De
18 a 22 deste mês de julho/23, aconteceu em Rondonópolis - MT, o 15o Intereclesial
da Comunidades Eclesiais de Base, com o tema “CEBs: Igreja em saída, na
busca da vida plena para todos e todas”, e o lema “Vejam, eu vou criar
um novo céu e uma nova terra” (Is 55,17ss).
Participaram
do Encontro delegações das CEBs de todo o Brasil: mais de 1.500 pessoas,
incluindo cerca de 70 padres, 60 bispos e representantes de outros países. O Intereclesial
refletiu sobre questões sociais-ambientais e a atuação da Igreja no Brasil.
O
método (caminho) utilizado no encontro foi ver, julgar e agir, ou - em
outras palavras - analisar, interpretar e libertar.
A
Igreja - lembra-nos o Concílio Vaticano II - é o Povo de Deus e as
CEBs são - hoje - o jeito de ser Igreja das primeiras Comunidades Cristãs: o
jeito de ser do próprio Jesus de Nazaré.
As
CEBs são, pois, o jeito “evangélico” de ser Igreja e o Intereclesial é
um encontro de irmãos e irmãs em comunhão.
Ora,
nesse jeito “evangélico” de ser Igreja das CEBs - não existem classes: Hierarquia, Vida
Religiosa e Laicato. No Plano de Deus, todos e todas - na diversidade de
dons (carismas) e ministérios (serviços) - somos iguais em dignidade e valor,
chamados e chamadas a viver em comunhão, como filhos e filhas do mesmo Pai-Mãe
que é Deus, como irmãos e irmãs em Cristo, no Amor (Espírito Santo). A
única diferença está na intensidade e profundidade do amor com o qual
cumprimos a nossa missão no mundo.
Como
dizem os filósofos, o ser humano não é um ser já feito, mas um ser que está se
fazendo, um “vir-a-ser”, um ser em construção. Enquanto estamos no
mundo, podemos crescer sempre na vivência do amor, que é a perfeição
humana, a santidade, a felicidade.
Antes
de iniciar o 15º Intereclesial das CEBs (16 de julho) aconteceu a bênção de
envio das equipes de serviço na Celebração eucarística, presidida por Dom
Gabriel Marchesi (bispo da diocese de Floresta - PE e referencial das CEBs em
nível nacional) e concelebrada por Dom Maurício da Silva Jardim (bispo de
Rondonópolis-Guiratinga - MT) e os presbíteros presentes.
As
Celebrações: de abertura (dia 18 à noite), do Intereclesial e de
encerramento (dia 22 à noite) foram verdadeiras Celebrações comunitárias
muito bonitas e significativas: tempos fortes de graça de Deus. Era o
Povo de Deus das CEBs celebrando sua vida, sua caminhada e sua missão.
O Encontro
foi realmente, para as CEBs do Brasil, um novo Pentecostes. Todos
e todas voltaram para suas Comunidades animados e animadas, fortalecidos e
fortalecidas; desejosos e desejosas de continuar com muito entusiasmo e com
muito amor a missão de Jesus hoje: fazer acontecer a Boa Notícia do
Reino de Deus, que - se bem entendido - é o projeto de vida mais
revolucionário que existe: o projeto de um Mundo Novo, sempre
mais Novo.
Para
uma visão mais abrangente do 15º Intereclesial das CEBs, leia os sites: http://portaldascebs.org.br/ e https://cebsdobrasil.com.br/. Com muita fé, esperança e amor, a caminhada das
CEBs continua!
O documento da CNBB “Missão e Ministério dos
Cristãos Leigos e Leigas” - 62 (1999) afirma que - à luz do Concílio
Vaticano II e da Conferência de Medellín - precisamos repensar a estrutura
social da Igreja e reelaborar a teologia dos ministérios a partir do binômio
“comunidade - carismas e ministérios” (e não: “hierarquia - laicato”).
O documento da CNBB posterior “Cristãos Leigos e
Leigas na Igreja e na Sociedade” - 105 (2016), que trata do mesmo assunto,
simplesmente desconhece e desconsidera a parte do documento - acima
citado - e reafirma o binômio “hierarquia - laicato”. É lamentável!
À
luz do documento 62, apresento duas sugestões concretas:
1ª. Que toda
a Pastoral da Igreja no Brasil seja planejada a partir do conceito teológico de
CEB e de Paróquia dos Documentos de Medellín (que, infelizmente,
foram esquecidos). Segundo esses Documentos, a CEB é “o primeiro e fundamental
núcleo eclesial” ou “a célula inicial da estrutura eclesial” e a Paróquia é “um
conjunto pastoral unificador de Comunidades de Base” (Med XV, 10.13).
2ª. Que o Intereclesial das CEBs (realizado periodicamente), pela sua representatividade nacional, seja reconhecido como o Sínodo do Povo de Deus, onde são discutidas, votadas e tomadas as principais decisões da Igreja no Brasil. Consequentemente, os Intereclesiais regionais e diocesanos seriam também reconhecidos como Sínodos do Povo de Deus regionais e diocesanos.
Que sonho bonito! As CEBs - na grande variedade de
suas expressões - se tornariam realmente o jeito “evangélico” - sempre
novo e sempre antigo - de toda a Igreja ser!
Estamos caminhando! Um dia chegaremos lá! Esperançar
é preciso!
Marcos
Sassatelli, Frade dominicanoDoutor em Filosofia
(USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)Professor aposentado
de Filosofia da UFGE-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 30 de julho de 2023