"Para que toda a humanidade
se abra à esperança de um MUNDO NOVO"
(Oração
Eucarística VI-D)
O Tempo da Quaresma começa na 4ª
Feira de Cinzas e se estende até a Celebração da Ceia do Senhor na 5ª Feira
Santa. É o tempo de preparação para a Celebração da Páscoa. “Tanto na liturgia
quanto na catequese litúrgica esclareça-se melhor a dupla índole do tempo
quaresmal que, principalmente pela lembrança ou preparação do Batismo e pela
penitência, fazendo os fiéis ouvirem com mais frequência a palavra de Deus e
entregarem-se à oração, os dispõe à celebração do mistério pascal” (Concílio
Vaticano II. A Sagrada Liturgia - SC, 109).
O Tempo da Quaresma é um convite
permanente à conversão, que é um processo contínuo de mudança de vida. Nesse
processo, vivenciamos também “tempos fortes” de conversão, que são “tempos fortes”
de graça de Deus. Eles brotam da ação do Espírito Santo e provocam
transformações profundas, que levam as pessoas a reorientar a vida, a mudar de
direção, a deixar de caminhar numa estrada para andar numa outra e a aderir
radicalmente ao projeto de Deus - ao Reino de Deus - que satisfaz plenamente as
aspirações do ser humano. “O tempo já se cumpriu e o Reino de Deus está
próximo. Convertam-se e creiam na Boa Notícia (no Evangelho)” (Mc 1, 15).
Em outras palavras, o processo de conversão é
o próprio processo de aperfeiçoamento do ser humano como vir-a-ser, como ser de
busca permanente dentro do projeto de Deus, que é o seu Reino. “Sejam perfeitos
como é perfeito o Pai de vocês que está no céu” (Mt 5, 48). Esse processo de
aperfeiçoamento é histórico, mas aberto ao metahistórico (ao transcendente), ou
seja, à plenitude da perfeição (da santidade, da salvação) e da vida, que é o
Reino de Deus definitivo.
O processo de conversão envolve,
pois, o ser humano todo e todos os seres humanos, em todas as dimensões: pessoais
(corpórea, biopsíquica, espiritual),
sociais (socioeconômica, sociopolítica, socioecológica, sociocultural) e
cósmica.
“Sabemos que a criação toda geme e
sofre dores de parto até agora. E não somente ela, mas também nós, que
possuímos os primeiros frutos do Espírito, gememos no íntimo, esperando a
adoção, a libertação para o nosso corpo. Na esperança, nós já fomos salvos. Ver
o que se espera já não é esperar: como se pode esperar o que já se vê? Mas se
esperamos o que não vemos, é na perseverança que o aguardamos” (Rm 8, 22-25).
Na medida em que a conversão
acontece, ela liberta de tudo aquilo que impede a vida: dos pecados pessoais,
do pecado social ou estrutural e do pecado do mundo (o Antirreino de Deus). O
pecado do mundo inclui o pecado social ou estrutural e os pecados pessoais, mas
é mais do que a soma do pecado social ou estrutural e dos pecados pessoais. O
pecado social (socioeconômico, sociopolítico, socioecológico, sociocultural) ou
estrutural inclui os pecados pessoais, mas é mais do que a soma dos pecados
pessoais. “Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo” (Jo 1,
29).
A Igreja, diz o Documento de Aparecida (DA), depois
de constatar que "muitas das estruturas atuais geram pobreza" (501) e
falar por isso de “um sistema econômico iníquo” (385), denuncia as “situações
de pecado" (95), as “estruturas de pecado” (92, 532), as “estruturas de
morte" (112). A Igreja quer colaborar "com outros organismos ou
instituições para organizar estruturas mais justas nos âmbitos nacionais e
internacionais".
Afirma que "é urgente criar estruturas
que consolidem uma ordem social, econômica e política na qual não haja
iniquidade e onde haja possibilidades para todos" (384). Os cristãos e as
cristãs devem contribuir "para a transformação das realidades e para a
criação de estruturas justas segundo os critérios do Evangelho" (210).
Podemos, portanto, afirmar que a conversão -
como processo contínuo de mudança de vida - passa necessariamente pela
conversão das pessoas (conversão pessoal), pela conversão da sociedade ou das
estruturas (conversão social ou estrutural) e pela conversão do mundo
(conversão cósmica).
Enfim, “cantar a Quaresma é cantar a
dor que se sente pelo pecado do mundo, que, em todos os tempos e de tantas
maneiras, crucifica os filhos de Deus e prolonga, assim, a Paixão de Cristo (CNBB.
Guia Litúrgico-Pastoral. Edições CNBB, 2ª Edição, 2007, p. 86). Tudo isso,
porém, com a certeza da ressurreição, com a certeza da vitória. “Vitória! Tu reinarás! Ó Cruz, tu nos
Salvarás!” (Canto pascal).
A Campanha da Fraternidade de cada ano
explicita o compromisso dos cristãos e cristãs na vivência concreta da
Quaresma. O tema da Campanha da Fraternidade 2012 é: “Fraternidade e Saúde
Pública” e o lema: “Que a Saúde se difunda sobre a Terra” (cf. Eclo 38, 8). Com
a Campanha da Fraternidade 2012, a Igreja deseja SENSIBILIZAR a todos e a todas
“sobre a dura realidade de irmãos e irmãs que não têm acesso à assistência da
Saúde Pública condizente com suas necessidades e dignidade”; REFLETIR sobre
essa realidade, “que clama por ações transformadoras” e MOBILIZAR “por melhoria
no Sistema Público de Saúde”. “A conversão pede que as estruturas de morte
sejam transformadas” (Texto-Base, p. 9 e 12). Que todos e todas vivamos
intensamente a Quaresma e a Campanha da Fraternidade!
22/02/12
Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em
Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG
(aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em
Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e
Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato
Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da
Paróquia Nossa Senhora da Terra
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br