No dia 14 de agosto, participei da 1a. MARCHA GOIANA DA CIDADANIA EM DEFESA
DA VIDA. Ver tantas pessoas
(crianças, jovens, adultos, idosos) de diversos Movimentos, Organizações
socias, Escolas, Universidades e Igrejas, gritanto unidos "Vida sim!
Aborto não!", é um sinal de esperança.
Gostaria, porém, de sugerir ao Movimento Nacional em Defesa da Vida e ao
Comitê Goiano em Defesa da Vida que, nas próximas Marchas, o "grito"
seja em defesa da Vida antes e depois do nascimento. A vida deve ser defendida em todas as situações, em
todas as circunstâncias e em todas as idades. Só para lembrar, no mundo morrem
de fome ou de suas consequências imediatas 100 mil pessoas, a cada dia (cf.
Análise de conjuntura. Mimeo, Brasília, maio de 2008)
Mesmo tendo consciência disso, neste
Artigo, quero referir-me à vida das crianças antes do nascimento (desde a
concepção) e depois do nascimento (até os 10 anos de idade). A nossa sociedade
"aborta" (mata) crianças antes e depois do nascimento; é uma
sociedade estruturalmente "abortista" e "infanticida".
Falando
dos abortos (antes do nascimento), em 2007 Demétrio Weber escrevia: "o
Relatório da Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF, na sigla
em inglês) divulgado nesta quarta-feira estima que 19 milhões de abortos
clandestinos serão realizados no mundo este ano, provocando a morte de 70 mil
mulheres, além de deixar seqüelas em milhares de outras. O estudo diz que mais
de 96% das gestantes que perdem a vida ou sofrem danos à saude por causa de
abortos inseguros vivem nos países mais pobres do planeta, a maioria na África.
De acordo com a Federação, o Brasil é responsável por um milhão de interrupções
de gravidez de forma insegura a cada ano e, segundo a ex-coordenadora de Saúde
da Mulher do Ministério da Saúde Maria José Araújo, os abortos ilegais são
responsáveis pela morte de 180 a 360 mulheres por ano no país"
(oglobo.globo.com/pais/mat/2007/05/30/295957896.asp).
Embora
reconhecendo a gravidade dos fatos, como defensor da Vida, não posso concordar nem com o aborto "legal"
ou "seguro" nem com o aborto "clandestino" ou
"inseguro". Sei, porém, que os abortos
clandestinos, em sua grande maioria, são realizados em situações desumanas
(quando não dramáticas e de desespero) por causa de uma sociedade
estruturalmente injusta, uma sociedade que viola os direitos fundamentais do
Ser humano, uma sociedade baseada em "um sistema econômico iníquo"
(Documento de Aparecida - DA, 385) e uma sociedade com leis que descriminam as
pessoas (Para lembrar um exemplo da nossa realidade: no Caso do Parque Oeste
Industrial, num documento do Poder público estava escrito que "aquela área
era imprópria para habitação popular").
É por isso que, diante de determinadas situações nas quais o oborto é
realizado (sem querer eliminar totalmente a responsabilidade moral das pessoas
envolvidas - só Deus sabe), temos que ter muita sensibilidade humana, acolher
bem as pessoas e saber compreender.
Lembremos agora os "abortos" (matanças) de crianças que a nossa
sociedade provoca depois do nascimento. A nossa sociedade injusta, desumana e
anti-cristã é uma sociedade "abortista" e "infanticida".
No mundo, 12,9 milhões de crianças
morrem a cada ano antes dos seus 5 anos de vida (cf.
www.webciencia.com); 11 mil crianças morrem de fome a cada dia (cf.
www.pime.org.br - “Mundo e Missão”); uma criança, menor de dez anos, morre de
fome ou de suas consequências imediatas, a cada cinco segundos. Em 2007, foram
mais de 6 milhões de crianças mortas (cf. Análise de conjuntura. Mimeo,
Brasília, maio de 2008)
Na América Latina, um milhão de crianças morrem, ao ano, pela pobreza
extrema: 2.700 por dia, 114 por hora, quase 2 por minuto (cf. Agenda
Latino-americana, 2005)
Precisamos refletir. “Este massacre diário ocasionado pela fome não obedece
de modo algum a uma fatalidade. Por trás de cada vítima, há um assassino. A
atual ordem mundial não é só mortífera, também é absurda. O massacre se produz
no meio de uma normalidade glacial. A equação é simples: quem tem dinheiro come
e vive. Quem não tem sofre, converte-se em um inválido ou morre. Não se trata
de fatalidade. Todo aquele que morre de fome é assassinado”.
“Sobre bilhões de Seres humanos, os senhores do capital financeiro
mundializado exercem um direito de vida e de morte. Mediante suas estratégias
de inversão, suas especulações, as alianças que estabelecem e as campanhas de
conquista de mercados que organizam, decidem dia-a-dia quem tem direito de
viver neste Planeta e quem está condenado a morrer” (ZIEGLER, J. Direitos Humanos
e Democracia mundial. Em: Agenda Latino-Americana, 2007, p. 26). Esta é uma
situação de pecado social ou estrutural.
Existem alternativas. “Frente à usurpação dos recursos naturais, temos que
advogar pela soberania alimentar: que as comunidades controlem as políticas
agrícolas e de alimentação. A terra, as sementes, a água têm de ser devolvidas
aos camponeses para que possam alimentar-se e vender seus produtos às
Comunidades locais. Isso requer uma reforma agrária integral da propriedade e
da produção da terra e uma nacionalização dos recursos naturais” (VIVAS, E.
Frente à crise alimentar, que alternativas? www.correiocidadania.com.br,
25/11/08).
“Todo homem, mulher, criança, tem o Direito inalienável de ser
livre da fome e da
desnutrição” (Nações Unidas. Conferência Mundial sobre Alimentação, Roma,1974).
Continuemos gritando e lutando em defesa da Vida. A esperança - sobretudo
para os Cristãos - nunca morre. Um "mundo novo" é possível. Já
existem "sinais" que ele está acontecendo.
Fr. Marcos Sassatelli,
Frade Dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da
UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos
Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do
Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do
Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador
Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 20 de agosto
de 2009