domingo, 13 de agosto de 2023

ALEGO: Mordomia política com dinheiro dos Pobres

 


Em maio passado, a Assembleia Legislativa de Goiás (ALEGO) adquiriu 41 caminhonetes 4x4 novas para os gabinetes dos deputados ao preço de R$ 227 mil cada, totalizando R$ 9,3 milhões.

Agora, com licitação prevista para ocorrer nesses dias, a ALEGO pretende adquirir 60 carros sedãs novos ao preço de R$ 110,18 mil cada, totalizando R$ 6,61 milhões.

No Edital, a ALEGO afirma que os veículos atenderão “demandas da Casa no Estado e no apoio das atividades parlamentares constitucionais inerentes ao mandato e à representação do Poder Legislativo Goiano, bem como no apoio das atividades administrativas, essenciais ao funcionamento desta Casa de Leis” (O Popular, 01/08/23, p. 6).

Pergunto:

  • Os deputados/as estaduais de Goiás - com o subsídio mensal que recebem (cerca de R$ 31 mil) - não podem adquirir um carro popular para os seus gabinetes?
  • Somente uma caminhonete não é suficiente para atender todas as necessidades administrativas da ALEGO?
  • Como podemos acreditar que deputados/as estaduais, apoiadores/as de tamanha maracutáia (uma verdadeira farra com o dinheiro público) estejam preocupados/as em servir o Povo (os Pobres)?  
  • Embora estejamos ainda muito longe disso, o ideal não seria que a militância político-partidária fosse uma prática de voluntariado como a militaância sindical e popular? Se assim fosse, a qualidade dos candidatos/as não seria outra?

Tem mais: “A ALEGO bate recorde de comissionados” (manchete). “A quantidade de funcionários comissionados na Assembleia Legislativa de Goiás tem aumentado ao longo dos anos, com um salto significativo no primeiro semestre de 2023. O ano começou com 3.711 comissionados e chegou ao recorde de 4.572 em junho. Os dados são do Portal da Transparência da Casa” (O Popular, 03/08/23, p.4).

Essa mordomia política, acintosa e despudorada - além de ser um pontapé na cara dos Pobres - é uma grande irresponsabilidade e uma total falta de ética. Ela reflete e reproduz na ALEGO a realidade de desigualdade e injustiça do mundo, do Brasil, de Goiás  e de Goiânia.

No mundo (segundo a OXFAM), 1% da população detém a mesma quantidade de bens dos 99% restantes. As 62 pessoas mais ricas do mundo têm tantos bens quanto a metade (mais de 4 bilhões de pessoas) da população global (cf. https://g1.globo.com/economia/noticia/2016/01/).

No Brasil, a metade da população mais pobre possui menos de 1% dos bens do pais. Os 50% mais pobres, ganham 20 vezes menos do que os 10% mais ricos e esses ganham quase 59% da renda nacional total (cf. https://economia.uol.com.br/noticias/bbc/2021/12/).  

Em Goiás, a desigualdade é um grande desafio. Utiizando o Índice ou Coeficiente de Gini (uma medida de desigualdade desenvolvida por Corrado Gini) - que consiste em um número entre 0 e 1, onde 0 corresponde à completa  igualdade - “a desigualdade de renda comparada em regiões do Estado de Goiás foi analisada pelo Instituto Mauro Borges (IMB). Goiânia foi a localidade mais desigual em 2021. Aqui o índice chega a 0,510. Na sequência aparecem Região metropolitana da capital (0,450) - excluída Goiania; Goiás (0,440), exceto a Região metropolitana e a Região Integrada de Desenvolvimento Econômico (Ride); e por último, a própria Ride (0,410), excluíndo a capital” (O Popular, 02/08/23, p. 14).

Goiânia “é a cidade mais desigual. Estudo da ONU aponta a capital como a cidade da América Latina com a maior concentraão de renda” (https://secom.ufg.br/n/38771-goiania-a-cidade-mais-desigual).

Por fim, um questionamento: por que a maioria (graças a Deus, não são todos/as) dos deputados/as da ALEGO não pensa nessa realidade tão desigual, injusta, desumana e antiética do mundo, do Brasil, de Goiás e de Goiânia? É a expressão palpitante do pecado social ou estrutural, hipocritamente legalizado e institucionalizado. Meditemos!

O Popular, 01/08/23, p. 6

Plenário da Assembleia Legislativa de Goiás, em Goiânia
Foto: Reprodução/TV Anhanguera 




Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG

Goiânia, 11 de agosto de 2023



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