quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Medellín em gotas: 17ª - Papel da família



No documento “Família e Demografia” - que é o terceiro - a II Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho de Medellín - depois de apresentar a realidade da família latino-americana e caribenha - reflete sobre o seu papel nessa mesma realidade.

Começa retomando as palavras do Concílio Vaticano II: “A força e o vigor da instituição matrimonial e familiar se evidenciam igualmente: as profundas mudanças sociais contemporâneas, não obstante as dificuldades a que dão origem, manifestam muitas vezes, de várias maneiras, a verdadeira índole dessa instituição” (A Igreja no mundo de hoje - GS 47)

Continua dizendo: “É portanto necessário ter em conta os valores fundamentais que a doutrina da Igreja atribui à família cristã para que a ação pastoral leve as famílias latino-americanas a conservar ou a adquirir esses valores que as capacitem a cumprir sua missão”.

Entre esses valores, a Conferência - em suas linhas de reflexão - assinala três especificamente: “a família formadora de pessoas, educadora na fé e promotora do desenvolvimento” (da vida). 

1.    Formadora de pessoas

Os bispos retomam novamente o ensinamento do Concílio Vaticano II: “A família recebeu diretamente de Deus a missão de ser célula primeira e vital da sociedade” (Apostolado dos Cristãos Leigos - AA 11,3).

“É, pois, dever dos pais, criar um ambiente de família animado pelo amor, pela piedade para com Deus e para com os seres humanos que promova a educação íntegra, pessoal e social dos filhos”. E ainda: “Cada ser humano continua a ter o dever de salvar a integridade da pessoa humana, na qual sobressaem os valores da inteligência, da vontade, da consciência e da fraternidade... Como mãe e alimentadora desta educação acha-se em primeiro lugar a família” (GS 61).

A Conferência afirma: “Essa doutrina do Concílio Vaticano II nos faz ver a urgência de a família cumprir sua tarefa de formar personalidades integrais, e para tanto conta com muitos elementos”.

“Realmente a presença e influência dos modelos distintos e complementares do pai e da mãe (masculino e feminino), o vínculo do afeto mútuo, o clima de confiança, intimidade, respeito e liberdade, o quadro de vida social com uma hierarquia (ou melhor, uma comunhão) natural mas matizada pelo clima de afeto, tudo converge para que a família se torne capaz de plasmar personalidades fortes e equilibradas para a sociedade”.

2.    Educadora na fé

Os bispos retomam mais uma vez o ensinamento do Concílio Vaticano II: “Os esposos cristãos são para si mesmos, para seus filhos e demais familiares, cooperadores da graça e testemunhas da fé. São para seus filhos os primeiros pregadores e educadores na fé” (AA 11) e devem “inculcar a doutrina cristã e as virtudes evangélicas aos filhos amorosamente recebidos de Deus” (A Igreja - LG 41,5), e realizar esta missão “mediante a palavra e o exemplo” (LG 11), de tal maneira que “graças aos pais, que precederão com o exemplo e a oração na família, os filhos e ainda os demais que vivem no círculo familiar, encontrarão mais facilmente o caminho do sentido humano, da salvação e da santidade” (GS 48).

A Conferência reconhece: “Sabemos que muitas famílias da América Latina foram incapazes de se tornarem educadoras na fé, ou por não estarem bem constituídas, ou por estarem desintegradas e outras, ainda, porque vêm dando esta educação em termos de mero tradicionalismo, às vezes até com aspectos míticos e supersticiosos. Daí a necessidade de se dotar a família atual de elementos que lhe restituam a capacidade evangelizadora, de acordo com a doutrina da Igreja”.

3.    Promotora do desenvolvimento (da vida)

Os bispos retomam outra vez as palavras do Concílio Vaticano II: “A família é a primeira escola das virtudes sociais necessárias às demais sociedades... É aí que os filhos fazem a primeira experiência de uma sã sociedade humana... É através dela que os filhos vão sendo introduzidos gradativamente na sociedade civil e na Igreja” (Educação Cristã - GE 3). Além disso, “a família é a escola do mais rico humanismo”, e “o humanismo completo é o desenvolvimento Integral”.

Considerando, pois, que “na família convivem diversas gerações que se ajudam mutuamente para adquirir uma sabedoria mais completa e estabelecer os direitos das pessoas com as demais exigências da vida social, sabemos que ela constitui o fundamento da sociedade” (GS 52).

“Nela, os filhos, num clima de amor, aprendem mais facilmente a reta ordem das coisas (valores), enquanto que formas culturais comprovadas vão penetrando como que naturalmente no espírito dos adolescentes, à medida que estes vão crescendo” (GS 61).

“Aos pais cabe preparar, no seio da família, os filhos para conhecerem o amor de Deus para com todos os seres humanos; ensinar-lhes, gradativamente, sobretudo pelo exemplo, a solicitude pelas necessidades materiais e espirituais do próximo” (AA 30), e assim a família cumprirá sua missão e “promoverá a justiça e demais boas obras a serviço de todos os irmãos que padecem necessidade” (AA 11).

Por ser a família um fator importantíssimo no desenvolvimento, “o bem-estar da pessoa e da sociedade humana está ligado estreitamente a uma situação favorável da comunidade conjugal e familiar” (GS 47). Conclui fazendo um pedido: “Por isso todos os que têm influência nas comunidades e grupos sociais devem trabalhar eficazmente para a promoção do matrimônio e da família” (GS 52).

O ensinamento de Medellín sobre o papel da família continua atual e é uma luz para a pastoral familiar. Dizer que a família é “promotora de desenvolvimento” e que “o humanismo completo é o desenvolvimento integral”, significa dizer que a família é promotora da vida do ser humano no mundo, com o mundo, com os outros/as (semelhantes) e com o Outro absoluto (Deus).

Por isso, retomando e aprofundando perspectivas já presentes no Concílio Vaticano II, Medellín torna-se a fonte de inspiração da Teologia da Libertação: uma reflexão à luz da fé a partir da práxis (unidade dialética de prática e teoria) de libertação dos pobres e oprimidos (e seus aliados/as) da América Latina e Caribe e do mundo inteiro. Os teólogos entenderam que sem a libertação de tudo que impede a vida não há “humanismo completo” ou “desenvolvimento integral”.

“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor” (Lc 4,18-19). “Eu vim para que todos/as tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

A família - reconhecendo e respeitando as situações familiares diferentes da que foi apresentada, como as uniões homoafetivas (LGBTs) - deve ser promotora da libertação e da vida, e a Teologia - se for verdadeira - deve ser da Libertação e da Vida.





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Descrição: Descrição: Resultado de imagem para Fotos da II Conferência Episcopal da América Latina e Caribe em Medellín, 1968

Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 14 de novembro de 2018

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