No discurso da primeira convenção nacional do
PT, em 1981, Lula afirmava que o partido então criado, era “uma inovação
histórica” e vinha para livrar a classe trabalhadora da condição de “massa de
manobra dos políticos da burguesia”. Dizia que o sindicato é a ferramenta
adequada para melhorar as relações entre o capital e o trabalho, mas que o
partido existe para ir além: “Queremos que os trabalhadores sejam os donos dos
meios de produção e dos frutos de seu trabalho”. Afirmava que “o mundo caminha
para o socialismo” e que o PT, com sua mística radical, não tinha como objetivo
“buscar paliativos para as desigualdades do capitalismo” (Cf. Leo Lince. Lula,
a metamorfose que ambula, 14/04/11 – www.correiocidadania.com.br). Lula, quem
te viu e quem te vê!
Em fevereiro/11 escrevi um artigo com o
título “Lula, um ex-operário deslumbrado pelo poder” (Cf. Diário da Manhã,
Opinião Pública, 07/02/11, p. 18). Hoje
acrescento que Lula é também um ex-presidente - ex-sindicalista e ex-operário -
obcecado pela fama. Como o ex-presidente Lula pode ser tão oportunista e
renegar sua própria história; como pode ser tão ambicioso e tão ganancioso, até
o ponto de - como palestrante de luxo a serviço dos interesses dos banqueiros e
das multinacionais - vender sua própria dignidade humana, traindo seus
ex-companheiros. É realmente um comportamento repugnante e totalmente
antiético.
Vejam só que absurdo! Lula, o novo empresário
e o novo rico, tornou-se o palestrante mais caro do Brasil. Segundo noticiou a
imprensa, o ex-presidente cobra por uma palestra um cachê que vai de R$ 200 mil
a cerca de R$ 790 mil (por enquanto!). Em março/11, a multinacional LG foi a
primeira a contratar o Lula para uma palestra no Brasil, com cachê de R$ 200
mil. A multinacional Telefônica convidou o Lula para uma palestra em Londres,
com cachê de cerca US$ 300 mil. Lula foi também a Washington, a convite da
Microsoft, e a Acapulco, a convite da Associação dos Bancos do México. No dia 4
de maio/11, o Lula fez palestra em São Paulo, a convite do Bank of América
Merril Lynch. Reparem: quando Lula vai ao exterior, viaja quase sempre em
jatinho particular. Como custa caro o ex-operário, ex-sindicalista e
ex-presidente Lula! Parece o mais valioso mascote dos detentores do poder
econômico mundial! É inacreditável que ainda existam pessoas dispostas a ouvir
as baboseiras do Lula, falando de si mesmo (se autoelogiando), dos feitos de
seu governo e do aumento da presença (que tipo de presença?) do Brasil no
cenário dos “donos” do mundo.
Sempre segundo noticiou a imprensa, o Lula
aceitou também o convite da multinacional LG para fazer palestra na Coréia do
Sul, com cachê de US$ 500 mil (cerca de R$ 790 mil). Se confirmado o evento na
Coréia do Sul, em três ou quatro meses, a receita do Lula em moeda estrangeira
chegará a US$ 1,2 milhão. Trata-se realmente de uma afronta aos trabalhadores
(ex-companheiros de Lula) e de um pontapé na cara dos pobres. Trata-se de um
dinheiro que é fruto da exploração dos trabalhadores pelas multinacionais e,
portanto, de um roubo legalizado. O pior é que Lula sabe disso.
A assessoria de Lula não confirma o valor do
cachê das palestras do ex-presidente e Paulo Okamoto - sócio do novo empresário
petista Lula na empresa LILS - diz cinicamente que “é segredo de Estado” (Cf.
Folha de S. Paulo, 04/05/11, p. A9). Que desrespeito para com o povo! Que
vergonha!
Esses fatos são mais que suficientes para
provar que Lula - como diz o sociólogo Leo Lince - é “a metamorfose que
ambula”. Pessoalmente acho que, desde a campanha para o 1º mandato de
presidente da República quando quis ganhar as eleições a qualquer custo e com
qualquer meio, Lula traiu os trabalhadores, seus ex-companheiros, aliou-se aos
detentores do poder econômico mundial e usou sua popularidade (melhor seria
dizer: seu populismo) a serviço dos interesses deles.
Permito-me sonhar! Como seria diferente se
Lula, em suas palestras, fosse aliado e porta-voz dos trabalhadores,
denunciando a exploração das multinacionais e dos banqueiros (que, diga-se de
passagem, no governo Lula tiveram o maior lucro já conseguido até o presente),
as estruturas de injustiça e a iniqüidade do atual sistema econômico mundial.
Nesse caso, seriam os movimentos populares e os sindicatos autênticos dos trabalhadores
a convidar Lula para proferir palestras, e não os banqueiros e as
multinacionais. Lula não ganharia cachês milionários, mas ganharia um cachê
muito mais valioso que seria a felicidade de servir gratuitamente. Nada vale
mais que a felicidade e a alegria da missão cumprida.
Em todo esse contexto, é mais do que oportuna
a advertência do apóstolo Tiago, também
para os novos ricos como Lula: “E agora vocês, ricos: comecem a chorar e gritar
por causa das desgraças que estão para cair sobre vocês. Suas riquezas estão
podres, suas roupas estão roídas pela traça; o ouro e a prata de vocês estão
enferrujados; e a ferrugem deles será testemunha contra vocês, e como fogo lhes
devorará a carne. Vocês amontoaram tesouros para o fim dos tempos. Vejam o
salário dos trabalhadores que fizeram a colheita nos campos de vocês: retido
por vocês, esse salário clama, e os protestos dos cortadores chegaram aos
ouvidos do Senhor dos exércitos” (Tg 5, 1-4).
Lembremos: não são os milhões de dólares que
fazem o ser humano feliz e realizado!
Diário da Manhã, Opinião Pública,
Goiânia, 13/05/11, p. 5
Fr. Marcos Sassatelli,
Frade dominicano
Doutor em Filosofia
(USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da
UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação
em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana
Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do
Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial
da Paróquia Nossa Senhora da Terra
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
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