terça-feira, 5 de agosto de 2025

Projeto Social Popular x Projeto Social Capitalista

 


(Por “social”, entendo: sociopolítico, socioeconômico, socioecológico ou socioambiental, sociocultural e sociorreligioso).

Muitos Políticos dos Partidos Populares (chamados de esquerda: PT e companhia), que em teoria defendem o Projeto Social Popular (PSP), na prática procuram quase sempre fazer aliança com Políticos dos Partidos Capitalistas, que defendem o Projeto Social Capitalista (PSC) neoliberal.

Ora, o Projeto Social Popular (PSP) e o Projeto Social Capitalista (PSC) são Projetos opostos e a aliança (que significa “comunhão”) entre Políticos dos dois Projetos é impossível.

O que pode haver, entre esses Políticos, são somente acordos pontuais em situações concretas que não podem esperar e que precisam ser resolvidas o mais rápido possível.

Mesmo nessas situações, os Políticos dos Partidos Populares devem ter consciência da ambiguidade desses acordos pontuais: por um lado, eles resolvem, ao menos provisoriamente, situações sociais graves e urgentes; por outro lado, reforçam o Projeto Social Capitalista (PSC).

Sugiro que, no início do mandato, o Governo Federal de Políticos dos Partidos Populares crie ou (se já existe) renove e faça funcionar regularmente o Conselho Nacional Popular (CNP), formado pelos membros do Governo (Presidente e Ministros/as) e por representantes - representativos - das Organizações Sociais Populares (Movimentos Populares, Partidos Populares, Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras, Movimentos de Estudantes, Associações de Mulheres e outros/as).

Esse Conselho - ao menos por enquanto - não pode ser oficial, porque não é contemplado na Constituição Federal, mas pode e deve ser público, como são públicas as atividades das Organizações Sociais Populares. Todos e todas devem conhecer e poder dar sugestões.

Na atual situação social, o Conselho Nacional Popular (CNP) deve ser a expressão concreta das Organizações Sociais Populares no Poder. Chega de Governos que - mesmo sem querer - são “reformistas” e fortalecem o Capitalismo, total e estruturalmente irracional, desumano e antiético.

O Conselho Nacional Popular (CNP) precisa se reunir periódica e publicamente (não oficialmente) para fazer uma análise crítica da conjuntura, na ótica das Organizações Populares - a ótica dos Pobres - que leve o Governo Federal a abrir caminhos novos e a tomar consciência dos passos que podem e devem ser dados para fazer acontecer o Projeto Social Popular (PSP).

Três questões fundamentais deveriam e ainda devem ser analisadas pelo Conselho Nacional Popular (PSP). Primeira: Por que, depois de quase quatro Governos Federais do PT e Partidos aliados, chegamos ao Governo Bolsonaro? Quais as causas? Segunda: O que o atual Governo Federal pode e deve fazer para não chegar a outro Governo Federal parecido ou pior que o de Bolsonaro? Terceira: Quais os passos que o Governo Federal pode e deve dar hoje para que o Projeto Social Popular (PSP) comece a acontecer em nossa realidade?  

De 21 a 25 de julho - Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, Dia Internacional da Agricultura Familiar e Dia do Trabalhador e da Trabalhadora Rural - o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) promoveu a Semana Camponesa com o lema “Para o Brasil alimentar, Reforma Agrária Popular”: uma Jornada Nacional de Lutas, com mobilização em 22 capitais do Brasil e a participação de cerca 17 mil militantes Sem Terra. O objetivo foi: pressionar o Governo por medidas concretas para a Reforma Agrária Popular.

Nessa Semana Camponesa foi divulgada a “Carta do MST à Sociedade Brasileira” (21/07/25). A Carta - depois de reconhecer que “estamos em luta para ecoar nossa voz coletiva em todo o país, que se conecta ao sentimento da sociedade brasileira e do Presidente Lula na defesa incondicional da soberania nacional, ameaçada pelo imperialismo e pelas ações de Donald Trump” - afirma:

“No entanto, a ameaça à nossa soberania popular e nacional também tem vindo de dentro do próprio país, com a subordinação da nossa agricultura às empresas transnacionais e com as ações do Poder Legislativo, representante dos interesses do agronegócio e da mineração”.

E ainda: “A Reforma Agrária Popular é um instrumento de defesa das terras do país, em contraposição ao agronegócio entreguista, golpista, saqueador e antipatriótico. Soberania nacional só é possível com soberania alimentar. E a soberania alimentar se constrói com a agricultura familiar camponesa e com a Reforma Agrária Popular” (os grifos são meus).

O MST reconhece que: “após quase três anos de Governo Lula, a Reforma Agrária Popular continua paralisada”. Ora, “as famílias acampadas e assentadas se perguntam: Lula, cadê a Reforma Agrária Popular?”  E continuam dizendo: “Somos milhares de Sem Terra! São mais de 122 mil famílias, organizadas em 1.250 acampamentos em todo o país, que precisam de terra para trabalhar e viver. Cerca de 400 mil famílias assentadas seguem à espera de políticas públicas que existem, mas não chegam à base, para melhorar a produção de alimentos e o desenvolvimento dos assentamentos”.

Recordo, agora, alguns passos que podiam e ainda podem ser dados:

Apoiar e fortalecer a agricultura familiar camponesa, que já é responsável por 70% dos produtos consumidos no Brasil. Taxar os super-ricos e reduzir a jornada de trabalho sem redução salarial. Assentar em moradias dignas todos os Trabalhadores e Trabalhadoras das Ocupações rurais e urbanas. Além da Reforma Agrária Popular, precisamos da Reforma Urbana Popular.

E (um dia, quem sabe?) reapropriar-se do supérfluo dos ricos - que é o necessário dos pobres “roubado legalmente” - e devolvê-lo aos seus legítimos proprietários (os próprios pobres).

S. Tomás de Aquino ensina: “ninguém tem direito ao supérfluo, quando o outro ou a outra não tem o necessário”. Como estamos longe ainda da verdadeira justiça!

A luta pelo Projeto Social Popular (PSP) continua! Esperançar é preciso! Desistir nunca!

(Confira a Carta do MST na íntegra: https://mst.org.br/2025/07/21/mst-divulga-carta-a-sociedade-brasileira-em-defesa-da-reforma-agraria-popular-e-da-soberania-nacional/


                                    
                  Foto: Francisco Proner                                                                                                           Foto: Luisa Medeiros 





Marcos Sassatelli, Frade dominicano,
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP) 
e Professor aposentado de Filosofia da UFG.
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br - Cel. e WA: (62) 9 9979 2282 -

https://freimarcos.blogspot.com/ - Goiânia, 31 de julho de 2025






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