No dia 2 de maio fazemos a memória, ou seja, tornamos presente a Páscoa - plena e definitiva - de Dom Tomás Balduino. O nosso irmão Tomás - frade dominicano e bispo emérito de Goiás - há três anos “completou sua Páscoa”: passagem da morte - e tudo o que a morte significa - para a vida, vida nova em Cristo, vida segundo o Espírito de Deus. O grito que mais ouvimos na Páscoa do nosso irmão e que hoje - como “profetas da vida” - repetimos, é: Tomás vive entre nós!
Dom Tomás - homem profundamente humano e evangélico - doou sua vida a serviço dos Pobres, da Justiça e dos Direitos Humanos. Entre as muitas causas que ele defendeu, destaco três: a de uma Igreja Renovada e Libertadora, a da Reforma Agrária Popular e a dos Povos Indígenas.
A respeito da primeira causa, Tomás - à luz do Concílio Ecumênico Vaticano II e de Medellín - sonhou com uma Igreja renovada, libertadora e realmente evangélica; com uma Igreja Povo de Deus e toda ministerial; com uma Igreja Comunhão; com uma Igreja pobre, para os pobres, com os pobres e dos pobres; com um jeito novo e, ao mesmo tempo, antigo de ser Igreja; com uma Igreja de Comunidades de Base (como as primeiras Comunidades Cristãs); com uma Igreja na qual “a Comunidade de Base é a célula inicial da estrutura eclesial” (Medellín, XV,10) e “a Paróquia é um conjunto pastoral unificador das Comunidades de Base” (Ib. 13).
È este o retrato da Igreja que o Concílio e Medellín (que encarna o Concílio na América Latina e Caribe) sonharam. É este o retrato da Igreja que Tomás sonhou. Não é este também o retrato da Igreja que Jesus de Nazaré - que foi “morador de rua”, antes de nascer e nasceu como “sem-teto” - sonhou e quis?
A respeito da segunda causa - a Reforma Agrária Popular - Tomás sempre foi solidário e deu total apoio aos trabalhadores e trabalhadoras que lutavam pelo direito à terra - terra de trabalho e terra de moradia - e pelo direito a uma agricultura familiar e comunitária agroecológica.
“A atuação de Tomás, ao lado dos pobres, no espírito da opção pelos pobres, marcou profundamente a Diocese de Goiás e seu povo. Lavradores se reuniam no Centro de Treinamento onde Dom Tomás morava, para definir suas formas de organização e suas estratégias de luta. Esta atuação provocou a ira do Governo militar e dos latifundiários que perseguiram e assassinaram algumas lideranças dos trabalhadores. Em julho de 1976, Dom Tomás foi ao sepultamento do Padre Rodolfo Lunkenbein e do índio Simão Bororo, assassinados pelos jagunços, na aldeia de Merure, Mato Grosso. Em sua agenda estava programada uma outra atividade. Soube depois, por um jornalista, que durante esta atividade programada, estava sendo preparada uma emboscada para eliminá-lo” (CPT Nacional. Nota de falecimento - Dom Tomás Balduino, fundador da CPT, fez a sua Páscoa, 03/05/14).
A respeito da terceira causa - a dos Povos Indígenas - Tomás sempre lutou pela demarcação das terras dos Povos Indígenas, pela valorização de sua cultura, de suas tradições e do seu jeito comunitário de viver, que é a sociedade do “bem-viver” e “bem-conviver”, sinal concreto do Reino de Deus.
Neste breve testemunho sobre a missão e a vida do nosso irmão Tomás, não podia deixar de lembrar que ele “foi personagem fundamental no processo de criação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), em 1972, e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975. Nas duas Instituições Dom Tomás sempre teve atuação destacada, tendo sido presidente do CIMI, de 1980 a 1984 e presidente da CPT de 1999 a 2005. A Assembleia Geral da CPT, em 2005, o nomeou Conselheiro Permanente” (CPT Nacional, Ib.).
Em sua memória, Tomás, queremos - com indignação profética - denunciar o massacre de Colniza, manifestar o nosso mais veemente repúdio e prestar a nossa total solidariedade às famílias enlutadas. 9 homens (Sebastião Ferreira de Souza, Izaul Brito dos Santos, Ezequias Santos de Oliveira, Edson Alves Antunes, Valmir Rangeu do Nascimento, Samuel Antônio da Cunha, Francisco Chaves da Silva, Fabio Rodrigues dos Santos, e Aldo Aparecido Carlini), trabalhadores rurais e pais de família, foram assassinados na quarta-feira, dia 19 deste mês, na Gleba Taquaruçu do Norte, localizada no município de Colniza, região noroeste de Mato Grosso.
Trata-se, mais uma vez, de uma barbárie - praticada pelos poderosos do agronegócio em nome da ganância e do deus dinheiro - que não pode ficar impune!
Também em sua memória, Tomás, as Entidades: Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil, Comissão Pastoral da Terra CPT - Regional Goiás, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, Conferência dos Religiosos do Brasil - CRB/Goiânia e Fraternidade da Anunciação programaram a 3ª Semana Dom Tomás Balduino, que acontecerá nos dias 4 e 5 de maio próximo, em Goiânia - GO.
Segundo as Entidades, a Semana contará com dois momentos principais. “Na quinta-feira, dia 4, no espaço do Centro Cultural Cara Vídeo, à rua 83, n° 361 (Setor Sul), às 19 horas, haverá uma Celebração em que a figura, a história, as causas e a ousadia de Dom Tomás serão trazidas à memória com o objetivo de alimentar as lutas do dia hoje. Na sexta-feira, dia 5, às 19 horas, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da UFG, na Praça Universitária (Setor Universitário), será realizado um grande ato em que a realidade do momento presente será debatida, à luz do legado de Dom Tomás. Quem vai provocar para uma reflexão sobre a atual conjuntura, será uma das maiores lideranças do MST, João Pedro Stédile”.
Neste ato “será dado o informe sobre uma Grande Marcha a Brasília dos Sem-Terra e dos demais movimentos camponeses, nos próximos meses, exigindo respeito aos direitos adquiridos e denunciando os violentos ataques perpetrados pela bancada ruralista, sustentáculo do ilegítimo Governo Temer, contra os direitos de indígenas, quilombolas e demais comunidades camponesas”
Participe! Sua presença faz a diferença!
Dom Tomás, sua luta continua!
Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 26 de abril de 2017