Estamos no tempo litúrgico do Natal, que vai até o dia 11 de janeiro/26: 2º domingo do mês e Festa do Batismo de Jesus.
Em geral, nas Celebrações do Natal fazemos a memória, ou seja, tornamos presente hoje o nascimento de Jesus, mas não refletimos - salvo poucas exceções - sobre o caminho que Maria grávida e José fizeram antes de Jesus nascer e o lugar onde Ele nasceu.
“Naqueles dias, o imperador Augusto publicou um decreto, ordenando o recenseamento em todo o Império. Esse primeiro recenseamento foi feito quando Quirino era governador da Síria. Todos iam registrar-se, cada um na sua cidade natal. José era da família e descendência de Davi. Subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, até à cidade de Davi, chamada Belém, na Judéia, para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Enquanto estavam em Belém, se completaram os dias para o parto e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles dentro da casa” (Lc 2,1-7).
Jesus nasceu como sem-teto e tudo indica que - ainda no seio de sua mãe Maria e junto com seu pai José - foi morador de rua em Belém.
Os próprios textos litúrgicos e os padres ou ministros que coordenam as Celebrações do tempo do Natal não falam nada sobre a manjedoura do estábulo onde Jesus nasceu e sobre o seu significado para nós hoje. Cito três exemplos:
Na Missa da Noite de Natal - no Anúncio do Natal - lemos: “Jesus Cristo, Deus eterno e Filho do eterno Pai, querendo santificar o mundo com o seu misericordioso advento, concebido pelo Espírito Santo, decorridos nove meses após a sua concepção, nasceu em Belém de Judá, da Virgem Maria, feito homem: natividade de nosso Senhor Jesus Cristo segundo a carne”.
Na mesma Missa - na Oração depois da Comunhão - rezamos: “Senhor nosso Deus, ao celebrarmos com alegria o Natal de Nosso Redentor, dai-nos alcançar, por uma vida santa, seu eterno convívio”.
E ainda: na Missa do Dia de Natal - também na Oração depois da Comunhão - rezamos: “Que o Salvador do mundo, hoje nascido, como nos fez nascer para a vida divina, nos conceda também a imortalidade”.
Pergunto: Por que Jesus nasceu na manjedoura de um estábulo? O que Ele quis nos dizer com isso?
O que significam para nós as palavras: “Não havia lugar para eles dentro de casa”? Em nossa realidade de hoje, há lugar para Jesus nascer dentro de casa? Onde Jesus nasce? Meditemos!
Na Região Metropolitana de Goiânia - por exemplo - com certeza Jesus continua nascendo hoje como sem-teto nas Ocupações: Paulo Freire, Zumbi dos Palmares, Marielle Franco, Terra Prometida, Alto da Boa Vista e Beira da Mata (entre outras), onde nossos irmãos e irmãs lutam pelo direito à moradia digna, que é um direito fundamental de todo ser humano.
É nessas Ocupações e a partir delas que acontece hoje o nascimento de Jesus na vida de todos e todas aqueles e aquelas que querem ser seus seguidores e suas seguidoras.
Na Região onde Jesus nasceu “havia pastores, que passavam a noite nos campos tomando conta do rebanho. Um anjo do Senhor apareceu aos pastores; a glória do Senhor os envolveu em luz, e eles ficaram com muito medo. Mas o anjo disse aos pastores: ‘Não tenham medo! Eu anuncio para vocês a Boa Notícia, que será uma grande alegria para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor. Isto lhes servirá de sinal: vocês encontrarão um recém-nascido, envolto em faixas e deitado na manjedoura’. De repente, juntou-se ao anjo uma grande multidão de anjos. Cantavam louvores a Deus, dizendo: ‘Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados’” (Lc 2, 8-14).
Quando os anjos voltaram para o céu, “os pastores combinaram entre si: ‘Vamos a Belém, ver esse acontecimento que o Senhor nos revelou’. Foram então, às pressas, e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura. Tendo-o visto, contaram o que o anjo lhes anunciara sobre o menino. E todos os que ouviam os pastores, ficaram maravilhados com aquilo que contavam. Maria, porém, conservava todos esses fatos, e meditava sobre eles em seu coração. Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que haviam visto e ouvido, conforme o anjo lhes tinha anunciado” (Lc 2, 15-20).
Os pastores foram os primeiros que receberam a Boa Notícia do nascimento de Jesus. Eles eram os “sem-terra” da época, mal-vistos pelos poderosos, porque ocupavam as grandes propriedades com seus rebanhos de ovelhas. Segundo uma lei daquele tempo, um pastor não podia ser testemunha em Tribunal. Não era considerado uma pessoa idônea.
Pessoalmente, neste Natal, não ouvi nenhum padre ou ministro (certamente houve alguns) que - coordenando a Celebração - falasse claramente sobre o significado para nós hoje do nascimento de Jesus como sem-teto na manjedoura de um estábulo.
Ora, é a partir do seu nascimento como sem-teto, que Jesus continua nascendo hoje para todos aqueles e aquelas que querem ser seus seguidores e seguidoras.
Um feliz tempo de Natal e um Ano Novo de muitas vitórias para todos e todas nós que lutamos por um Mundo Novo. À luz da fé, é o Reino de Deus acontecendo na história do Ser humano e da Irmã Mãe Terra, Nossa Casa Comum.
Marcos Sassatelli, frade dominicanoDoutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP) Professor aposentado de Filosofia da UFGE-mail: mpsassatelli@uol.com.br - Cel. e WA: (62) 9 9979 2282
Goiânia, 28 de dezembro de 2025
Paróquia Nossa Senhora da Terra - Jardim Curitiba 3 - Goiânia - GO - Natal de 2021
Por representar uma mulher pobre com o menino Jesus pobre,
sumiram com a imagem original de Nossa Senhora da Terra.
Pergunto: será que uma mulher rica dá à luz na manjedoura de um estábulo?
Quanta hipocrisia!
Paróquia Nossa Senhora da Terra - Jardim Curitiba 3 - Goiânia - GO - Natal de 2021
Por representar uma mulher pobre com o menino Jesus pobre,
sumiram com a imagem original de Nossa Senhora da Terra.
Pergunto: será que uma mulher rica dá à luz na manjedoura de um estábulo?
Quanta hipocrisia!

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