Thiago
Santos Viana, um jovem de 24 anos, foi barbaramente executado pela Polícia Militar. Ele sofria de
transtorno bipolar e há dois anos usava crack. Era um jovem que tinha problemas
mentais e, portanto, gravemente doente. Precisava de um tratamento
especializado e era obrigação do Poder Público oferecer o tratamento. Num
desabafo desesperado, Sandra, a mãe de Thiago, pediu ajuda, mas ninguém a
ajudou. Infelizmente, não temos políticas públicas para atender estes casos e o
sistema de saúde - apesar das promessas dos políticos em época de eleições - é,
em geral, um caos. Na realidade, o direito à saúde, que é um dos direitos
fundamentais de toda pessoa humana, não existe para os pobres. O caminho mais
fácil é eliminar aqueles que perturbam a "ordem". Em pleno século XXI
estamos ainda na era da barbárie.
Desde o início do mês de outubro,
Thiago queria se matar. Quando estava drogado falava em suicídio. Segundo José
Carlos de Andrade, tio e padrinho de Thiago, "ele perdeu o pai há um ano
em um acidente de moto no trevo de Itauçu. Desde então, toda vez que bebia,
deixava um pouco de bebida cair e dizia que era para o pai dele. Quando estava
drogado, dizia que iria se encontrar com o pai. Que morreria no mesmo local.
Essa era a intenção dele" (O Popular, Cidades, 19/10/10, p. 4). Thiago
estava totalmente perturbado e desorientado. No dia 18 deste mês de outubro,
furtou um ônibus da empresa Reunidas no Terminal Padre Pelágio e, de maneira
descontrolada, percorreu diversas Ruas e Avenidas de Trindade e de Goiânia,
deixando um rastro de prejuízos por onde passou.
Começou então a perseguição policial, que
só terminou por volta das 15 horas, na Marginal Botafogo. "A PM cercou o
ônibus em movimento, atirou nos pneus e no tanque de combustível e, já com o
ônibus parado, atirou várias vezes em Thiago, que segundo a perícia, estava
desarmado. (…) Foram 16 tiros no ônibus e pelo menos 7 na vítima. (…) Era o
terceiro ônibus que ele furtava na tentativa de se matar" (Ib.). A
perseguição policial culminou "na execução sumária do rapaz, o entregador
Thiago Santos Viana, de 24 anos" (Ib.). O tio e padrinho de Thiago, que o
considerava como um filho, desabafa, dizendo: "O ônibus estava parado, com
pneus estourados. Ele estava desarmado. Estava louco por causa das drogas. A
Polícia podia ter agido de outra forma" (Ib.).
Aqui está o conselho do tio e padrinho de
Thiago à Polícia Militar: "agir de outra forma". Quando será que a
Polícia Militar irá agir de outra forma? Precisamos de uma Polícia Militar que
defenda a vida e não de uma Polícia Militar que mata sem necessidade e às vezes
- parece - pelo gosto de matar. Reparem: sete tiros para executar Thiago. Ele
estava desarmado e, mesmo na hipótese que estivesse armado, a Polícia Militar
tinha todas a condições de prender o jovem sem matá-lo.
Pedimos à Secretária de Segurança Pública
Renata Cheim que a execução de Thiago seja investigada e que os responsáveis
por este assassinato sejam punidos. É uma questão de justiça. Graças a Deus, no
Brasil não temos a pena de morte. Não podemos mais aceitar tanta violência
policial. Precisamos urgentemente de uma "outra Polícia Militar"
com uma "outra formação". É o
que todos nós esperamos.
Fr. Marcos Sassatelli, Frade
Dominicano
Doutor em
Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da
Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa
Senhora da Terra
Goiânia, 21 de outubro de 2010