segunda-feira, 19 de setembro de 2016

22º Grito dos Excluídos “Este sistema é insuportável: exclui, degrada, mata!”




             No dia 8 de julho de 2016, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), através da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, enviou a todos os bispos e agentes de pastoral da Igreja uma “Carta de apoio ao 22º Grito dos Excluídos”.
            A Carta diz: “O Grito dos/as Excluídos/as está completando 22 anos e já alcançou dimensão continental. Nasceu a partir da Campanha da Fraternidade de 1995, cujo tema era ‘Fraternidade e os excluídos’ e o lema: ‘Eras tu, Senhor?’. Ao contemplar as faces da exclusão na sociedade brasileira, setores ligados às Pastorais Sociais da Igreja optaram por estabelecer canais de diálogo permanente com a sociedade promovendo, a cada ano, na semana da Pátria, o Grito dos/as Excluídos/as. Em seu percurso, o Grito experimentou desafios e dificuldades e soube, acima de tudo, manter, com liberdade profética, sua presença crítica diante da desafiante situação de exclusão que persiste para grande parte da população brasileira”.
A Carta lembra: “O Grito dos/as Excluídos/as não se limita ao 7 de setembro. Vai além. Em preparação ao evento são promovidos debates, seminários, fóruns temáticos e conferências envolvendo entidades, instituições, movimentos e organizações da sociedade civil fortalecendo as legítimas reivindicações sociais e reforçando a presença solidária da Igreja junto aos mais vulneráveis, sintonizando-a aos seus anseios e possibilitando a construção de uma sociedade mais justa e solidária”.
Diz ainda: “Em 2016, o 22º Grito dos/as Excluídos/as tem como lema ‘Este sistema é insuportável: exclui, degrada, mata!’. O lema inspira-se no discurso do Papa Francisco durante o 2º Encontro Mundial com os Movimentos Populares, ocorrido na Bolívia, em 2015. Nele, o Papa conclama a promovermos mudanças que transformem este sistema capitalista depredador para uma economia a serviço da vida e dos povos”.
A Carta termina reafirmando o compromisso da Igreja com os/as Excluídos/as e faz um caloroso pedido aos bispos e agentes de pastoral: “Comprometemo-nos a continuar gritando pela vida em primeiro lugar. Solicitamos-lhes, mais uma vez, o efetivo apoio à essa iniciativa que renova a esperança dos pobres e os torna sujeitos de uma nova sociedade, sinal do Reino de Deus” (Dom Guilherme Antônio Werlang. Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz - CNBB).
É com muita indignação, mas por amor à Igreja (eu também sou Igreja) que faço agora uma denúncia: infelizmente, a maioria das nossas Igrejas (dioceses, paróquias, comunidades) nem tomou conhecimento da Carta da CNBB. É lamentável! É um grave pecado de omissão! Lutemos por “uma Igreja pobre, para os pobres, dos pobres e com os pobres”! É a Igreja de Jesus de Nazaré!
Neste clima de retrocesso eclesial que estamos vivendo hoje no Brasil e na América Latina - em relação à renovação do Concílio Vaticano II e de Medellín - aproveito para fazer um apelo às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) do Brasil: em união com a Coordenação Nacional do Grito dos Excluídos, as Pastorais Sociais e os Movimentos Populares assumam no Brasil inteiro - a partir do próximo ano - a articulação do Grito dos Excluídos para que seja realmente um Grito cada vez mais forte e ouvido por todos e todas. Sejamos uma Igreja profética! Como diz Dom Helder Câmara: “não deixemos a profecia cair!”.
Mesmo no contexto do impeachment (um verdadeiro golpe político parlamentar), onde - nas manifestações de resistência e de luta pela defesa dos direitos dos trabalhadores/as - predominaram (e ainda predominam) os slogans “Fora Temer!” e “Diretas já!”, no dia 7 de setembro o Grito dos/as Excluídos/as aconteceu - com maior ou menor participação - no Brasil todo: nas capitais e em muitas outras cidades.
As palavras do lema “este sistema é insuportável: exclui, degrada, mata!” - que são do Papa Francisco aos participantes do 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares na Bolívia, em julho de 2015 - definem, de maneira muito clara, a iniquidade estrutural do sistema capitalista neoliberal no qual vivemos.  
 “Os seres humanos e a natureza - afirma Francisco - não devem estar a serviço do dinheiro. Digamos não a uma economia de exclusão e desigualdade, na qual o dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata. Esta economia exclui. Esta economia destrói a mãe terra”. “A propriedade, sobretudo quando afeta os recursos naturais, deve estar sempre em função das necessidades das pessoas. E estas necessidades não se limitam ao consumo”.
“O novo colonialismo - continua o Papa - assume variadas fisionomias. Às vezes é o poder econômico do ídolo dinheiro, outras são os tais tratados de ‘livre comércio’. A concentração monopolista dos meios de comunicação social que pretende impor padrões alienantes de consumo e certa uniformidade cultural é outra das formas que adota o novo colonialismo. É o colonialismo ideológico. Digamos não às velhas e novas formas de colonialismo. Digamos sim ao encontro entre povos e culturas”.
“A casa comum de todos nós está sendo saqueada, devastada, arrasada impunimente. A covardia em defendê-la é um pecado grave, vemos com crescente decepção, sucederem-se uma após outra conferências internacionais, sem qualquer resultado importante. Peço-vos em nome de Deus que defendais a mãe terra”.
O informativo “Insaciável riqueza, sempre mais para os que já têm tudo”, apresentado pela ONG britânica, OXFAM, na abertura do Fórum Econômico de Davos, em janeiro 2016, denuncia: “em, 2009, 1% dos mais ricos do planeta tinham um patrimônio igual a 44% da riqueza mundial; em 2014 o patrimônio desse 1% aumentou para 48% da riqueza; e, em 2016 esse 1% terá um patrimônio equivalente a 50% da riqueza mundial. Isto quer dizer que este pequeno grupo de 1% dos multimilionários terá em suas mãos um patrimônio maior do que os restantes 99% da população mundial”.
Esse dado concreto mostra-nos que o sistema capitalista neoliberal - um “sistema insuportável” - é diabólico. Tornou-se hoje a institucionalização legalizada do Antirreino de Deus na história do ser humano e do mundo.
Lutemos, unidos e organizados, por um sistema alternativo, justo e igualitário. A esperança nunca morre!
(Mais informações sobre o Grito dos/as Excluídos/as 2016 em: http://www.gritodosexcluidos.org/pdf/jornal_grito_64.pdf). 





Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 14 de setembro de 2016

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Um impeachment sem crime e uma advogada de acusação blasfema


A fim de conseguir seus objetivos, as forças políticas reacionárias brasileiras, sem nenhum crime comprovado (e os advogados de acusação sabem disso), usaram todas as artimanhas jurídicas para derrubar - com um golpe político parlamentar, tramado há anos de maneira traiçoeira e covarde - a presidenta, democraticamente eleita, Dilma Rousseff. Todos aqueles e aquelas que, de alguma forma, mesmo que minimamente, ousam ameaçar o projeto capitalista neoliberal, devem ser destruídos/as e eliminados/as. É uma prática política diabólica. É uma iniquidade institucionalizada.
A grande maioria dos senadores e senadoras - com poucas e honrosas exceções - são políticos comprovadamente corruptos e oportunistas. Eles e elas não tinham moral para julgar e votar a condenação da presidenta Dilma.
Depois de receber a notícia da aprovação do impeachment, Michel Temer (nego-me a chama-lo de presidente, por ser ilegítimo) esboçou um sorriso de satisfação irônico e, ao mesmo tempo, sádico. Parecia querer dizer: consegui! Antes e durante o processo do impeachment, Michel Temer comportou-se como um político covarde, traidor e golpista. Seu governo é o de um usurpador.
Infelizmente, o grande erro - raiz de todos os outros - dos governos de Lula e Dilma foi ter acreditado que as galinhas poderiam fazer alianças com as raposas.
Eleitores e eleitoras vamos gravar bem o nome dos senadores e senadoras que (sem crime comprovado) votaram a favor da condenação da Presidenta Dilma, para que nas próximas eleições, esses políticos corruptos e oportunistas sejam banidos para sempre da vida pública. Vejam na internet a lista dos nomes desses políticos. Eles e elas não merecem o nosso voto.
Nesse processo de impeachment, um fato - que nos encheu a todos e a todas de profunda indignação - merece o nosso mais veemente repúdio. No dia 30 de agosto/16, na sessão do julgamento da Presidenta Dilma, a advogada de acusação Janaína Paschoal abriu a fase de debates, fazendo um discurso encenado, repugnante e, ao mesmo tempo, ridículo. Foi uma farsa inadmissível e inaceitável.
Em seu discurso, a Janaína - uma verdadeira advogada do mal (ao menos nesse caso) - usou todos os artifícios legais para tentar justificar aquilo que ela mesma sabe ser totalmente injusto. Vejam o que a advogada - numa atitude de desrespeito para com a Presidenta Dilma e numa arrogância simulada de bondade, própria dos covardes - afirmou: "Eu finalizo pedindo desculpas para a Senhora Presidenta da República não por ter feito o que era devido, porque eu não podia me omitir diante de tudo isso. Eu peço desculpas porque eu sei que a situação que ela está vivendo não é fácil. Eu peço desculpas porque eu sei que, muito embora esse não fosse o meu objetivo, eu lhe causei sofrimento. E eu peço que ela um dia entenda que eu fiz isso pensando também nos netos dela". Que cinismo! Que hipocrisia! É cruel e totalmente desumano, uma advogada pedir a condenação da presidenta Dilma e dizer que fez isso pensando em seus netos.
Janaína reafirmou que o processo de impeachment seguiu todos os ritos legais. "Para que o povo brasileiro tenha consciência tranquila de que nada fora do que é legal e do que é legítimo está sendo feito nesta oportunidade”. Que descaramento! Como pode uma advogada dessa laia falar em consciência tranquila?
            A Janaína disse também que o processo de impeachment "é do povo". "É não só dos movimentos sociais que nos apoiaram, mas esse processo é de cada um dos brasileiros que se manifestou e deu forças para que conseguíssemos chegar até aqui”. Que mentira! Que falsidade! As lágrimas que derramou, numa cena teatral de choro, foram a expressão mais nojenta do fingimento.
Depois de aprovado o impeachment, a advogada afirmou que, com a saída de Dilma, tinha a sensação do “dever cumprido”. É o cúmulo do farisaísmo!
Em toda essa farsa diabólica, juridicamente muito bem orquestrada, ela declarou ainda: "Foi Deus que fez que, ao mesmo tempo, várias pessoas percebessem o que estava acontecendo no país" e se organizassem para iniciar o processo do impeachment.
Janaína Paschoal, como pessoa de fé e religioso, quero adverti-la: usar o nome de Deus para justificar as conspirações maldosas de políticos e seus advogados, é uma blasfêmia muito grave. Tome cuidado, advogada! Deus é justo! Aguarde!
Apesar das críticas que, na ótica dos pobres, já fiz e continuo fazendo aos governos Dilma, neste momento político - que nacional e internacionalmente envergonha o Brasil - manifesto total solidariedade e irrestrito apoio à presidenta injustamente condenada.
A esperança nunca morre e a luta continua! Com certeza, um dia haveremos de cantar: “Vitória, tu reinarás”!

            





Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 07 de setembro de 2016 

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Violência contra os Pobres: mais um despejo cruel



“São cruéis as imagens dos despejos forçados, dos tratores derrubando barracos, imagens tão parecidas às da guerra. E isso se vê hoje”
(Papa Francisco)

Na manhã do dia 15 de agosto do corrente ano, a Polícia Militar, mediante ordem judicial, realizou - com muita brutalidade e truculência - a desocupação de um terreno particular, localizado no Residencial Della Penna (Região Noroeste), em Goiânia. Que desumanidade!
A ação teve início por volta das 7h da manhã. Cerca de 500 famílias moravam na área, alegando falta de condições para pagar aluguel ou ter uma casa própria. Uma pá carregadeira foi usada para destruir as moradias, levando também os móveis e outros objetos. Os moradores tentaram retirar materiais usados na construção das casas e barracos. No local sobrou somente o rastro da destruição, com vários eletrodomésticos e materiais espalhados pelo terreno. A destruição causou revolta nas famílias e algumas pessoas, em protesto contra a ação da PM, atearam fogo num barraco de madeira e, por causa do vento, as chamas se espalharam por toda parte. Foi preciso acionar uma equipe do Corpo de Bombeiros para controlar o incêndio.
Um dos representantes do grupo de moradores, Rogério Cunha, informou que a reintegração de posse foi feita sem nenhuma negociação direta com as famílias e sem nenhuma solução para que o governo possa atender os desabrigados. Cunha ainda afirmou que as famílias desamparadas, que não têm casa de parentes ou amigos para se abrigar, serão levadas para a Prefeitura.
(Cf. http://www.dm.com.br/cotidiano/2016/08/500-familias-sao-retiradas-de-invasao-de-terreno-particular-em-goiania.html e http://www.ohoje.com.br/noticia/cidades/n/122242/t/familias-sao-obrigadas-a-desocupar-terreno).
Reparem a violência policial. Uma verdadeira barbárie! Vejam o vídeo que registrou alguns momentos dessa violência em:
Que atraso! Que vergonha para o Estado de Goiás e o Município de Goiânia!
Embora em proporções bem menores, repetiu-se o que aconteceu em 2005 na ocupação “Sonho Real” do Parque Oeste Industrial. É esse o comportamento “normal” da PM para com os trabalhadores/as. Parece até que a Polícia Militar foi formada para ter esse tipo de postura. Estamos mais uma vez diante de um caso de violência policial programada pelo Poder Público (o principal responsável), que com certeza - como aconteceu com os outros casos - ficará impune. Infelizmente, a nossa justiça é a “justiça” dos ricos e para os ricos. Os pobres não contam, são “sobras”.
De acordo com informações da assessoria de imprensa da Secretaria de Planejamento Urbano e Habitação de Goiânia (SEPLANH), o cadastramento das famílias que ocupavam o terreno já estava sendo acordado, mas as famílias “não souberam esperar”. Pergunto ao Secretário Municipal, Sebastião Leite Ferreira: esperar onde? No meio da rua? Por que as famílias - mesmo que fosse necessária a mudança de lugar - não podiam esperar o assentamento definitivo na ocupação?
Conforme foi publicado na mídia, o Secretário “tem bom trânsito entre empresários do setor imobiliário, já que advoga para grandes construtoras” (http://www.opopular.com.br/editorias/blogs/fabiana-pulcineli/fabiana-pulcineli-1.526/paulo-garcia-troca-secret%C3%A1rio-de-planejamento-1.1020130). Será mera coincidência?
Pergunto agora ao Prefeito Paulo Garcia: Por que não nomear um Secretário que tem bom trânsito entre os Sem-Teto? É uma questão de opção política!
Os poderosos deste mundo tomem cuidado! Deus está do lado dos pobres. “Eu ouvi o clamor do meu povo contra seus opressores e conheço os seus sofrimentos. Por isso, desci para libertá-lo” (Ex 3,7-8). Como já disse em outra ocasião, os coronéis urbanos e rurais (grandes empresários do setor imobiliário e latifundiários) - que vivem da especulação e da exploração dos trabalhadores/as – lembrem-se: os bens materiais que com tanta ganância acumulam, na hora da morte não caberão dentro do caixão, mesmo que seja de luxo. E os governantes que - com a prática comum da propina - estão a serviço dos interesses dos poderosos, tomem cuidado também! Deus é justo!
No Brasil (sobretudo, em Goiás) os pobres são tratados pelo Poder Público (a grande maioria dos membros do Executivo, Legislativo e Judiciário) como “material descartável” ou “lixo humano”, e os Movimentos Populares (MST, MTST e outros) - que lutam pelos direitos humanos de todos/as - como organizações criminosas.
Que pais é esse? Que Estado é esse? Vivemos numa situação de guerra permanente, institucionalizada e legalizada, contra os trabalhadores/as. O Poder Público, com sua prática política, demonstra claramente que está a serviço dos detentores do poder econômico (uma minoria) e de seus interesses. O que prevalece sempre é a ganância por um lucro cada vez maior, às custas da miséria do povo. Em geral, os poderosos são verdadeiros criminosos de “colarinho branco”, mas fazem questão de se apresentar na sociedade como “pessoas de bem”. Que hipocrisia!
Enfim, manifestamos nossa total solidariedade e irrestrito apoio às famílias despejadas, vítimas da barbárie de um Poder Público retrógrado e ditatorial. Manifestamos também a mesma solidariedade e o mesmo apoio ao Movimento de Trabalhadores Sem Teto (MTST) - presente em Goiás e em muitos Estados do Brasil - e a todos os Movimentos Populares que lutam pelo direito à moradia de qualidade para todos/as, que - como diz o Papa Francisco - é um direito sagrado.
Em tempo: hoje, 31 de agosto/16, o Brasil está de luto! O golpe parlamentar aconteceu! A democracia foi gravemente ferida! Oremos! Continuemos a luta! Um outro Brasil é possível e necessário!




Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 31 de agosto de 2016

Unidos e unidas em defesa do SUS


Na Nota “Plano de Saúde Acessível ou o desmonte do SUS?”, do dia 6 de agosto, o Projeto Direitos Sociais e Saúde: Fortalecendo a Cidadania e a Incidência Política - “vem a público repudiar totalmente a portaria 1.482/2016, assinada pelo ministro interino Ricardo Barros, que institui um grupo de estudo para criação do Plano de Saúde Acessível. É importante lembrar que a saúde, como estabelece nossa Constituição Federal, é dever do Estado e direito de todos e todas, não cabendo a nenhuma iniciativa privada sua financeirização. Saúde não é mercadoria”.
Precisamos com urgência nos unir na defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) e contra o seu desmonte, que é sempre apresentado de forma disfarçada e com desculpas esfarrapadas. O que o ministro interino Ricardo Barros está fazendo é um desrespeito para com os trabalhadores e trabalhadoras, que - com os impostos - pagam por uma saúde pública de qualidade.
“A portaria - afirma a Nota - é uma afronta a redes, entidades e movimentos que, há décadas, atuam em defesa da saúde pública - sobretudo na atual conjuntura política na qual nos encontramos. Através de uma ação arbitrária e autoritária, a decisão de criar um grupo de estudo com este fim sequer passou pelo Conselho Nacional da Saúde (CNS). O que é mais grave: deslegitima e desconsidera os espaços de controle social da saúde em nosso país”.
Essa denúncia merece todo nosso apoio. Não podemos permitir a privatização da saúde pública, direito conquistado com muita luta do povo.
“A proposta colocada por Barros - lembra a Nota - é ilegítima e inconstitucional, pois não respeita o artigo 196 da CF que, de forma, muito clara afirma que saúde é direito, com garantia universal e igualdade para todas as pessoas que vivem no Brasil. Esta portaria só comprova a intenção de desmonte do SUS, onde os mais atingidos serão - como sempre - os mais pobres e excluídos e que dependem exclusivamente do sistema de saúde pública”.
Infelizmente, para o governo do “golpista interino” Michel Temer, os pobres e os excluídos não contam, são material descartável.
Ao invés de pensar no desmonte do SUS e na privatização da saúde, criando o chamado Plano de Saúde Acessível, o governo deveria cobrar as dívidas das empresas sonegadoras do fisco, taxar as grandes fortunas (incluindo as heranças), taxar os lucros exorbitantes dos bancos (que são uma afronta aos trabalhadores e às trabalhadoras) e acabar com a corrupção pública. É essa a receita para que nunca faltem recursos para uma saúde pública de qualidade para todos e todas. O resto é conversa mole para boi dormir ou - o que é pior - hipocrisia e farisaísmo.
Enfim, a Nota faz a memória das lutas pelo direito à saúde pública. “Nossa história e militância nos mostram que planos de saúde privados não são a solução para resolver a questão da saúde no Brasil. O Plano de Saúde Acessível confirma a política privatista e a financeirização sobre direitos básicos que o governo interino insiste em nos impor. Não vamos nos render a isso e vamos nos somar a iniciativas jurídicas que revoguem esta portaria. É importante lembrar que o nosso sistema de saúde já é financiado por todos através do pagamento dos impostos”.
E termina reafirmando a vontade de continuar lutando em defesa do SUS. “Saímos - e sempre sairemos - em defesa do SUS e contra qualquer forma de desmonte da Seguridade Social. Nós, brasileiros e brasileiras, já temos nosso modelo e sistema de saúde pública, que é exemplo para todo o mundo. Não estamos falando de uma parcela insignificante da população do país. Somos mais de 70% de usuários e usuárias do SUS. É do lado dessas pessoas que estamos. Não abriremos mão deste direito”.

É com essa garra que - unidos e organizados - venceremos!




Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 24 de agosto de 2016

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Recado aos Senadores e Senadoras



A Esperança continua nos iluminando e nos levando à ação”

A Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP) - vinculada à Comissão Pontifícia Justiça e Paz (Roma) e relacionada com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - em Nota Pública, “frente à grave situação político-econômica brasileira, conclama ao diálogo e à busca de soluções democráticas que preservem as conquistas e os direitos do nosso povo”.
Senadores/as do Brasil, dirijo-me a vocês. É notório que a maioria de vocês não está preocupada em “dialogar”, em “buscar soluções democráticas” e em “preservar as conquistas e os direitos do nosso povo”. Comecem a fazer o exame de consciência!
Diz a CBJP: “Democracia é respeito à vontade do povo; as recentes pesquisas expressam com clareza a vontade dos brasileiros/as diante das perplexidades que afligem a nossa grande Nação”.
Senadores/as do Brasil, vocês têm demonstrado não serem convictos que “democracia é respeito à vontade do povo”. Continuem a fazer o exame de consciência!
O processo de impeachment - afirma a CBJP - contra a presidenta democraticamente eleita foi instaurado com argumentos jurídicos que veem sendo refutados por técnicos do Senado Federal, por parecer do Ministério Público Federal (MPF) e especialistas internacionais em recente evento realizado no Rio de Janeiro (Tribunal Internacional pela Democracia no Brasil)”. A CBJP pergunta: “para onde vamos?”.
Senadores/as do Brasil, suas atitudes revelam que vocês não têm conhecimento desses fatos. Continuem a fazer o exame de consciência!
Segundo a CBJP, “estamos diante do conflito de dois projetos de sociedade: os que defendem a continuidade da presidenta eleita, superando o impeachment e os que defendem que o vice-presidente assuma de modo definitivo a direção do Brasil”.
Pergunta ainda a CBJP: “O que incluem os dois projetos, para além das pessoas que se dispõem a assumi-los? Quais as prioridades na perspectiva da atenção à maioria da população, sobretudo os mais pobres?”.
E responde: “O governo interino, assumido pelo vice e sua equipe, anuncia medidas, em várias esferas da vida da população, que apontam para o retrocesso nos direitos arduamente conquistados: educação, saúde, cultura, previdência social, direitos humanos, comunidade negra, populações indígenas, mulheres, a liberdade de expressão e de organização”.
Senadores/as do Brasil, vocês concordam com essas medidas? Continuem a fazer o exame de consciência!
Em tom de desabafo, a CBJP reconhece: “Mais uma vez na história brasileira a conta da crise é depositada nos ombros dos mais necessitados, das maiorias desprotegidas”.
E declara: “Estamos vivendo momento de angústia e tristeza. Sentimo-nos em sintonia com o Papa Francisco que já tem manifestado preocupação com o processo político brasileiro. No entanto, a Esperança continua nos iluminando e nos levando à ação”.
Senadores/as do Brasil, vocês têm conhecimento dessa realidade? Continuem a fazer o exame de consciência!
A Nota termina afirmando: “A CBJP tem se empenhado em dialogar com os movimentos sociais (populares) e os agentes públicos, principalmente os senadores/as da República. Sua conclusão é que o processo de impeachment em andamento não responde aos anseios mais profundos do povo brasileiro. No entanto, se empenha na construção de uma saída para a crise, negociada com todos os setores sociais, exigindo que sejam garantidos os direitos humanos e sociais da população, consciente do que nos diz a Palavra de Deus: ‘Deus ouviu os clamores do seu povo’”.
Senadores/as do Brasil, o que vocês pensam sobre a conclusão a que chegou a CBJP? Continuem a fazer o exame de consciência!
(Nota da CBJP sobre o Momento Atual. Para onde vamos? Brasília, 09 de agosto de 2016 - Carlos Alves Moura, Secretário Executivo).
Senadores/as do Brasil, antes de votar pelo impeachment da presidenta Dilma, democraticamente eleita, reflitam seriamente sobre o que diz a CBJP e terminem de fazer o exame de consciência! Terão que prestar contas a Deus pelo seu voto, que pode mudar os destinos do Brasil. Lembrem: Deus é justo!
Eleitores e eleitoras, vamos prestar bem atenção aos senadores/as que - no processo do impeachment da presidenta - votaram ou votarão contra a vontade do povo, para que esses políticos - que só buscam seus próprios interesses - nas próximas eleições sejam banidos para sempre da vida pública.
Enfim, reconhecemos que - na ótica dos oprimidos, excluídos e descartados da sociedade, ou seja, na ótica do projeto político popular - os governos do Partido dos Trabalhadores (PT) merecem muitas críticas. Infelizmente - em nome talvez de uma governabilidade equivocada - cometeram diversos erros, que precisam ser corrigidos.
Não podemos, porém, desconhecer o que foi feito (mesmo com muitas ambiguidades) e voltar atrás, retomando o projeto político neoliberal, que - por ser estruturalmente desumano - é “um sistema econômico iniquo” (Documento de Aparecida - DA, 385), é “injusto em sua raiz” e é “um mal embrenhado nas estruturas” (A Alegria do Evangelho - EG, 59).
Dentro daquilo que as condições objetivas permitem, precisamos dar passos significativos para construir o projeto político popular, que esteja realmente a serviço do bem comum (o bem de todos e de todas), na prática da justiça e na promoção dos direitos humanos.
Queremos uma sociedade sem opressores e opressoras, sem oprimidos e oprimidas, sem excluídos e excluídas, sem descartados e descartadas: uma sociedade de iguais, uma sociedade de irmãos e irmãs, na diversidade de serviços e na vivência do verdadeiro amor.
É a sociedade do bem viver, é o projeto de Jesus de Nazaré, é o projeto do Reino de Deus!
Senadores/as do Brasil (depois deste exame de consciência, feito à luz das reflexões da CBJP) ponham a mão na consciência. Hoje, em nome de seus eleitores/as, vocês são os principais responsáveis pelos destinos do Brasil. Tenham certeza, seu voto será cobrado por Deus. “Ai daqueles que fazem leis injustas!” (Is 10,1).

 
Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 17 de agosto de 2016
A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos