Em entrevista ao Programa de Jô Soares da Rede Globo - transmitido na
madrugada de sábado, dia 13 do mês corrente - Dilma Rousseff voltou a defender
o pacote do ajuste fiscal, que corta cerca de R$ 79 bilhões no orçamento da
União. A presidenta disse: “o Brasil está momentaneamente em problemas e
dificuldades, não estruturalmente doente; por isso, simultaneamente ao ajuste
fiscal, precisamos fazer investimentos em infraestrutura e manter os
investimentos em programas sociais”.
Antes de tudo,
Presidenta Dilma, eu pergunto: destes R$ 79 bilhões, quantos são tirados dos
ricos (das mirabolantes fortunas dos grandes empresários) e quantos são tirados
dos pobres (dos direitos dos trabalhadores, conquistados a duras penas)?
Responda e diga a verdade, presidenta! Não engane o povo! Mostre de que lado a
senhora está! Até as pedras sabem que o pacote de ajuste fiscal do seu governo só
reduz direitos dos trabalhadores e não tira nem um centavo dos ricos.
Contrariamente ao que a
senhora afirma, o Brasil está estruturalmente doente. Em seu Discurso aos
participantes do Encontro Mundial dos Movimentos Populares (Roma, 27-29/10/14),
o papa Francisco declara enfaticamente: “alguns de vocês disseram: esse sistema
não se aguenta mais. Temos que mudá-lo, temos que voltar a colocar a dignidade
humana no centro, e que, sobre esse alicerce, se construam as estruturas sociais
alternativas de que precisamos”.
Presidenta Dilma,
dizendo que, simultaneamente ao ajuste fiscal, “precisamos manter os
investimentos nos programas sociais”, a senhora com uma mão tira direitos dos
trabalhadores e com a outra oferece algumas “balinhas” para que eles não se
revoltem? Não é isso uma sacanagem?
Falando do protagonismo
dos pobres, o papa Francisco - no Discurso citado - diz que os programas
sociais, “se chegam, chegam de maneira que vão em uma direção ou de anestesiar
ou de domesticar”. E conclui: “isso é meio perigoso”.
Infelizmente,
presidenta Dilma, o seu governo não é muito diferente dos outros. Continua
sendo um governo dos ricos, com os ricos e para os ricos, ou seja, um governo contra
os trabalhadores e trabalhadoras.
O 5º Congresso do PT -
que aconteceu em Salvador (BA), de 11 a 14 de junho deste mês - mostrou um
partido sem rumo, dividido em muitas facções, cheio de ambiguidades e
contradições, totalmente perdido (no mato sem cachorro) e não trouxe uma única
novidade.
De um lado, um
Manifesto de lideranças sindicais do PT, dirigido ao Congresso, falou de maneira
muito clara: “consideramos que a política de ajuste fiscal regressivo e
recessivo inaugurada com a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da
Fazenda coloca o PT contra a classe trabalhadora e as camadas populares que
sempre foram sua principal base de apoio. Trata-se de uma política econômica
que diminui o papel do Estado, corta investimentos e eleva juros, acabando por
restringir direitos sociais, rebaixar salários e aumentar o desemprego, com
impactos negativos no PIB”.
O próprio presidente do PT, Rui Falcão, em seu Discurso
no Congresso, afirmou: “diante da tramitação da Contrarreforma Política (que eu
chamo Antirreforma) no Congresso Nacional, fica cada dia mais evidente a
necessidade da convocação de uma Assembleia Constituinte Exclusiva para realizar
uma verdadeira mudança do atual sistema político eleitoral. Nela, queremos
defender nossa proposta do financiamento público exclusivo, do voto em lista
com paridade de gênero e da ampliação da participação popular na definição e execução
das políticas públicas”.
Rui Falcão
diz ainda: “de imediato, é preciso barrar a constitucionalização do
financiamento empresarial, aprovado em primeira votação na Câmara dos Deputados
após um vergonhoso golpe regimental e uma violação da Constituição contestada até
por setores da grande mídia”.
Fazendo
críticas ao ajuste fiscal, o presidente do PT declara que: “considera vital que
o custo de retificação das contas públicas recaia sobre quem mais tem condições
de arcar com o custo do ajuste”. E afirma: "é inconcebível, para nós, uma
política econômica que seja firme com os fracos e frouxa com os fortes". Uma
das principais reclamações do partido é que o governo não tenha proposto, no
ajuste fiscal, a taxação de grandes fortunas.
Que
palavras críticas! Parecem palavras que tiraram da minha boca! Concordo com
elas em gênero, número e grau. Pena que ficaram só palavras! Nada disso foi
aprovado no Congresso.
De outro
lado, ao final do Congresso, o PT - depois de muitos embates - recua e decide
não confrontar a presidenta Dilma, atenuando as críticas à política econômica e
evitando ataques ao ajuste fiscal. Parece brincadeira! O PT tornou-se, em sua
maioria, um partido de covardes e de traidores dos trabalhadores e
trabalhadoras. Mostrou, mais uma vez, de que lado realmente está e - pela sua
falta de responsabilidade e incoerência - perdeu toda a autoridade moral. Que
decepção!
Diante dessa realidade,
no momento político atual, precisamos dizer com urgência e, ao mesmo tempo, com
firmeza:
1. Não ao pacote
de ajuste fiscal, que é contra os trabalhadores e a favor dos poderosos!
2.
Não à Antirreforma Política, que torna
constitucional a corrupção!
3.
Não à redução da maioridade penal, que “descarta”
os jovens pobres (sobretudo, negros), jogando-os nas cadeias, que são depósitos
de “lixo humano”!
4. Não ao governo
dos ricos, com os ricos e para os ricos!
Ao contrário, precisamos dizer:
1. Sim a um pacote
de ajuste fiscal, que cobre das empresas sonegadoras do fisco, que taxe as
grandes fortunas, incluindo as heranças, e que taxe os lucros exorbitantes dos
bancos!
2.
Sim à convocação do Plebiscito da Constituinte
Exclusiva e Soberana do Sistema Político!.
3.
Sim a políticas públicas em favor dos jovens pobres
(sobretudo, negros) das periferias das grandes cidades e do interior, que
despertem neles e nelas a autoconfiança, a descoberta do verdadeiro sentido da
vida e o desejo de lutar por seus direitos!
4. Sim ao
governo dos pobres (dos trabalhadores e seus aliados), com os pobres e para os
pobres (Projeto Popular, Projeto da Economia Solidária, Projeto da Sociedade do
“Bem-Viver” ou, à luz da Fé. Projeto do Reino de Deus).
Vamos à luta! O caminho é longo, mas a vitória é
certa!
Fr. Marcos
Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP)
e em Teologia Moral (Assunção - SP),
Professor aposentado de
Filosofia da UFG
Goiânia, 17 de junho de 2015