sábado, 28 de janeiro de 2023

Situação calamitosa dos Yanomamis

 


Um crime que clama por justiça


Dia 14 deste mês de janeiro, na audiência da Comissão externa da Câmara dos Deputados, Entidades indigenistas e socioambientais denunciaram uma “tragédia humanitária” em curso na Terra Indígena Yanomami. A área - que ocupa partes dos Estados de Roraima e Amazonas - é marcada por garimpo ilegal de ouro e cassiterita, violência sexual de mulheres e crianças, ameaças de morte e desestruturação dos postos de saúde.

“Lideranças indígenas fizeram relatos dramáticos da situação da Terra Yanomami, homologada desde 1992 e com cerca de 30 mil pessoas vivendo hoje em 363 aldeias em 9,6 milhões de hectares da Floresta Amazônica. A região é palco de desmatamento, destruição do leito dos rios, contaminação por mercúrio, aumento dos casos de malária, acirramento de conflitos e violência, perda da soberania alimentar e desnutrição infantil”.

Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), citou o caso da Comunidade Homoxi para mostrar o avanço do garimpo ilegal sobre área que deveria estar protegida. “A Comunidade e o garimpo ficam muito próximos e, por isso, as nossas crianças estão tomando água contaminada por mercúrio, 615 yanomamis foram ameaçados de morte, os garimpeiros tomaram conta do Posto de Saúde Yanomami. A Terra Yanomami e (as margens do rio) Uraricoera estão virando quase cidades, com cantinas e prostituição entre os garimpeiros ilegais”.

Júlio Rodrigues, presidente da Associação Wanasseduume Ye’kwana, ressaltou o impacto da violência na desestruturação comunitária dos Yanomami.

“Os jovens estão ficando mais agressivos por conta de ingerir bebidas alcoólicas e drogas. Não querem mais ficar nas Comunidades. As mulheres estão ficando cada vez mais com medo e não conseguem mais ir para a roça depois que aconteceram muitos abusos sexuais pelos garimpeiros. É difícil viver”.

A audiência contou também com a presença de representantes da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), do Conselho Indígena de Roraima (CIR) e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que reclamaram da ausência de soluções mesmo diante de cobranças internacionais às autoridades brasileiras.

Dia 23 deste mesmo mês, a Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do Ministério Público Federal (MPF) destacaram o cenário desumano verificado no território Yanomami e alertaram que a ausência de ações concretas para frear a tragédia humanitária em curso poderia resultar na futura responsabilização internacional do Estado brasileiro pelo genocídio da população indígena.

Segundo Estevão Senra, geógrafo e analista do Instituto Socioambiental (ISA), até abril de 2022, havia 4 mil hectares impactados pelo garimpo ilegal dentro da terra indígena e mais de 40 pistas clandestinas a serviço de garimpeiros e narcotraficantes.

Em 2021 - continua ele - a região registrou quase 50% dos casos de malária do País e atualmente existem cerca de 3 mil crianças com déficit nutricional. "Hoje, a Terra Indígena Yanomami é palco de uma das maiores tragédias humanitárias que estão ocorrendo no Brasil. Os dois vetores principais dessa crise são o avanço do garimpo ilegal e a má gestão do distrito sanitário, que se entrelaçam e vão se realimentando".

Infelizmente, o genocida Bolsonaro e seu Governo - de uma insensibilidade humana cruel e diabólica - não deram a mínima atenção. Ao contrário, debocharam da situação e - em manifestações sociais de apoiadores - esbanjaram ostensivamente dinheiro público, que é do povo trabalhador.

Fizeram, ainda, declarações preconceituosas e mentirosas sobre os indígenas, facilitando a entrada de garimpeiros na região. Os Yanomamis são alvos de violentos e frequentes conflitos com os garimpeiros.

Segundo o Ministério dos Povos Indígenas, “570 crianças yanomamis morreram por contaminação de mercúrio, desnutrição e fome, devido ao impacto das atividades de garimpo ilegal na região".

Em 2022, o Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) elaborou um documento para denunciar o incentivo de ações ilegais por parte de garimpeiros e para examinar o impacto do garimpo e a contaminação de mercúrio pela gestão Bolsonaro, que - maldosamente - omitiu dados sobre as mortes de indígenas, cujo número aumentou assustadoramente a partir de 2019, quando começou o governo do ex-presidente.

(Fonte: https://www.camara.leg.br -14/07/22 e https://noticias.uol.com.br - 23/01/23)

Por fim, faço, encarecidamente, dois pedidos ao presidente Lula e ao seu Governo, que espero seja realmente “popular”: do lado dos Pobres, Excluídos e Descartados do Sistema Capitalista Neoliberal, um “sistema econômico iníquo” (Documento de Aparecida, 385), estruturalmente perverso, desumano e antiético.

1º Pedido: que a situação calamitosa dos Yanomamis seja enfrentada e resolvida em caráter de “urgência urgentíssima”.

2º Pedido: que o genocida ex-presidente Bolsonaro e os membros de seu governo (melhor: desgoverno), responsáveis diretos por essa situação calamitosa, sejam - o quanto antes - processados e julgados.

Providências já! Justiça já!


                                                                         Dário Kopenawa e a deputada Joenia Wapichana


Indígena yanomami acompanha agentes do Ibama
durante operação contra garimpo ilegal na floresta amazônica



Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG

Goiânia, 27 de janeiro de 2023



sábado, 14 de janeiro de 2023

Invasão criminosa dos Três Poderes

 

A solidariedade nacional e internacional
fortaleceu o novo Governo


Como foi amplamente divulgado na imprensa e nas redes sociais, manifestantes criminosos - golpistas, terroristas, nazistas, fascistas e apoiadores do genocida ex-presidente Jair Bolsonaro, vindos do Brasil inteiro - invadiram neste domingo (8) o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional. Prédios públicos foram vandalizados e obras de arte, de valor inestimável, depredadas.

A situação foi controlada no início da noite com cerca de 300 pessoas presas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretou intervenção federal na segurança do DF e, posteriormente, se encontrou com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Após os atos de vandalismo, as pessoas presas eram cerca de 1.500.

O ministro do STF Alexandre de Moraes afastou - pelo prazo de 90 dias - o governador do DF, Ibaneis Rocha por “conduta dolosamente omissiva”, dizendo que o governador “não só deu declarações públicas defendendo uma falsa ‘livre manifestação política em Brasília’ - mesmo sabedor por todas as redes que ataques às Instituições e seus membros seriam realizados - como também  ignorou todos os apelos das autoridades para a realização de um plano de segurança semelhante aos realizados nos últimos dois anos em 7 de setembro, em especial, com a proibição de ingresso na esplanada dos Ministérios pelos criminosos terroristas” (https://www.cnnbrasil.com.br). O Senado e a Câmara aprovaram a intervenção.

Segunda-feira (9), os governadores foram à Brasília em solidariedade ao novo Governo Federal do presidente Lula e em defesa da democracia; nas capitais e em muitas outras cidades do Brasil aconteceram grandes manifestações com o mesmo objetivo.

Os criminosos - executores e mandantes (que sempre se apresentam como “pessoas de bem”) -  responsáveis por esses atos terroristas devem ser julgados e condenados sem nenhuma anistia, e obrigados a arcar com os gastos da recuperação dos danos provocados aos prédios públicos e da restauração das obras de arte.

Diante desses fatos, faço duas reflexões: 

  • A primeira, a respeito dos próprios fatos, que são de uma perversidade inconcebível. Como podem existir - em pleno século XXI - lideranças nazistas e fascistas que - com suas organizações -  defendem a ditadura e são declaradamente contra a democracia? Não dá para entender! É muito atraso!
E ainda: Como conseguem essas lideranças enganar e ludibriar muitos trabalhadores e trabalhadoras, pobres, oprimidos e explorados? Só podem ser pessoas de uma maldade que não tem limite, pessoas diabólicas (os demônios de hoje).

  •  A segunda, a respeito do ensinamento que podemos tirar dessa invasão terrorista. Ela nos mostra claramente a necessidade de retomar e fortalecer o trabalho de base nos Movimentos Sociais Populares, nos Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras e nas Comunidades.

A nossa democracia é ainda muito frágil. Precisamos defendê-la e fortalecê-la para que se torne na prática (e não só na teoria) “o Governo do Povo, pelo Povo, para o Povo” (Abraham Lincoln).

Na posse, Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto acompanhado de 8 pessoas, representantes do Povo: Aline - catadora de materiais recicláveis (que entregou a faixa presidencial ao presidente), Raoni - líder indígena, Francisco Carlos - criança atleta, Ivan - pessoa com deficiência, Murilo Jesus - professor, Jucimara - cozinheira, Flávio - artesão e Weslley - metalúrgico.

Com esse gesto - de extraordinário simbolismo - o presidente Lula assumiu o compromisso de governar com o Povo em contato direto e permanente com o trabalho de base dos Movimentos Sociais Populares, dos Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras e das Comunidades.

Espero que o Governo Lula seja realmente um Governo Popular (socialista no verdadeiro sentido da palavra): um Governo que sabe dialogar com todos e com todas, mas que mostra de maneira clara que tem lado, o lado dos trabalhadores e trabalhadoras, o lado dos Pobres (empobrecidos, marginalizados, oprimidos, explorados e descartados).

Para os cristãos e cristãs esse é o lado de Jesus de Nazaré, esse é o caminho que Ele escolheu. Todos e todas somos convidados e convidadas a entrar nesse caminho.

Um outro Brasil é possível e necessário: um Brasil estruturalmente novo, justo e igualitário; um Brasil de irmãos e irmãs, onde todos e todas tenham condições de vida digna e sejam felizes. À luz da fé, é o Reino de Deus acontecendo no Brasil e no mundo. A luta continua! A esperança nunca morre!


Manifestantes invadem Congresso, STF e Palácio do Planalto Fotos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Manifestantes invadem Congresso, STF e Palácio do Planalto
Fotos: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG

Goiânia, 11 de janeiro de 2023

https://www.ihu.unisinos.br/625504-invasao-criminosa-dos-tres-poderes



 

 


A palavra do Frei Marcos: uma palavra crítica que - a partir de fatos concretos e na escuta dos sinais dos tempos aponta caminhos novos