“Senhor,
tu que fugiste de jegue para o Egito, mostra-nos um meio de nos livrar desse
fascista brasileiro. Tu que entraste em Jerusalém montado num jumento, dá-nos a
coragem de enfrentar o tirano que mata
nossa gente. Livra-nos, Senhor, do desgoverno da morte. Está pesado demais”
(Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte,
13/06/21).
Com
Leonardo Boff e fazendo minhas suas palavras, “uno-me nesta oração para que
Deus e a Mãe Terra tenham piedade de sua gente e nos livrem de quem está
produzindo um holocausto”.
No
dia 19 deste mês de junho, o Brasil - com uma população de 214 milhões - registrou
500 mil mortes pela Covid-19. “É a
maior tragédia brasileira. Nunca houve um evento tão mortífero quanto a
pandemia do novo coronavirus (mesmo com subnotificações). Foram 195 mil
vidas perdidas em 2020 e já são mais de 300 mil em 2021... Das 500 mil mortes,
150 mil foram de pessoas abaixo de 60 anos e 350 mil de idosos (60 anos e mais),
sendo 280 mil homens e 220 mil mulheres” (https://www.ecodebate.com.br/2021/06/21/). Um verdadeiro massacre!
Segundo estudo do professor
e epidemiologista Pedro Hallal, das 500 mil mortes, 375 mil (ou seja, 3 em cada 4) poderiam ter sido evitadas caso o
Brasil tivesse adotado uma política de saúde - cientifica e tecnicamente
planejada, com medidas de controle da pandemia (como vacinação eficiente,
isolamento social e uso de máscaras) - que colocasse a vida em primeiro lugar.
O principal responsável por essas mortes é Jair Bolsonaro, que - a toda hora - fala
o nome de Deus em vão para, hipócrita e oportunisticamente, acobertar e
legitimar seu comportamento político criminoso.
Infelizmente, estamos
diante do desgoverno de um presidente frio e insensível, cínico e assassino, para
o qual a vida dos seres humanos - sobretudo dos pobres - e da Mãe Terra não
vale nada. Além de tudo, com suas palavras e seus atos, debocha da gravidade da
pandemia e demostra ser uma pessoa totalmente desiquilibrada.
Comparemos as 500 mil
mortes pela Covid-19 do Brasil com as de outros países que têm uma população
similar. Conforme foi divulgado nas redes sociais, na Indonésia - com uma
população de 276 milhões - as mortes foram 54 mil; no Paquistão - com uma
população de 225 milhões - as mortes foram 22 mil; na Nigéria - com uma
população de 211 milhões (quase igual à do Brasil: 214 milhões), as mortes
(reparem!) foram 2 mil; no Bangladesh - com uma população de 166 milhões - as
mortes foram 13 mil. Esse quadro não precisa de comentários, fala por si mesmo.
Em 19 deste mês de junho
- dia no qual o país atingiu 500 mil mortes - a Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB), com o lema “toda vida
importa”, realizou um tempo de sensibilização em memória dos mortos pela
Covid-19 - manifestando conforto, solidariedade e esperança - e fez a seguinte Oração (que é nossa também):
Pai de bondade!
Há mais de um ano, temos chorado por tantos irmãos e irmãs
que a triste e violenta pandemia arrancou de
junto de nós.
Chegamos agora a quinhentos mil mortos.
Não são apenas números! São pessoas!
São nossos filhos e filhas, irmãos, irmãs,
amigos, parentes, conterrâneos.
Sabemos que uma única morte já é suficiente para entristecer nossos corações.
Quanto mais todas essas mortes,
muitas vezes sem o mínimo necessário
para o tratamento digno como ser humano.
Por isso, vos pedimos:
acolhei cada um desses filhos e filhas e concedei-lhes a paz eterna!
E a nós dai a graça de trabalhar por um mundo onde se respire
solidariedade, acolhimento, partilha,
compreensão e resiliência.
Que nossas lágrimas nos lavem da indiferença, do egoísmo e da omissão!
Que a saudade seja estímulo à fraternidade!
E que a fé seja o sustento de nossa esperança!
Pela intercessão da Virgem Mãe Aparecida,
olhai pelo Brasil, olhai pelo povo brasileiro.
Amém.
Marcos
Sassatelli, Frade dominicano
Doutor
em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor
aposentado de Filosofia da UFG
E-mail:
mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 28 de junho de 2021