na terça-feira (dia 4) no banheiro de casa e a famíla a levou às pressas para a UPA Maria Pires Perillo, na Região Noroeste de Goiânia. A jovem foi internada e ficou à espera de uma vaga na UTI” (Ib.).

A solicitação por um leito da UTI foi feita somente às 9 horas de quarta-feira (dia 5) à Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que - por sua vez - enviou o pedido à Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO). Até a hora da morte de Grazielly (17h do mesmo dia) nada tinha sido resolvido. Não dá para entender!

A maldade, a perversidade e a crueldade dos responsáveis pela Saúde do Poder Público, Municipal e Estadual, é diabólica. Os Pobres são tratados como “rejeitos” da sociedade.

Será que o Governador Ronaldo Caiado e o Prefeito Sandro Mabel não sabem que, em caso de urgência, os responsáveis pela Saúde Pública, são - legalmente e, sobretudo, humana e eticamente - obrigados a internar imediatamente a pessoa doente na UTI de qualquer hospital, mesmo que seja às custas do Poder Público?

O Governador e o Prefeito deveriam dar essa orientação aos seus auxiliares diretos na área da Saúde. Como não o fizeram e não o fazem, eles são - no caso de Grazielly e de muitos outros - os vedadeiros assassinos. Devem ser processados, julgados e condenados.

Como irmão e companheiro de luta, faço agora três pedidos:

Primeiro:  à “Rede de advogados populares”, que estão do lado dos Pobres e lutam por seus Direitos.

Diante de casos como o de Grazielly, abram - em nome dos familiares - um processo público de assassinato contra o Governador Ronaldo Caiado e o Prefeito Sandro Mabel. Peçam o apoio das Organizações Socioambientais Populares: Movimentos Populares, Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras, Coletivos de Mulheres, Movimentos de Estudantes, Pastorais Socioambientais, Foruns ou Comitês de Direitos Humanos, Comissões de Justiça e Paz e outras.

Todos e todas que estão do lado do Povo, ou seja, da Justiça e da Verdade devem - unidos e organizados - lutar juntos e juntas.

Segundo: aos Políticos - Vereadores, Deputados Estaduais, Deputados Federais e Senadores dos Partidos Políticos Populares - que, ao lado dos Pobres e com os Pobres,  lutam por uma nova sociedade, justa e igualitária.

Promovam publicamente sessões especiais, denunciando todos esses assassinatos do Poder Público, na Saúde dos Municípios e dos Estados.

Terceiro: à minha Igreja Cristã Católica (renovada e libertadora), às outras Igrejas Cristãs e às outras Religiões.

Cumpram - sem medo e com coragem - sua missão profética, anunciando a verdade e denunciando as injustiças.

“Senhor Deus todo poderoso! Teus caminhos são justos e verdadeiros!” (Ap 15,3).

Diante de tantas mortes de pessoas pobres e gravemente doentes por falta de atendimento, não podemos ficar calados e caladas. Seria um grave “pecado de omissão”. Precisamos denunciar publicamente esses casos e dizer com todas as letras o nome dos verdadeiros assassinos desses nossos irmãos e irmãs pobres.

“Se vocês permanecem na minha palavra, são de fato meus discípulos; conhecerão a verdade e a verdade libertará vocês” (Jo 8,31-32).

8 de março: Dia Internacional da Mulher. Parabéns a todas as Mulheres e, de maneira especial, às muitas Organizações Socioambientais Populares de Mulheres, que - para nós homens - são um testemunho vivo de garra e determinação na luta e no compromisso com a verdade e a justiça.

Campanha da Fraternidade 2025: “Fraternidade e Ecologia Integral” - “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31).


Grazielly

Marcos Sassatelli, Frade dominicano.
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP).
Professor aposentado de Filosofia da UFG.
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br - Cel. e WA: (62) 9 9979 2282 -

Goiânia, 09 de março de 2025


A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos