A Comissão Pastoral da Terra (CPT), Pastoral
socioambiental vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), é organizada em 21 Regionais distribuídas em todo o Brasil.
“Criada em 1975 em nível nacional e em 1976
no Estado de Goiás, tendo o seu CNPJ registrado em 1980, ela nasce em um
contexto extremamente delicado da história brasileira, marcado pela violação de
direitos e pela privação de liberdade que buscava calar a voz do povo que
ousava gritar por democracia e se opor ao regime autoritário militar que se
instalou no país após o golpe de Estado ocorrido em 1964”.
Agentes pastorais de todo o Brasil da Comissão
Pastoral da Terra (CPT) estiveram reunidos e reunidas em Goiânia, entre os
dias 19 e 21 deste mês de junho, num Encontro de formação e preparação das comemorações
do Ano jubilar da CPT, cuja abertura aconteceu sábado, dia 22.
Nesse dia - com Ato público, caminhada e Celebração
eucarística - a CPT deu início “às atividades de memória e festejo de 50
anos de atuação em defesa dos direitos das populações do campo, das águas e
das florestas em todo o Brasil e de presença profética junto a estes
povos”.
As atividades iniciaram na Praça
Universitária, “com um momento de memória da caminhada pastoral e homenagem
aos mártires que tombaram em defesa da terra e de seus povos, personagens
históricos que infelizmente foram vitimados na luta pelos direitos dos mais
empobrecidos, a exemplo da Ir. Dorothy Stang, Pe. Josimo e tantos/as outros/as
religiosos/as e lideranças populares”.
Ao som do batuque do Grupo Coró de Pau, os e as
participantes do Ato público saíram em caminhada - uma verdadeira
Romaria - até a Catedral Metropolitana. Dom João Justino, arcebispo de Goiânia,
presidiu a Celebração eucarística de lançamento do Ano Jubilar da
CPT, concelebrada por Dom Ionilton Lisboa, presidente da CPT e bispo da
Prelazia de Marajó (PA), outros bispos e padres presentes.
Desde sua fundação, a CPT Nacional e - de modo
especial - a CPT Goiás sempre tiveram - mesmo nos tempos difíceis da ditadura
civil militar - o apoio destemido e profético de Dom Fernado Gomes dos
Santos, 1º arcebispo de Goiânia.
Pessoalmente tive a graça de ser seu colaborador
e amigo na prestação do serviço de Coordenador da Pastoral arquidiocesana e,
nos últimos tempos de sua vida, também de Vigário Geral. E ainda: estivemos
juntos no apoio à luta dos trabalhadores e das trabalhadoras por terra de
moradia nos bairros da periferia da Goiânia, denunciando e
combatendo a especulação imobiliária capitalista injusta, desumana,
antiética e anticristã.
A CPT Goiás e a CPT Nacional tiveram o mesmo
apoio de Dom Tomás Balduíno, bispo da diocese de Goiás, de Dom Pedro
Casaldáliga, bispo de S. Felix do Araguaia, de outros bispos, padres, religiosos/as
e agentes pastorais.
“A CPT Goiás - unida à CPT Nacional - atuou
com firmeza denunciando a violência contra as famílias camponesas, padres,
religiosos/as, agentes pastorais e lideranças populares em geral, que foram
perseguidas e assassinadas por defender Comunidades que se organizavam para
exigir o cumprimento da lei brasileira e para que elas pudessem ter o acesso à
terra ou permanecer na terra para nela trabalhar, produzir e prover o seu
sustento”.
A CPT Goiás e a CPT Nacional sempre buscaram valorizar
a vida e a dignidade das pessoas que vivem no campo e sempre foram uma
referência: na defesa dos direitos da pessoa humana; na luta
contra o trabalho escravo; no cuidado da Nossa Casa Comum (a Mãe
Terra); no incentivo de práticas agroecológicas voltadas para a
diversificação da produção e da autonomia produtiva, visando garantir a segurança
alimentar nutricional, além do acesso a água, com a recuperação de
nascentes e as articulações de defesa do cerrado; no apoio à luta dos Povos Indígenas
pela demarcação de suas terras e por seus direitos. “Nenhuma família sem casa,
nenhum camponês sem terra e nenhum trabalhador sem direitos” (Papa Francisco).
A CPT Nacional publicou, em abril deste ano, o
Caderno “Conflitos no Campo Brasil” (38ª edição). Em 2023 os conflitos foram
2.303, contra 2.050 do ano anterior. A partir dessa publicação, a CPT Goiás
publicou o Caderno “Conflitos no Campo 2023. Análise dos dados registrados
em Goiás”. No Estado, em 2023, os conflitos foram 167 contra 80 do ano
anterior. Esses dados mostram o quanto é ainda necessária no Brasil a missão
profética da CPT.
(As fontes dos textos com aspas e de todo o
artigo são: https://cptnacional.org.br/ e https://cptgoias.org.br/)
Esperançar
é preciso! O primeiro mártir Jesus de Nazaré, foi preso e morto na cruz com a
acusação: “achamos este homem fazendo subversão entre o nosso povo” (Lc 23,2). Os e as mártires da América
Latina, do Brasil e de Goiás - seus seguidores e seguidoras - estão presentes e
caminham conosco! A missão profética continua! Um “Mundo Novo” é possível!
CPT Goiás
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia,
25 de junho de 2024