O Governo de Goiás - depois
que o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou leis anteriores - “voltou a
propor a criação de verba indenizatória,
desta vez com destinação específica para despesas com transporte e alimentação
e com valores maiores, para garantir acréscimo
salarial, a secretários, diretores e substitutos e ao vice-governador. A
proposta do benefício alcança também servidores da Procuradoria Geral do Estado
(PGE) e da Subsecretaria da Receita Estadual da Secretaria da Economia, que têm
duas das principais carreiras do Estado em termos de rendimentos”.
Serão beneficiados “266
auxiliares, com valores que variam de R$ 5.680,52 a R$ 11.361,05 e impacto
financeiro anual de R$ 20,25 milhões”. Vice-governador e secretários “passarão a
contar com R$ 34 mil mensais” (O Popular, 13/09/23, p. 4).
“Salários
insuficientes”! Lamentavelmente, é esse o argumento
utilizado pelo governador Ronaldo Caiado para “justificar” a criação da “verba indenizatória”. A hipocrisia, o descaramento e (porque não dizer) a pouca-vergonha são de um
cinismo tão revoltante, que - nas pessoas com um mínimo de sensibilidade
humana - chegam a provocar vômito.
Vejam, em números
aproximados e resumidamente, a realidade dos nossos trabalhadores e trabalhadoras.
No Brasil, conforme dados divulgados nas redes sociais, cerca de 63 milhões
de trabalhadores/as sobrevivem com menos da metade de um salário mínimo e cerca de 33 milhões, com menos de um
salário mínimo (R$ 1.320,00). Cerca de 35 milhões de trabalhadores/as ganham
até um salário mínimo e cerca de 31 milhões
de trabalhadores/as, até dois salários mínimos.
Pergunto: Por que não passa pela cabeça do governador
Ronaldo Caiado a ideia de propor uma “verba indenizatória” para os
trabalhadores/as que sobrevivem com menos da metade de um salário mínimo, com
menos de um salário mínimo ou que ganham até um salário mínimo? Esses sim
que são “rendimentos insuficientes”!
“Deputados aprovam verba
extra em definitivo” (Ib. 15/09/23, p. 4. Manchete). Dos 37 parlamentares presentes,
31 votaram a favor e 6 contra.
Parabenizo os deputados
Mauro Rubem, Antônio Gomide e Bia de Lima (PT), Major Araujo e Eduardo Prado
(PL) e Gustavo Sebba (PSDB), que - votando contra - assumiram publicamente,
neste caso, um comportamento político humano,
ético e cristão.
O governador Ronaldo Caiado
que fez a proposta e os deputados estaduais que votar a favor, devem estar achando que o povo é idiota.
Estão muito enganados!
Trata-se de mais um caso de “roubo legalizado” do dinheiro público -
que é dinheiro dos pobres - e revela a total falta de ética da maioria dos
nossos políticos. Não esqueçamos isso
nas próximas eleições! Os
parlamentares oportunistas, que usam os pobres para seus próprios interesses,
devem ser banidos da Política para sempre.
O governador Ronaldo Caiado,
os 31 deputados que votaram a favor da “verba
indenizatória” e todos aqueles e aquelas que - silenciosa e covardemente - apoiam
a proposta, lembrem-se que Deus é justo
e não tolera a exploração dos pobres.
A minha advertência é a de Jesus de Nazaré aos doutores da Lei e fariseus
hipócritas de ontem e de hoje.
“Ai de vocês, doutores da
Lei e fariseus hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: por fora parecem
bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e podridão”! Assim
também vocês: por fora parecem justos diante dos outros, mas por dentro estão
cheios de hipocrisia e injustiça”.
“Serpentes, raça de cobras
venenosas! (Mt 23,27-28.33). E ainda: “Ai de vocês, os ricos, porque já têm a
sua consolação!” (Lc 6,24).
Por fim, Jesus declara: “Felizes de vocês, os pobres, porque o
Reino de Deus lhes pertence” (Lc 6,20). Reparem! Não diz: “lhes
pertencerá”, mas “lhes pertence”. O Reino de Deus é o “Mundo Novo” acontecendo na história e, em plenitude, na
meta-história (Páscoa definitiva, Vida Nova em Cristo por toda a eternidade).
Marcos
Sassatelli, Frade dominicanoDoutor em Filosofia
(USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)Professor aposentado
de Filosofia da UFGE-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 23 de setembro de 2023