No
Natal - e em toda a sua vida - Jesus tem lado, o lado dos pobres: os oprimidos, os
excluídos, os descartados e todos aqueles e aquelas que - na sociedade - não
têm voz e vez. Desde o nascimento até a morte na cruz, Jesus sempre se identificou e solidarizou com os pobres,
incluindo a Irmã Mãe Terra Nossa Casa
Comum.
Ainda
no seio de sua mãe Maria, Jesus foi “morador
de rua”. Para cumprir o decreto de recenseamento, ordenado pelo imperador
Augusto, “José, que era da família e descendência de Davi, subiu da cidade de
Nazaré, na Galileia, até à cidade de Davi, chamada Belém, na Judeia, para
registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida” (Lc 2,4-5). Maria -
antes de encontrar um estábulo para dar à luz - deve ter perambulado e dormido,
com seu esposo José, nas ruas de Belém.
Jesus
nasceu como “sem-teto”. Enquanto
Maria e José estavam em Belém, “completaram-se os dias para o parto. Ela deu à
luz seu filho primogênito. Envolveu-o em panos e o deitou numa manjedoura,
porque não havia lugar para eles dentro da casa” (Ib. 2,6-7).
Jesus
anunciou a Boa Notícia do seu nascimento aos “sem-terra”, os pastores de ovelhas da época, malvistos e
desprezados pelos poderosos, porque ocupavam os campos com seus rebanhos. O
mensageiro de Deus disse aos pastores: “Não tenhais medo! Porque eis que lhes
anuncio a Boa Notícia, uma grande alegria para todo o povo: hoje, na cidade de
Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias e Senhor” (Ib. 2,10-11).
Jesus
- ainda criança - foi “migrante e
refugiado” no Egito por causa da ganância de Herodes que queria matá-lo. O
mensageiro de Deus falou em sonho a José: “Levante-se, pegue o menino e a mãe
dele, e fuja para o Egito. Fique aí até que eu lhe avise, porque Herodes vai
procurar o menino para matá-lo. Ele se levantou, e de noite pegou o menino e a
mãe dele, e foi para o Egito. E aí ficou até a morte de Herodes” (Mt. 2,13-15).
Em sua vida anônima Jesus
foi trabalhador. Foi carpinteiro com seu pai José. A
respeito de Jesus, as pessoas diziam: “De onde vêm essa sabedoria e esses
milagres? Esse homem não é o filho do carpinteiro?” (Ib. 13,54-55). “Esse homem
não é o carpinteiro?” (Mc 6,3).
Em sua vida pública -
anunciando a Boa Notícia do Reino de Deus - Jesus foi sempre próximo e entranhadamente solidário com os pobres. Entre
os muitos exemplos que poderíamos lembrar, cito o do homem com a mão direita
seca. “Jesus disse ao homem: ‘Levante-se e fique no meio’. ‘Estenda a mão’. O
homem assim o fez e sua mão ficou boa” (Lc 6,8.10).
Jesus, cheio de indignação, denunciou a hipocrisia dos fariseus e doutores da
Lei. “Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês são como
sepulcros caiados: por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos
de mortos e podridão! Assim também vocês: por fora parecem justos diante dos
outros, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e injustiça” (Mt 23,27-28).
Jesus celebrou a última Ceia com os discípulos e lavou seus pés. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim (Jo 13,1). “Não
existe amor maior do que dar a vida pelos amigos” (Jo 15,13).
Jesus foi preso e acusado de “subverter” o povo. “Achamos este homem
fazendo subversão entre o nosso povo” (Lc 23,2). Em seguida, foi morto na cruz como criminoso.
“Jesus deu um forte grito: ‘Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito’. Dizendo
isso, espirou” (Ib. 23,46).
Jesus - o Libertador, o
Salvador, o Filho de Deus - ressuscitou
dos mortos. Às mulheres, angustiadas por não ter encontrado o corpo de
Jesus no túmulo, os mensageiros de Deus disseram: “Por que vocês estão
procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui!
Ressuscitou!’” (Ib. 24,5-6).
Jesus Ressuscitado enviou o Espírito Santo aos discípulos e
discípulas. “Ele lhes disse: ‘A paz esteja com vocês. Assim como o Pai me
enviou, eu também envio vocês’. Tendo falado isso, soprou sobre eles e elas,
dizendo: ‘Recebam o Espírito Santo’” (Jo 20,21-22).
Jesus Ressuscitado continua vivo na Comunidade dos seus
seguidores e seguidoras. “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome,
eu estou aí no meio deles” (Mt 18,20). “Eu estarei com vocês todos os dias, até
o fim dos tempos” (Ib. 28,20).
Perguntamo-nos:
- Onde vai ser o Natal de Jesus, hoje? Com certeza, ele não vai ser nos palácios dos poderosos - opressores do povo - e nem nas Igrejas luxuosas e cheias de ouro. O Natal de Jesus vai ser nos Grupos de Moradores em situação de Rua, nas Ocupações urbanas e rurais, nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), nos Movimentos Sociais Populares, nos Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras e nos Partidos Políticos Populares, que - com garra, coragem e muita fé - lutam pela Vida: Vida digna para todos e para todas. “Eu vim para que tenham Vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
- E nós, que como seguidores e seguidoras de Jesus fazemos a memória - tornamos presente - o seu Natal hoje, temos lado? Qual é o nosso lado? É o lado de Jesus? É o lado dos pobres?
- Vivamos o Natal de Jesus e seremos felizes! Um Ano Novo de muita ESPERANÇA, JUSTIÇA E PAZ!
noticiaurbana.com.br
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor
em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor
aposentado de Filosofia da UFG
E-mail:
mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 22 de dezembro de 2021