O
tempo litúrgico do Natal inicia com as primeiras vésperas da solenidade do
Natal do Senhor e - incluindo a solenidade da Epifania do Senhor (dos Santos
Reis) - vai até a festa do Batismo do Senhor. È um “tempo forte” de graça de Deus
e, portanto, de espiritualidade humana e cristã
No Natal do Senhor fazemos a memória,
ou seja, tornamos presente hoje o nascimento de Jesus Cristo, celebramos a
“troca de dons entre o céu e a terra” e pedimos que, já neste mundo, possamos
“participar da divindade daquele que uniu ao Pai a nossa humanidade” (Missa da
Noite de Natal. Oração sobre as Oferendas).
Na Epifania do Senhor, fazemos a
memória e celebramos a manifestação de Jesus Cristo, Filho de Deus, “luz para
iluminar todos os povos no caminho da salvação” (Prefácio da Epifania do
Senhor), que é o caminho da felicidade, que é o caminho da perfeição humana (da
plena realização humana) dentro do plano de Deus, que é, em outras palavras, o
caminho da busca do verdadeiro sentido da vida humana e de todas as formas de
vida.
Durante o tempo litúrgico do Natal,
“cantamos, com a euforia dos profetas e evangelistas de todos os tempos, o
mistério da encarnação (Natal) e da manifestação (Epifania) do Verbo (Palavra)
de Deus, do Príncipe da Paz, do Emanuel (Deus conosco). Os pobres ao nos
ouvirem, acorrerão pressurosos até o presépio. A Boa Notícia é sobretudo para
eles, embora seja de alegria para todos os povos” (Diretório da Liturgia. Canto
e Música na Liturgia. Cantar o Natal do Senhor).
“Para os que habitavam nas sombras da morte
(nas trevas), uma luz resplandeceu. Fizestes crescer a alegria e aumentaste a
felicidade. Todos se regozijam em tua presença” (Is 9, 1-2). “Vimos sua estrela
no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2, 2).
Terminando, pois, o tempo litúrgico
do Natal, na festa do Batismo do Senhor fazemos a memória e celebramos a
consagração de Jesus Cristo para a missão, revivemos e renovamos a nossa
consagração batismal, e somos confirmados na missão de ser luz das nações e
anunciadores da Boa Notícia do Reino.
Perguntemo-nos agora: Como aconteceu
o Natal de Jesus? Em que contexto social ele se deu? Enquanto Maria e José estavam
em Belém para o recenseamento, “completaram-se os dias para o parto, e Maria
deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou, e o colocou na manjedoura,
pois não havia lugar para eles na hospedaria" (ou, "dentro de casa”)
(Lc 2, 6-7).
Os primeiros que receberam a Boa Notícia do
nascimento de Jesus foram os pastores. "Eu anuncio a vocês a Boa Notícia,
que será uma grande alegria para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu
para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor. Isto lhes servirá de sinal:
vocês encontrarão um recém-nascido, envolto em faixas e deitado na
manjedoura" (Lc 2, 10-12). Os pastores foram às pressas se encontrar com
Maria e José, e o recém-nascido. Voltaram louvando e glorificando a Deus, e
tornaram-se os primeiros anunciadores da Boa Notícia do nascimento de Jesus.
Os pastores eram pessoas "odiadas por
não respeitar as propriedades alheias, invadindo-as com seus rebanhos e
cobrando preços exorbitantes pelos produtos. Um pastor - segundo o Talmud
babilônico - não podia ser eleito ao cargo de juiz ou testemunha nos tribunais,
por causa da má fama e do desrespeito à propriedade" (Pe. José Bortolini,
Roteiros homiléticos. Paulus, 2006, p. 3 - Missa da noite de Natal). Os
pastores não eram, portanto, "pessoas de bem".
Jesus, diríamos hoje, nasceu como
"sem-teto" e anunciou a Boa Notícia do seu nascimento aos
"sem-terra" (os pastores). Nasceu rejeitado e excluído. "Veio
para a sua casa, mas os seus não o receberam" (Jo 1, 11). O Filho de Deus,
o Salvador do mundo, não só se encarnou, assumindo a nossa natureza e a nossa
condição humana na história, mas tornou-se solidário - afetiva e efetivamente -
com todos aqueles/as que no mundo não têm voz e não têm vez, com todos
aqueles/as que não "cabem" nas casas das nossas cidades: os
empobrecidos, os oprimidos, os excluídos, os indesejados, os rejeitados e os
descartados da nossa sociedade. Jesus se identificou totalmente com eles/elas,
tornando-se um deles/delas.
É verdade que Jesus veio para todos/as, mas o
caminho que Ele escolheu, para anunciar ao mundo a Boa Notícia do Reino de
Deus, não foi o caminho dos poderosos (dos Herodes de ontem ou de hoje), mas o
caminho dos pobres, que é um caminho alternativo (Cf. o meu Artigo: Jesus o
“sem teto” de Belém. Em: www.adital.com.br
- 10/01/11). E nós, os cristãos e as cristãs, será que escolhemos o caminho de
Jesus?
Perguntemo-nos ainda: O que o Natal de Jesus representa
para nós hoje? Um dia, "enquanto ia andando, alguém no caminho disse a
Jesus: 'Eu te seguirei para onde quer que fores', mas Jesus lhe respondeu: 'As
raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde
repousar a cabeça'” (Lc 9, 57-58). E, num outro encontro com os discípulos,
Jesus acrescentou: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua
cruz e me siga” (Mt 16, 24).
Será que nós, os cristãos e as cristãs, queremos
realmente seguir Jesus”, procurando “discernir os 'sinais dos tempos' à luz do
Espírito Santo” e nos colocando a serviço do Reino de Deus, a partir dos pobres?
(Documento de Aparecida - DA, 33). “O seguimento de Jesus é fruto de uma
fascinação que responde ao desejo de realização humana, ao desejo de vida
plena. O discípulo é alguém apaixonado por Cristo, a quem reconhece como o
mestre que o conduz e o acompanha” (DA, 277). “Eu vim para que todos tenham
vida, e a tenham em abundância” (Jo 10-10).
“Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz
na terra aos homens e às mulheres por ele amados e amadas” (Lc 2, 14).
Diário da Manhã, Opinião Pública, Goiânia,
26/12/11, p. 06
Fr. Marcos Sassatelli, Frade
dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em
Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG
(aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em
Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e
Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato
Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da
Paróquia Nossa Senhora da Terra
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