"A
Igreja se apresenta e quer realmente ser a Igreja de todos, em particular, a Igreja dos pobres” (João
XXIII, 11 de setembro de 1962)
Parafraseando João XXIII e Francisco, eu afirmo:
"A
Igreja quer ser pobre, para os pobres, com os
pobres e dos pobres”.
No dia 28 de abril deste ano de 2013, na Paróquia Sagrado Coração
de Jesus, Setor Leste Vila Nova, em Goiânia, aconteceu o Encontro
Arquidiocesano de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).
Participamos do Encontro cerca de 200 pessoas: a maioria
cristãos/ãs leigos/as comprometidos/as em nossas Comunidades da capital
(sobretudo da periferia de Goiânia e da Grande Goiânia) e do interior; diversas
religiosas, inseridas na vida do povo e alguns Padres.
Tivemos a valiosa assessoria do Pe. Nelito Dornelas, da Comissão
para o Serviço da Caridade, Justiça e Paz da CNBB, que, a partir do texto
bíblico do paralítico, carregado por quatro homens (Mc 2, 1-12), nos ajudou a
refletir sobre a caminhada das CEBs nas Paróquias, Foranias e Vicariatos da
Arquidiocese de Goiânia, hoje.
Partilhamos, num clima de muita irmandade, as nossas experiências
de vida comunitária, as nossas dificuldades, os nossos desafios e os nossos
anseios.
Aprofundamos, em grupos, os temas: CEBs e Jovens; CEBs e Economia
solidária; CEBs e Valorização da Mulher e das Etnias sociais; CEBs no Campo e
na Cidade; CEBs e sua Articulação no dias atuais.
Renovamos a nossa esperança e nos comprometemos a continuar, com
fé e amor, a nossa "romaria” rumo ao 13º Intereclesial de CEBs, que
acontecerá em Juazeiro do Norte (Diocese de Crato - CE), de 07 a 11 de janeiro
de 2014, e tem como tema "Justiça
e Profecia a Serviço da Vida” e
como lema "CEBs, Romeiras
do Reino no Campo e na Cidade”.
Percebemos claramente que o modelo de Igreja defendido e,
sobretudo, vivido pelas CEBs, é profundamente evangélico; está de acordo com
aquilo que Jesus quer e se espelha na vida das primeiras Comunidades cristãs.
Constatamos que as CEBs -com suas limitações humanas- são
realmente "um jeito novo” (sempre
atento aos sinais dos tempos) e,
ao mesmo tempo, "um jeito antigo” (sempre
fiel às exigências do Evangelho) de
ser Igreja, hoje.
Vivenciamos as notas distintivas do modelo de Igreja das CEBs: uma
Igreja igualitária, de irmãos e irmãs; uma Igreja comunitária
(Igreja-comunidade, Igreja-comunhão); uma Igreja Povo de Deus e toda
ministerial; uma Igreja que busca sempre o consenso, reconhecendo e valorizando
o "senso da fé” do povo cristão; uma Igreja que, a todo momento, perscruta
os sinais dos tempos, interpretando-os à luz do Evangelho; uma Igreja pobre,
que faz a opção pelos pobres; uma Igreja que reconhece e valoriza o diferente (Igreja
ecumênica, macroecumênica e aberta ao diálogo com todas as culturas e
religiões); enfim, uma Igreja que -sem perder sua identidade e respeitando a
autonomia das Organizações sociais- faz aliança com Movimentos Populares,
Sindicatos autênticos de Trabalhadores, Partidos Políticos e com todos
aqueles/as que lutam por um Mundo Novo, de justiça e irmandade, que -à luz da
fé- é a utopia do Reino de Deus, acontecendo na história humana e cósmica.
Dom Aloísio Lorscheider oferece-nos uma fotografia nítida do
modelo de Igreja do Concílio Vaticano II, que é o modelo das CEBs. "O
Vaticano II -diz ele- faz-nos passar de uma Igreja-instituição ou de uma
Igreja-sociedade perfeita para uma Igreja-comunidade, inserida no mundo, a
serviço do Reino de Deus; de uma Igreja-poder para uma Igreja pobre, despojada,
peregrina; de uma Igreja-autoridade para uma Igreja serva, servidora,
ministerial; de uma Igreja piramidal para uma Igreja-povo; de uma Igreja pura e
sem mancha para uma Igreja santa e pecadora, sempre necessitada de conversão,
de reforma; de uma Igreja-cristandade para uma Igreja-missão, uma Igreja toda
ela missionária” (Texto citado por Dom Geraldo Majella Agnelo na contra-capa da
Liturgia Diária, novembro de 2012).
Vimos que o método (o caminho) das CEBs é "ver, julgar, agir”
(analisar, interpretar, libertar). Ele
"nos permite articular, de modo sistemático, a perspectiva cristã de ver a
realidade; a assunção de critérios que provêm da fé e da razão para seu
discernimento e valorização com sentido crítico; e, em consequência, a projeção
do agir como discípulos missionários de Jesus Cristo" (Documento de
Aparecida - DA, 19).
Enfim, voltamos para as nossas Comunidades mais conscientes do que
significa seguir Jesus no mundo de hoje. "O seguimento de Jesus é fruto de
uma fascinação, que responde ao desejo de realização humana, ao desejo de vida
plena. O discípulo é alguém apaixonado por Cristo, a quem reconhece como
mestre, que o conduz e acompanha" (DA, 277).
(Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano,
Doutor em Filosofia (USP) e em
Teologia Moral (Assunção - SP),
Professor aposentado de
Filosofia da UFG
Goiânia, 22 de maio de 2013
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br)