“A verdade vos libertará” (Jo 8,32)
Como
Comunidade de Irmãos e Irmãs, todos e todas - na diversidade dos carismas (dons) e
ministérios (serviços) - somos corresponsáveis pela vida e missão da Igreja no
mundo de hoje.
Com
o apoio e o incentivo do nosso irmão, o Papa Francisco - começamos em outubro
de 2021 o caminho sinodal da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos
Bispos com o tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e
missão”. É um processo descentralizado de escuta e discernimento
no âmbito de cada diocese, seguido de encontros regionais e continentais, que começou
em outubro de 2021 com a previsão de terminar em outubro de 2023.
Posteriormente,
por determinação do Papa Francisco - para dispor de um tempo maior dedicado à escuta
e ao discernimento - o caminho sinodal foi prolongado por mais um ano, com a
realização de duas sessões do Sínodo: a primeira de 4 a 29 de outubro de
2023 e a segunda em outubro de 2024.
Ora, para sermos verdadeiros e verdadeiras, precisamos
reconhecer que essa experiência eclesial de sinodalidade, de “caminhar juntos”,
é ainda parcial: diz respeito somente à apresentação e
discussão de sugestões e propostas a serem enviadas à Assembleia
Geral do Sínodo dos Bispos.
Na Igreja que Jesus de Nazaré sonhou e quis, a sinodalidade
deve ser vivida e praticada de maneira plena, participando também - com
todos os direitos de membros da Igreja - da votação e aprovação das
decisões finais a serem tomadas. A Igreja não é o Povo de Deus?
(Pedir
que sejam dadas sugestões e apresentadas propostas sem poder
participar - através da eleição de representantes do Povo de Deus - da votação
e aprovação das decisões finais a serem tomadas, não deixa de ser
- como se diz em italiano - uma “presa in giro” ou uma provocação).
Ora, para que a sinodalidade seja vivida de maneira plena em todos os níveis, precisamos:
1. Voltar às fontes e acabar com a Igreja de classes
No Novo Testamento e nas primeiras Comunidades Cristãs, todos os discípulos e discípulas, seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré eram chamados de “santos e santas”, “eleitos e eleitas”, “irmãos e irmãs”. Não existia “leigo/a” e “clero”, não existia “laicato” e “hierarquia”, não existia “vida religiosa consagrada“.
(Aliás,
o nome “vida religiosa consagrada” é impróprio. Todos e todas que praticam uma
religião tem “vida religiosa”, e todos e todas que são batizados e batizadas têm
- para nós cristãos e cristãs - “vida religiosa consagrada” (o Batismo é a
maior consagração).
O nome da chamada “vida religiosa consagrada” deveria
ser “vida cristã de particular consagração”, em resposta a um chamado
pessoal de Deus para - na diversidade dos carismas - viver um “projeto
de vida cristã radical”.
2. Repensar a Estrutura Social da Igreja e reelaborar a Teologia dos Ministérios a partir do binômio: Comunidade x Carismas e Ministérios
O Documento da CNBB “Missão e Ministérios dos Cristãos Leigos e
Leigas” - 62/1999), afirma: "Embora o Concílio Vaticano II tenha
lançado as bases para uma compreensão da Estrutura
Social da Igreja como Comunhão,
essa estrutura continua ainda sendo
pensada dentro do binômio clássico
Hierarquia x Laicato”.
É, pois, a partir do binômio
‘Comunidade x Carismas e Ministérios’
que precisamos repensar toda a Estrutura
Social da Igreja e reelaborar toda a Teologia dos Ministérios. É essa a
perspectiva do Novo Testamento.
(Lamentavelmente, 17 anos depois, o Documento da CNBB “Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade” - 105/2016, simplesmente “desconhece” e “desconsidera”, ao invés de retomá-la e aprofundá-la, essa parte do Documento anterior, que abre caminhos novos. Reafirma e reforça o binômio “Hierarquia x Laicato” - uma Igreja de duas classes (na realidade, três: Hierarquia, Vida Religiosa Consagrada e Laicato) - que não tem nenhum fundamento bíblico.
3. Criar o Sínodo do Povo de Deus
A Assembleia Geral do Sínodo do Povo de Deus
(e não do Sínodo dos Bispos) seria a última instância para a discussão, votação e aprovação das decisões finais. Mesmo que o Sínodo não
seja um Parlamento, a democracia é uma
mediação histórica necessária. Sem
democracia não há verdadeira sinodalidade.
Ora,
se a democracia é um valor humano e se ser cristão ou cristã é ser radicalmente
ser humano, a Igreja também deveria ser uma Instituição radicalmente democrática e plenamente sinodal. Um dia,
chegaremos lá!
(Leia
também: A questão da sinodalidade na
Igreja, em:
http://freimarcos.blogspot.com/2022/02/a-questao-da-sinodalidade-na-igreja-1.html - 1ª parte
http://freimarcos.blogspot.com/2022/04/a-questao-da-sinodalidade-na-igreja-2.html - 2ª parte
ou também nos sites do IHU, Portal
das CEBs, Caminheiro do Reino e outros)
Agora: Sínodo 2021 – 2024
Marcos
Sassatelli, Frade dominicanoDoutor em Filosofia
(USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)Professor aposentado
de Filosofia da UFGE-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 23 de fevereiro de 2023
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