No
documento “Família e Demografia”, a II Conferência Geral do Episcopado
Latino-americano e Caribenho de Medellín - depois de apresentar a realidade da
família latino-americana e caribenha, refletir sobre o papel da família nessa
mesma realidade e tratar da questão demográfica - faz, no final, algumas
recomendações para a pastoral familiar.
A
Conferência parte de uma constatação: “Por vários fatores históricos, étnicos,
sociológicos e até caracterológicos, a instituição familiar sempre teve, na
América Latina (e Caribe), uma importância global muito grande. É certo que nas
grandes cidades perde parte de sua importância. Nas áreas rurais, que formam
ainda a maior parte do continente, apesar de todas as transformações externas, a
família continua a desempenhar um papel primordial tanto no campo social,
quanto no cultural, no ético ou no religioso”.
Afirmam
os bispos: “Por isso e mais ainda pela condição da família de formadora de
pessoas, educadora na fé e promotora do desenvolvimento (da vida), mas também a
fim de sanar todas as carências de que ela padece e que tem graves repercussões,
julgamos necessário dar à pastoral familiar uma prioridade na planificação da
pastoral de conjunto”. E ainda: “Sugerimos que esta seja planejada em diálogo
com os casais que, por sua experiência humana e pelos carismas próprios do
sacramento do matrimonio, podem auxiliar eficazmente em sua elaboração”.
Segundo
a Conferência, a pastoral familiar “deve conter, entre outras coisas, as
seguintes metas e orientações fundamentais:
1.
Procurar,
desde os anos da adolescência, uma sólida educação para o amor que
integre e, ao mesmo tempo, ultrapasse a
simples educação sexual, inculcando nos jovens de ambos os sexos a
sensibilidade e a consciência dos valores essenciais: amor, respeito, dom de si
mesmo etc.
2.
Difundir
a ideia e facilitar, na prática, uma preparação para o matrimônio, acessível
a todos os que vão se casar e tão
integral quanto possível: física, sociológica, jurídica, moral e espiritual.
3.
Elaborar
e difundir uma espiritualidade matrimonial baseada simultaneamente numa clara
visão do cristão leigo no mundo e na Igreja, e numa teologia do matrimônio como
sacramento.
4. Inculcar nos jovens em geral e sobretudo
nos casais jovens a consciência e a convicção de uma paternidade realmente
responsável (...).
5. Despertar nos esposos a necessidade do
diálogo conjugal que os leve à unidade profunda e a um espírito de corresponsabilidade
e colaboração.
6. Facilitar o diálogo entre pais e filhos
que ajude a superar, no seio da família, o conflito de gerações e torne o lar ‘um
lugar onde se realize o encontro das gerações’ (GS 52).
7. Fazer com que a família seja
verdadeiramente uma ‘igreja doméstica’: comunidade de fé, de oração, de amor,
de ação evangelizadora, escola de catequese etc.
8.
Levar
todas as famílias a uma generosa abertura para as outras famílias, inclusive de
concepções cristãs diferentes; e sobretudo para as famílias marginalizadas ou
em processo de desintegração; abertura para a sociedade, para o mundo e para a
vida da Igreja”.
Finalmente
- declara a Conferência - “queremos estimular os casais que se esforçam por
viver a santidade conjugal e realizam o apostolado familiar, bem como os que, ‘de
comum acordo, de forma bem ponderada, aceitam com magnanimidade uma prole mais
numerosa para educá-la condignamente’ (GS 50)”.
Os
bispos concluem dizendo: “Bem planejada e bem executada mediante os movimentos familiares,
tão meritórios, ou mediante outras formas, a pastoral familiar contribuirá,
certamente, para fazer de nossas famílias uma força viva (e não, como poderia
acontecer, um peso morto) a serviço da construção da Igreja, do desenvolvimento
(da promoção da vida) e da realização das necessárias transformações em nosso
continente”.
Todas
as “metas e orientações” do documento “Família e demografia” para a pastoral
familiar são de fundamental importância e continuam plenamente atuais.
Destaco
duas: Primeira: as famílias precisam ser “comunidades de fé, de oração, de amor
e de ação evangelizadora”. Segunda: as famílias precisam ter “uma generosa
abertura para as outras famílias, inclusive de concepções cristãs diferentes; e
sobretudo (reparem!) para as famílias marginalizadas ou em processo de
desintegração; para a sociedade, para o mundo e para a vida da Igreja”.
A pastoral
familiar deve colaborar na formação de famílias cristãs profundamente humanas,
sensíveis aos desafios do mundo de hoje, que saibam escutar os sinais dos
tempos e interpretá-los à luz do Evangelho e, por fim, que sejam verdadeiras
“Igrejas domésticas em saída”, em missão.
A
pastoral familiar não pode criar clubinhos de amigos e amigas, fechados sobre
si mesmos, com mentalidade elitista e preocupados somente com seus próprios
interesses (mesmo que sejam espirituais) ou, no máximo, com os interesses de
sua Paróquia. Se fizer isso, estará incentivando o “egoísmo familiar” ou “paroquial”.
E a nossa pastoral
familiar? Como está sendo? Quais são seus principais objetivos? Meditemos!
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 28 de novembro de 2018