No dia 27 de abril deste ano
o 1° Tribunal do Juri de Goiânia julgou Américo Rodrigues Novais e Joziel
Pereira Feitosa. por tentativa de homicídio contra o tenente da Polícia Militar
Ricardo Alves Mendes, na madrugada de 15 de fevereiro de 2005, na Ocupação
"Sonho Real" do Parque Oeste Industrial, durante a "Operação
Inquietação". Américo - líder dos Sem-Teto - foi condenado a cinco anos e quatro meses de
reclusão em regime semiaberto e Joziel foi absolvido.
O
julgamento foi uma verdadeira farsa. Como o advogado Rodrigo Lustosa mostrou
muito claramente, com argumentos irrefutáveis, não há nenhuma prova contra
Américo. Ele não teve qualquer tipo de participação no crime do qual é acusado.
Trata-se de mais um caso de "intimidação" e
"criminalização" dos Movimentos Populares. Quem estava no banco dos
réus não era a pessoa do Américo, mas o Movimento de Luta pela Moradia, que
teve a "ousadia" e o "atrevimento" de enfrentar o Poder
Econômico e de desrespeitar o estatuto da propriedade privada - valor absoluto
e verdadeiro "ídolo" - ao qual tudo deve ser sacrificado, inclusive a
vida.
No
banco dos que processaram, não a pessoa do Américo, mas o Movimento de Luta
pela Moradia estava o Poder Econômico, representado pelo Setor imobiliário com
a subserviência do Poder Público, estadual e municipal. O Poder Econômico quis
dar uma "lição" e um "castigo" aos Sem-Teto, que tiveram a
coragem de desafiá-lo. Os que sofreram a violência (os violentados) foram
condenados e os que praticaram a violência (os violentos) foram absolvidos. As
"Operações Inquietação e Triunfo" foram uma verdadeira Operação Militar de guerra; uma
Operação criminosa, com requinte de barbárie. Todos os Direitos Humanos foram
violados; os Responsáveis por esse crime continuam até hoje impunes e, na nossa
sociedade hipócrita, são considerados "pessoas de bem". O sistema
econômico, no qual nós vivemos, é - como afirma o Documento de Aparecida da V
Conferência Episcopal da América Latina e do Caribe, no número 385 - "um
sistema econômico iníquo".
Infelizmente,
o corpo de jurados (formado por quatro homens e três mulheres) do 1° Tribunal
do Juri de Goiânia não tinha consciência da "questão social e
política" que estava por trás desse julgamento. Temos esperança que, no
recurso, essa injustiça, que grita diante de Deus, seja reparada. Fazemos
também um apelo para que todos(as) - os(as) que somos solidários(as) com os
Empobrecidos(as), Oprimidos(as) e Excluídos(as) - nos unamos, mesmo nas
diferenças e divergências, para lutar contra toda tentativa de
"intimidar" e "criminalizar" os Movimentos Populares, que
acreditam que "um outro mundo é possível" e o fazem acontecer .
Como diz o
Profeta Isaias, no capítulo 5, versículos 20-21 e 23: "Ai dos que dizem
que o mal é bem, e o bem é mal, dos que transformam as trevas em luz e a luz em
trevas, dos que mudam o amargo em doce e o doce em amargo! Ai dos que são
sábios a seus próprios olhos e inteligentes diante de si mesmos! (…) Ai dos que
absolvem o injusto a troco de suborno e negam fazer justiça ao justo!".
Para os que têm fé, o poder do "Dragão", de que fala o Apocalipse no
capítulo 12, já foi derrotado. O Reino de Deus (o Cristo Ressuscitado) venceu o
Reino do Mal (o Dragão). Essa vitória acontece na história humana - pela
atuação dos verdadeiros Seguidores(as) de Cristo, dos Movimentos Populares e de
todas as Pessoas comprometidas com a prática da justiça. É só uma questão de
tempo.
Fr. Marcos Sassatelli,
Frade Dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da
UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos
Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do
Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do
Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador
Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br - Goiânia, 01
de maio de 2009
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