O desrespeito para com os moradores dos bairros, situados ao redor da Friboi, na Região Noroeste, em Goiânia, é inaceitável. Não dá para suportar tanto mau cheiro e tanto fedor. Mesmo quem passa perto da Friboi de carro (como eu costumo fazer, devido ao trabalho pastoral que realizo em Comunidades da Região) corre o risco de desmaiar e provocar um desastre. Não sei como os moradores da Região conseguem aguentar... É um crime contra a saúde do povo e contra o meio ambiente.
Por que será que o empresário José Batista Júnior (PMDB), o Júnior da Friboi - que não tem nenhuma consideração para com o povo que mora e vive ao redor da Friboi - quer ser candidato a governador do Estado de Goiás? Quais são os interesses que estão por trás dessa candidatura? Certamente não são o “bem viver” do povo e a busca de condições mais dignas de trabalho para esse mesmo povo.
Inclusive, o mau cheiro e o fedor, que se espalham pela Região da Friboi, desvalorizam os lotes e as casas, que - pela posse ou propriedade - são dos trabalhadores (é o direito à terra de moradia). Se algum trabalhador, por razões familiares ou de trabalho, precisar vender o seu lote e a sua casa, não acha quem compre, a não ser que sejam dados quase de graça. É um crime contra a economia popular.
Infelizmente, para quem se identifica com a cultura, desumana e cruel, do sistema capitalista neoliberal - que visa o lucro a qualquer preço - a vida do povo é só “um detalhe”, que não tem nenhuma importância.
O que realmente assusta e preocupa é a aliança do Poder Público - mesmo do chamado (impropriamente) Partido dos Trabalhadores - com os detentores do poder econômico. Eles - os ricos e poderosos - têm muito dinheiro para gastar na propaganda política, enganando o povo e colocando o Poder Público a serviço dos seus interesses.
Por exemplo, conforme o que foi divulgado na mídia, Junior da Friboi fechou um contrato de R$ 30 milhões com o marqueteiro Duda Mendonça para fazer sua possível campanha ao governo do Estado de Goiás. Quem é que vai acreditar (a não ser se for muito ingênuo ou de má-fé) que Junior da Friboi está interessado - como ele disse - em lutar por bandeiras como “o combate à miséria e a luta por moradia digna, por saúde e educação de qualidade para todos os goianos” e “por um Estado onde a segurança pública garanta a tranquilidade dos cidadãos de bem” (O Popular, 30/04/14, p. 12).
Perguntamos: por que não buscar, como candidatos à vida pública, trabalhadores que saibam colocar a prática política a serviço do “bem viver” do povo, sobretudo dos pobres, excluídos e descartados da sociedade.
Voltando à questão concreta do mau cheiro e do fedor da Friboi, perguntamos também: por que a Prefeitura de Goiânia - através da Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA) não toma, em caráter de urgência urgentíssima, as devidas providèncias para resolver o problema? A omissão é um crime contra a saúde do povo e contra o meio ambiente.
Se fosse um trabalhador autônomo que, com “o seu negócio”, espalhasse mau chero e fedor nas redondezas, o Poder Público Municipal teria tomado imediatamente as medidas necessárias. Mas, como no caso da Friboi, se trata de ricos e poderosos, o comportamento é outro.
Comenta-se que a Friboi irá mudar de lugar. Não sei se é verdade ou enganação. Em todo caso, se houvesse respeito pela vida do povo, isso teria acontecido há muito tempo.
Perguntamos ainda: por que, enquanto a Friboi não mudar de lugar, os donos da empresa - que integra uma grande multinacional, a JBS S. A. - não são obrigados, pelo Poder Público Municipal, a instalar os equipamentos técnicos necessários para evitar que o mau cheiro e o fedor se espalhem nos bairros da redondeza? Dentro da lógica, fria e desumana, do capitalismo neoliberal - e o Poder Público é conivente com essa lógica - a resposta é simples. Os equipamentos técnicos custam muito dinheiro e a vida do povo não custa nada.
Como nos lembra o nosso irmão, o papa Francisco: “hoje devemos dizer ‘não a uma economia da exclusão e da desigualdade social’. Essa economia mata” (A Alegria do Evangelho - EG, 53).
Os moradores dos bairros, situados ao redor da Friboi precisam se unir e organizar para exigir que o seu direito a uma vida digna e salubre seja respeitado. Como diz o slogam dos Movimentos Sociais Populares: “povo unido jamais será vencido”. “A união faz a força”.
1º de maio de 2014: viva o dia do Trabalhador e da Trabalhadora!
Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP),
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 01 de maio de 2014