quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Uma perversidade diabólica do prefeito Gustavo Mendanha

 

 

“A Prefeitura de Aparecida de Goiânia, com a ajuda da Guarda Civil Municipal (GCM) e da PM, realiza o segundo despejo violento na Ocupação Beira-Mar, no bairro Independência das Mansões, às 6h da manhã dessa segunda-feira (27 de setembro). 56 famílias perderam sua moradia em meio à pandemia e a enorme crise econômica. A Prefeitura realizou o despejo sem mandato judicial ou ordem administrativa! Não houve também nenhuma notificação prévia às famílias.

A Campanha Despejo Zero denuncia mais um despejo truculento e ilegal em Goiás” (Comitê de Direitos Humanos de Goiás Dom Tomás Balduino).

Sou membro do Comitê e é com muita indignação que declaro: a denúncia da Campanha Nacional Despejo Zero - que tem todo meu apoio - é também a minha denúncia. Trata-se - mais uma vez - de um ato de uma perversidade diabólica. Digo mais: além de ilegal, todo despejo é imoral e injusto. A própria palavra “despejo” é desrespeitosa e ofensiva.

Infelizmente, em pleno tempo de pandemia, às 6 horas da manhã (dia 27) Gustavo Mendanha - de maneira violenta, covarde e sem nenhum respeito pelas crianças, idosos e idosas, trabalhadores e trabalhadoras que, como verdadeiros heróis e heroínas, lutam pelo direito sagrado à moradia digna e por um Brasil mais justo e humano - são barbaramente despejados e despejadas, como se fossem criminosos e criminosas, por um Prefeito insensível e perverso. Chega de tanta violência e tanta bandidagem institucionalizada! Deixo um aviso a esses políticos e governantes: aguardem a justiça de Deus! Ela não falha!

Mais uma vez, o meu total apoio às famílias despejadas como se fossem lixo descartável. Irmãos e irmãs de caminhada, soube que continuam na terra. Parabéns pela resistência. A terra é de vocês. Lutem com garra por ela. Toda terra urbana abandonada para fins de especulação imobiliária e toda terra rural improdutiva é de quem precisa dela para trabalhar e para morar. Chega de políticos e governantes iníquos, a serviço dos poderosos e exploradores do povo!

Unido a muitos outros companheiros e companheiras, reafirmo: estamos com vocês. Lembrem-se: Deus está sempre do lado dos que lutam pela justiça e, com certeza, está do lado de vocês.  Com Deus, vocês já são vitoriosos.  Os demônios de hoje (leia: os políticos e governantes criminosos) serão derrotados.

“O futuro da humanidade está, em grande medida, nas mãos de vocês (dos Movimentos Populares), na capacidade de vocês se organizarem e promoverem alternativas criativas na busca diária dos ‘3 T’ (trabalho, teto, terra), e também na participação de vocês como protagonistas nos grandes processos de mudança, regionais, nacionais e mundiais” (Papa Francisco. 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Santa Cruz de la Sierra - Bolívia, 09/07/15). Unidos na Luta!

Despejo Zero! Parem os Despejos! Não joguem o Povo na Rua!





Marcos Sassatelli, Frade dominicano

Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)

Professor aposentado de Filosofia da UFG

E-mail: mpsassatelli@uol.com.br

Goiânia, 27 de setembro de 2021




segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Um processo de construção coletiva

 

Grito dos Excluídos e das Excluídas:

“espaço de animação e profecia” 




“Nestes 27 anos de história - afirma a Coordenação Nacional - o Grito dos Excluídos e das Excluídas mudou a cara do 7 de Setembro e da Semana da Pátria, chamando o povo para descer das arquibancadas dos desfiles cívicos e militares e participar, ativamente, na luta por seus direitos, nas ruas e praças, nos centros e nas periferias de todo o Brasil. Para ecoar seus gritos de denúncia e de anúncio de um projeto de país mais justo e igualitário, na defesa da dignidade da vida em primeiro lugar”. E ainda: “Estar nas ruas é um ato democrático e, na Semana da Pátria, é um tempo favorável para seguirmos firmes nessa defesa”.

O Grito dos Excluídos e das Excluídas é, portanto, “um processo de construção coletiva, é muito mais que um ato. Por isso, nossa luta não se encerra no dia 7 de Setembro. Nossa luta é uma maratona, não é uma corrida de 100 metros. O Grito é uma manifestação popular carregada de simbolismo, espaço de animação e profecia, sempre aberto e plural de pessoas, grupos, entidades, igrejas e movimentos sociais comprometidos com as causas da população mais vulnerável”.

Com coragem profética, a Coordenação Nacional apresenta-nos a realidade: “Estamos vivendo um momento de crises - social, ambiental, sanitária, humanitária, política e econômica - sobretudo causadas pela ação nefasta de um governo genocida, negacionista e promotor do caos que visa principalmente destruir, de qualquer forma, a democracia e a soberania do nosso país”.

Neste ano de 2021, em muitas capitais e cidades do Brasil, o Grito dos Excluídos e das Excluídas foi realizado em conjunto com a Campanha Nacional “Fora Bolsonaro”: um grito tão amplo e tão forte, que - na conjuntura atual - integra e sintetiza de alguma forma todos os gritos.

De fato - continua a Coordenação Nacional - o que nos motiva a gritar neste ano de 2021 são:

  • “as quase 580 mil mortes pela COVID-19, muitas das quais (a grande maioria) poderiam ter sido evitadas;
  • a corrupção na negociação de compra e distribuição das vacinas contra a COVID-19 (CPI);
  • o desmonte da saúde pública (SUS);
  • a carestia e a fome que voltaram com tudo e assolam as camadas empobrecidas da população;
  • o desemprego;
  • o desvio do dinheiro público, através do orçamento federal, para o pagamento de juros da dívida pública, ao invés de investir em políticas sociais;
  • a falta de moradia, que se agrava com os despejos criminosos;
  • a não demarcação das terras indígenas e o grito profético dos povos indígenas dizendo ‘Não ao Marco temporal’;
  • a denúncia contra o tratamento dado aos povos em situação de rua, sejam de qualquer origem, migrantes e refugiados ou deslocados internos, que lutam e resistem por dignidade e cidadania universal no Brasil;
  • a cultura do ódio disseminada pelo governo federal e seus aliados que ataca e retira os direitos humanos de mulheres, LGBTQIA+, negros/as, dos povos originários - Indígenas e Quilombolas, das pessoas portadoras de deficiência, dos/as trabalhadores/as, dos setores excluídos da sociedade”.

A Coordenação Nacional conclui, pois, dizendo: “Não podemos ficar indiferentes a essa realidade que atenta contra a vida do nosso povo, porque acreditamos que é possível e necessária a construção de um outro modelo de sociedade!!!” (https://www.gritodosexcluidos.com/post/nota-da-coordenacao-nacional).

Segundo o Papa Francisco, hoje os Pobres não são só Excluídos e Excluídas, mas Descartados e Descartadas (são lixo).

Por fim, como cristão católico (da Igreja renovada e libertadora), religioso dominicano e presbítero (padre), com profunda dor no coração, denuncio: apesar da Carta de apoio ao 27º Grito dos Excluídos e das Excluídas da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora da CNBB (31 de julho/21) e do Pronunciamento de Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da CNBB, a respeito do dia 7 de Setembro (03 de setembro/21), a grande maioria das Igrejas locais do Brasil (graças a Deus, não todas) - incluindo a Igreja de Goiânia (que viveu um retrocesso de mais de 50 anos) - em relação ao Grito dos Excluídos e das Excluídas, foram (com poucas e louváveis exceções) totalmente omissas (um silêncio que, do ponto de vista ético e cristão, é criminoso) e traíram Jesus nos Pobres.

Por conhecer e ter vivido intensamente a história de renovação da Igreja de Goiânia desde o início da década de 1970, já tinha feito essa mesma denúncia - com as lágrimas nos olhos - na manifestação de Goiânia em frente à Catedral (de portas fechadas). Na ocasião, disse ainda que naquele momento Jesus não estava na Catedral, mas na Praça junto com o Povo que lutava por um novo Brasil.

Infelizmente, na manifestação de Goiânia (muito bem preparada e coordenada pelos Movimentos Populares e outras Entidades), da Igreja Católica estavam presentes somente alguns grupos de pessoas das Comunidades, algumas religiosas e (por aquilo que pude constatar) um padre, o autor deste escrito. É lamentável! Por ser feriado, a presença devia ser maciça. Os verdadeiros cristãos e cristãs - em nome de sua consciência cidadã e de sua fé - deveriam estar sempre na linha de frente de todas as lutas por um Brasil e um Mundo Novo (o Reino de Deus na história).

Ah, se ouvíssemos o convite do papa Francisco! “Soube que são muitos na Igreja aqueles/as que se sentem mais próximos dos Movimentos Populares. Muito me alegro por isso! Ver a Igreja com as portas abertas a todos vocês, que se envolve, acompanha e consegue sistematizar em cada Diocese, em cada Comissão ‘Justiça e Paz’, uma colaboração real, permanente e comprometida com os Movimentos Populares”.

“Convido-vos a todos, bispos, sacerdotes e leigos (todos os cristãos/ãs católicos/as), juntamente com as organizações sociais das periferias urbanas e rurais, a aprofundar este encontro” (2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Santa Cruz de la Sierra - Bolívia, 09/07/15). A esperança nunca morre!

Unidos e unidas, continuemos a luta por um outro Brasil, verdadeiramente. independente”! (Os destaques em negrito são meus. Veja também: https://www.gritodosexcluidos.com).




Marcos Sassatelli, Frade dominicano

Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)

Professor aposentado de Filosofia da UFG

E-mail: mpsassatelli@uol.com.br

Goiânia, 11 de setembro de 2021


quarta-feira, 8 de setembro de 2021

CEBs: uma Igreja que é sinal visível do Reino de Deus no Mundo

 


Na sinagoga de Nazaré, Jesus retomou as palavras do profeta Isaias e fez delas o seu programa de missão e de vida: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para anunciar a Boa Notícia (do Reino de Deus) aos pobres. Enviou-me para anunciar a libertação aos presos e a recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e para anunciar o ano da graça do Senhor”. E acrescentou: “Hoje se cumpre essa passagem da Escritura que vocês acabaram de ouvir” (Lc 4,16-21).

O “hoje” de Jesus é também o nosso “hoje”, é o “hoje” das CEBs. O Reino de Deus - que o evangelista Mateus e sua Comunidade chamam Reino dos Céus - é a Sociedade do Bem Viver e do Bem Conviver (como dizem os nossos irmãos e irmãs indígenas); é o Mundo Novo acontecendo na história do ser humano, da Irmã Mãe Terra Nossa Casa Comum e do universo inteiro.

Em outras palavras, o Reino de Deus é a Páscoa acontecendo: passagem da morte (e tudo o que ela significa) para a vida nova em Cristo, até sua plenitude na meta-história (na eternidade), a casa de nosso Pai-Mãe, que é Deus. Essa é a salvação trazida por Jesus!

Costuma-se dizer: “Jesus veio para nos salvar”. Ora, “Jesus nos salva”, suscitando em nós o desejo de entrar livre e conscientemente - nele e com ele - no caminho da vida nova até sua plenitude, que é a meta final de todos e todas nós. É esse o caminho da realização humana, da felicidade, da salvação!

Como Igreja que “nasce do Povo pelo Espírito de Deus”, que “atualiza o jeito de ser de Jesus de Nazaré” e que “se constitui de irmãos e irmãs em comunhão”, as CEBs - mesmo com suas limitações humanas - são uma Igreja que, pelo testemunho e pela palavra, anuncia a Boa Notícia de Jesus de Nazaré - o Reino de Deus - aos pobres e a todos aqueles e aquelas que - ao lado dos pobres e junto com eles e elas - querem seguir Jesus, “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).

As CEBs são, pois, uma Igreja “em saída permanente”, que se encarna na vida do povo e se torna sal da terra, luz do mundo e fermento na massa.

As CEBs são ainda uma Igreja que escuta os sinais dos tempos à luz do Evangelho. “Para desempenhar sua missão a Igreja, a todo momento, tem o dever de perscrutar os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho”. Por isso, “é necessário conhecer e entender o mundo no qual vivemos, suas esperanças, suas aspirações e sua índole frequentemente dramática" (A Igreja no mundo de hoje - GS 4).

“Como discípulos/as de Jesus Cristo, sentimo-nos desafiados/as a discernir os 'sinais dos tempos' à luz do Espírito Santo, para nos colocar a serviço do Reino, anunciado por Jesus, que veio ‘para que todos tenham vida e para que a tenham em plenitude' (Jo 10,10)" (Documento de Aparecida - DA 33).

Por fim, as CEBs são uma Igreja sinal visível (sacramento) do Reino de Deus no mundo. “O Reino de Deus está no meio de vocês” (Lc 17,21). “Felizes os Pobres no Espírito (no Amor), porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,3). “Felizes os perseguidos por causa da Justiça, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,10).

O Reino de Deus (o Projeto de Vida de Jesus de Nazaré) é o Projeto de Vida mais “revolucionário” que existe. Nesse Projeto todos e todas - sem nenhum tipo de discriminação - são iguais em dignidade e valor, irmãos e irmãs em Cristo no Espírito Santo (no Amor), filhos e filhas do mesmo Pai-Mãe, que é Deus.

Em Cristo e no Espírito Santo (no Amor), Deus está sempre presente na nossa caminhada. “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome (por minha causa e do meu Projeto), aí estou eu no meio deles” (Mt 18,20) “Eu estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20).

Para tomar consciência e fazer a experiência de quanto Deus nos ama, meditemos as palavras do Papa Francisco: “A presença de Deus no meio da humanidade não se concretizou num mundo ideal, idílico, mas neste mundo real, marcado por muitas situações boas e más, caracterizado por divisões, maldade, pobreza, prepotências e guerras. Ele quis habitar na nossa história como ela é, com todo o peso de seus limites e dos seus dramas. Agindo desse modo, demonstrou de modo insuperável a sua inclinação misericordiosa e repleta de amor pelas criaturas humanas. Ele é Deus Conosco; Jesus é Deus Conosco” (Audiência Geral, 18/12/13). Com esta certeza, continuemos a caminhada!


                                                                                                                                                                      






Marcos Sassatelli, Frade dominicano

Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)

Professor aposentado de Filosofia da UFG

E-mail: mpsassatelli@uol.com.br

Goiânia, 15 de agosto de 2021




A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos