Parece
pesadelo! Vejam só que situação deprimente! “Falta até água e luvas no Hugo (manchete).
No maior hospital de urgências do Centro-Oeste, os médicos sofrem com falta de
luvas cirúrgicas, fios para sutura e até água para lavar as mãos. E a lista de
problema do Hugo é maior, conforme admite o governo, que culpa a burocracia.
Pior para os pacientes”.
Nas fotos da reportagem - imagens captadas
por celular de médico - aparecem: corredor lotado com pacientes, 4 elevadores
quebrados, aparelho de ar condicionado queimado usado como ninho por uma
coruja, sala de internação lotada, pia com só uma torneira funcionando, sujeira
e falta de material de limpeza. Médico afirma “que problemas podem comprometer
resultado das cirurgias” (O Popular, 28/10/11, 1ª página).
Toda essa situação de descalabro foi
denunciada várias vezes. “Denúncias por parte de médicos do Hospital de Urgência
de Goiânia (Hugo) são frequentes e se repetem há quase duas décadas. Há 14
anos, o neurocirurgião Paulo Roberto Taveira chegou a abandonar um plantão para
se dirigir à polícia, onde deu queixa contra a instituição hospitalar por
omissão de socorro. Ele tinha o intuito de se resguardar, uma vez que os
pacientes vinham morrendo pela falta de condições de atendimento”. Entra
governo, sai governo e a situação continua a mesma ou pior.
Realmente, não dá para acreditar! Trata-se de
um descaso do Poder Público inadmissível e injustificável! Quem vai responder
judicialmente por essa situação criminosa e pelas mortes acontecidas ou que
poderão acontecer em consequência dessa mesma situação?
Se os nossos governantes fossem obrigados a
levar seus filhos e familiares doentes para serem atendidos e tratados no Hugo,
tenho certeza que encontrariam imediatamente uma saída legal para resolver a
situação. Infelizmente, os pobres - em nosso sistema capitalista neoliberal -
não têm valor nenhum. São material descartável.
É inadmissível que em pleno século
XXI sejamos obrigados a assistir a um espetáculo tão degradante, tão cruel e
tão desumano, que grita por justiça diante de Deus. A situação do Hugo - além
de ser inadmissível - é também injustificável. Não adianta inventar desculpas,
como o entrave da burocracia. O povo não é bobo! Quantas vezes o governo
dispensou a licitação pública, em casos considerados (mesmo que às vezes não
fossem) de urgência e emergência. Será que existe algo mais urgente e mais emergencial
que a saúde pública e a vida dos pobres?
O entrave da burocracia não está
sendo usado como argumento para, de forma sutil, justificar a terceirização (leia-se:
privatização) da Saúde Pública? “Na
avaliação da Secretaria Estadual de Saúde (SES), a burocracia é o grande entrave
para a boa administração de Unidades Públicas como o Hospital de Urgências de Goiânia
(Hugo). De acordo com a superintendente de Gerenciamento das Unidades
Assistenciais de Saúde da SES, Lázara Maria Mundim, há processos - para manutenção
e aquisição de material - que chegam a demorar até 530 dias para serem concluídos”.
Que absurdo! Que irresponsabilidade! Mais uma vez, não dá para acreditar!
Segundo o secretário estadual da saúde,
Antônio Faleiros “a solução para a série de problemas enfrentados pelas
Unidades Públicas de Saúde (Hospital Geral de Goiânia - HGG, Materno Infantil,
Hospital de Doenças Tropicais - HDT, Hospital de Urgências de Goiânia - Hugo e Hospital
de Urgências de Aparecida de Goiânia - Huapa) está no repasse da administração
às Organizações Sociais (OS)”. Diz ele: “Não há dúvidas de que, com a
administração por meio de OS, a solução e a resposta serão imediatas” (Ib., p.
5). Senhor secretário, será que é realmente esta a solução? Não seria melhor
que o Poder Público cumprisse a Constituição Federal, que reza: “A saúde é
direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção
e recuperação” (Art. 196).
É
só uma questão de vontade política e de priorizar aquilo que realmente é
prioritário: a vida, sobretudo, dos empobrecidos, oprimidos e excluídos do
nosso “sistema econômico iníquo” (Documento de Aparecida - DA, 385). Precisamos
urgentemente de uma Saúde Pública de qualidade para todos/as e não de “terceirizar”
ou “privatizar” a Saúde Pública, enriquecendo, com o dinheiro do povo, empresas
particulares, que dizem ser Organizações Sociais (OS) e nem sempre (ou quase
nunca) são aquilo que dizem ser. Está na hora de o Poder Público assumir sua
responsabilidade em relação à Saúde e não de “lavar as mãos” Diário da Manhã, Opinião Pública, Goiânia, 04/11/11, p. 7
Fr. Marcos Sassatelli, Frade
dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em
Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG
(aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em
Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e
Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato
Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da
Paróquia Nossa Senhora da Terra
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
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