Neste 6º artigo sobre o
Encontro Mundial de Movimentos Populares, destaco o 5º ponto marcante do
Discurso do Papa Francisco aos Movimentos Populares: em defesa da Paz e da Ecologia.
Depois de falar da terra, da moradia e do trabalho como
direitos sagrados, o Papa diz: “neste encontro, também falaram da Paz e da
Ecologia”. Com muita objetividade, ele afirma: “é lógico: não pode haver terra,
não pode haver teto, não pode haver trabalho se não temos paz e se destruímos o
planeta”.
Mostra, pois, a necessidade que todos e todas temos hoje
de debater esses assuntos. “São temas tão importantes que os povos e suas
organizações de base não podem deixar de debater. Não podem deixar só nas mãos
dos dirigentes políticos. Todos os povos da terra, todos os homens e mulheres de
boa vontade têm que levantar a voz em defesa desses dois dons preciosos: a paz
e a natureza. A irmã mãe Terra, como chamava São Francisco de Assis”.
Com realismo e ao mesmo tempo com preocupação, que mostra
sua profunda solidariedade, Francisco declara: “há pouco tempo, eu disse, e
repito, que estamos vivendo a terceira guerra mundial, mas em cotas. Há sistemas
econômicos que, para sobreviver, devem fazer a guerra. Então, fabricam e vendem
armas e, com isso, os balanços da economia que sacrificam o homem aos pés do
ídolo do dinheiro, obviamente, ficam saneados. E não se pensa nas crianças
famintas nos campos de refugiados, não se pensa nos deslocamentos forçados, não
se pensa nas moradias destruídas, não se pensa, desde já, em tantas vidas
ceifadas. Quanto sofrimento, quanta destruição, quanta dor!”.
Fraternalmente e com muita ternura, o Papa diz: “hoje,
queridos irmãos e irmãs, levanta-se em todas as partes da terra, em todos os
povos, em cada coração e nos Movimentos Populares, o grito da paz: nunca mais a
guerra!”.
Falando da necessidade urgente de cuidar da natureza, o
Papa denuncia: “um sistema econômico centrado no deus dinheiro também precisa
saquear a natureza, saquear a natureza para sustentar o ritmo frenético de
consumo que lhe é inerente. As mudanças climáticas, a perda da biodiversidade,
o desmatamento já estão mostrando seus efeitos devastadores nos grandes cataclismos
que vemos, e os que mais sofrem são vocês, os humildes, os que vivem perto das
costas em moradias precárias, ou que são tão vulneráveis economicamente que,
diante de um desastre natural, perdem tudo”.
Enfim, lembra com confiança o plano de Deus sobre a Terra
e o papel do ser humano em relação a ela. “Irmãos e irmãs, a criação não é uma
propriedade da qual podemos dispor ao nosso gosto; muito menos é uma
propriedade só de alguns, de poucos: a criação é um dom, é um presente, um dom
maravilhoso que Deus nos deu para que cuidemos dele e o utilizemos em benefício
de todos, sempre com respeito e gratidão”.
Numa atitude de sincera humildade e sem nenhuma demagogia,
Francisco agradece as preocupações e contribuições dos Movimentos Populares e
assegura que elas estarão presentes na Encíclica sobre a Ecologia que está
preparando. “Tenham a certeza de que as suas preocupações estarão presentes
nela. Agradeço-lhes, aproveito para agradecer-lhes pela Carta que os integrantes
da Via Campesina, da Federação dos Coletores de Materiais Recicláveis (Papeleiros)
e tantos outros irmãos me fizeram chegar sobre o assunto”.
Ouçamos
as palavras do nosso irmão, o Papa Francisco! Elas renovam a nossa esperança e
fortalecem o nosso compromisso - que é o amor acontecendo na história humana e
cósmica - com a causa da Paz e da Ecologia, fruto da Justiça.
“Como
são numerosas tuas obras, Senhor! A todas fizeste com sabedoria. A Terra está
repleta das tuas criaturas” (Salmo 104, 24).
“Vou escutar o que diz o Senhor: Deus anuncia a Paz ao
seu povo e seus fiéis, e aos que se convertem de coração. A salvação está
próxima dos que o respeitam, e a glória habitará em nossa Terra. Amor e
Fidelidade se encontram, Justiça e Paz se abraçam. A Fidelidade brotará da
Terra, e a Justiça se inclinará do Céu. O Senhor nos dará a chuva, e nossa
Terra dará seu fruto. A Justiça caminhará à frente dele, a salvação seguirá os
seus passos” (ib. 85, 9-14).
Marcos
Sassatelli, Frade dominicano
Doutor
em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP),
Professor
aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia,
08 de janeiro de 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário