Fiquei
pasmo ao constatar a celeuma que o meu artigo sobre as crianças nas ruas de
Goiânia provocou, sobretudo nos meios político-partidários. Ninguém acredita -
parece - que ainda possam existir pessoas escrevendo artigos sem nenhum
interesse pessoal, sem mentiras, sem ordem de ninguém, por puro amor à verdade
e em solidariedade ao povo sofrido (sobretudo crianças e adolescentes) na
defesa de seus direitos fundamentais.
Dom
Fernando Gomes dos Santos, quando o acusavam de ser contra o governo, como
verdadeiro pastor e profeta, dizia: "Eu sou a favor do povo. Se o governo
estiver a favor do povo, estarei com ele, se for contra o povo, estarei contra
ele". Como me considero discípulo de Dom Fernando - por ter sido amigo e colaborador
dele - faço minhas as suas palavras.
É
um absurdo, e de certa forma ridículo, dizer que eu escrevo artigos a mando do
Marconi, por ser cabo de chicote dele (cf. DM, 16/01/10). Inclusive, no meu artigo sobre as crianças
nas ruas, citei como exemplo do "sistema econômico iníquo" (Documento
de Aparecida, 385), no qual nós vivemos, a barbárie do Parque Oeste Industrial,
que demonstrou a submissão total do Poder Público aos interesses econômicos do
setor imobiliário, que foi a pior barbárie praticada em toda a história de
Goiânia, com requintes de crueldade inconcebíveis no século XXI, e que no dia
16 de fevereiro próximo completa 5 anos.
Se
em nossa sociedade existisse um mínimo de justiça, os responsáveis por esse
crime - que são o governador Marconi Perillo, o secretário de Segurança Pública
Jônathas Silva e o comandante da Polícia Militar Coronel Marciano Basílio de
Queiroz da época (com a omissão do Poder Municipal e a conivência do
Judiciário) e que até hoje estão impunes - deveriam ser processados, condenados
e impedidos de se candidatar a qualquer cargo público.
Chega
de politicagem! Vamos fazer uma política séria, com responsabilidade e a
serviço de todos, a partir dos empobrecidos, marginalizados e excluídos.
As
"Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil
2008-2010", falando de nossa realidade,
observam: "É inquestionável o enfraquecimento da política
decorrente das mudanças culturais como a difusão do individualismo e, principalmente,
do crescimento do poder dos grandes grupos econômicos, impondo suas decisões e
substituindo as instâncias políticas, com riscos para a democracia. Certamente,
houve desencanto e diminuição da confiança do povo nos políticos, nas
instituições públicas e nos três poderes do Estado; em contrapartida, surgiram
novos sinais de esperança e de empenho político, como muitas organizações
alternativas, não governamentais. Também muitas pessoas, inclusive jovens, se
reúnem em movimentos sociais, sem vinculação partidária, para defender, com
energia, os direitos individuais e para expressar a esperança de um outro mundo
possível" (DGAE, 33).
Na
América Latina há atualmente - continua o Documento - "uma crescente
consciência da sociedade em exigir políticas públicas nos campos da saúde,
educação, segurança alimentar (eu acrescentaria, soberania alimentar),
previdência social, acesso à terra e à moradia, criação de empregos e apoio a
organizações solidárias" (DGAE, 34).
A
melhoria da qualidade, dos governantes e de todos nós. É isso que sonhamos e
queremos.
Fr. Marcos Sassatelli, Frade Dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da
UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos
Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do
Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do
Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador
Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
E-mail:
mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 30 de janeiro
de 2010