Na cidade de Goiânia, o Grito dos/as
Excluídos/as aconteceu no dia sete deste mês, das 8 às 12h. Houve um número
muito significativo de participantes, representando movimentos populares,
comunidades, paróquias, igrejas, e outras organizações da sociedade civil. Os
participantes concentraram-se na Praça A, ao lado do Terminal de ônibus. Depois
de uma rápida passagem pelo Terminal, percorreram com muita animação e
esperança a Avenida Independência, fazendo quatro paradas programadas com
antecedência e encerraram o Grito em frente a Câmara Municipal, na Praça do
Trabalhador.
O Grito dos/as Excluídos/as de Goiânia foi o
grito da Vida contra a Corrupção, a Violência e a Morte, no Transporte Coletivo,
na Saúde Pública e na Segurança Pública
Com este enfoque, o Forum do Grito dos
Excluídos e as Assembleias Populares lançaram o “Manifesto do Grito dos
Excluídos de Goiânia”.
Na primeira parte, o Manifesto constata o
contraste que existe entre as leis que garantem ao povo direitos e as regras da
ganância que de fato predominam na nossa sociedade capitalista.
Diz o Manifesto: “As leis garantem ao povo
direitos, mas as regras da ganância impõem-lhe penúrias e castigos. A
trabalhadora e o trabalhador são explorados cotidianamente do valor do seu
trabalho.
Quem deveria representar os interesses de
todos utiliza-se de seu poder em seu próprio privilégio. Pervertem a Política e
colocam o Estado e a coletividade a serviço de seus mesquinhos interesses. A
vida de joelhos e a ganância no altar.
A classe dominante ignora o grito dos
excluídos e apenas nas eleições fingem escutar o lamento e a dor do povo, respondendo-lhes
com promessas que rasgam tão logo assumem o poder. Transporte de qualidade,
saúde, segurança... Tudo vira moeda para o enriquecimento ilícito de uns
poucos.
Quantas vezes disseram resolver o transporte
público na capital? Quantas vezes a saúde era prioridade? Quantas vezes fomos
amedrontados pela ineficiência da Segurança Pública?”
Na segunda parte, o Manifesto apresenta alguns
dados concretos da realidade de vida do nosso povo sofrido e excluído, que são
a consequência lógica das regras da ganância.
Continua o Manifesto: “Em Goiânia, 90% do
transporte coletivo, que deveria ser público, está privatizado, nas mãos de
pouquíssimas empresas que operam um sistema altamente lucrativo e oferece um
péssimo serviço à sociedade. A trabalhadora e o trabalhador, principais
usuários, não participam de nenhuma instância de deliberação e controle.
Os interesses privados prevalecem em
detrimento do interesse público. Enquanto isso, a cultura do automóvel e da
solução individual congestiona o trânsito e deprecia a qualidade de vida na
capital.
A Saúde Pública em Goiás está na UTI e, na
contramão do fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), o Governo Estadual
entrega importantes hospitais como HUGO, HGG, HUAPA a grupos econômicos.
Novamente o povo paga a conta da péssima gestão estatal! Como no IPASGO, a
improbidade administrativa gera prejuízos ao servidor e a toda coletividade”.
Na terceira e última parte, o Manifesto
aponta, com muita esperança, caminhos de mudança, buscando construir um projeto
popular para o Brasil.
Conclui o Manifesto: “Contudo, a força do
povo está em sua organização. Não existe salvador para suas causas, apenas a
classe trabalhadora pode cuidar de seus próprios interesses. A morte permeia as
instituições fracassadas pela ausência real da participação democrática e
popular no uso do poder. Sozinhos e isolados as trabalhadoras e os trabalhadores
são apenas massa de manobra.
Somos todos um só povo, de uma só raça e com
um só destino. Sem luta não haverá vitória possível. Organize-se em sua
comunidade, faça parte dos movimentos populares e sociais, não se isole no
individualismo medíocre ou no consumismo destrutivo.
É preciso ocupar as ruas e reivindicar, é
preciso juntar-se a luta e a solidariedade coletiva, é preciso não calar diante
das atrocidades e violências, é preciso coragem para gritar: Basta de morte,
injustiças e iniquidade!
A luta é de todos e somente juntos
poderemos vencer a CORRUPÇÃO, a VIOLÊNCIA e a MORTE!”
Finalizando este breve comentário sobre o
“Manifesto do Grito dos Excluídos de Goiânia”, lembro que a inseparável relação
entre o amor a Deus e o amor ao próximo “convida todos a suprimir as graves
desigualdades sociais e as enormes diferenças no acesso aos bens. Tanto a
preocupação por desenvolver estruturas
mais justas como por transmitir os valores sociais do Evangelho, situam-se neste contexto de serviço
fraterno à vida digna" (Documento
de Aparecida - DA, 358).
Portanto, os que somos cristãos - unidos a
todas as forças vivas da sociedade - temos o dever de contribuir "para a
transformação das realidades e para a criação de estruturas justas segundo os critérios do Evangelho" (DA, 210).
Fr. Marcos Sassatelli, Frade
dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em
Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG
(aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em
Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e
Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato
Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da
Paróquia Nossa Senhora da Terra
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