"Estive na prisão e não fostes me visitar" (Mt 25, 42)
O Grito dos Excluídos/as 2009, em
nível nacional, tem como tema: "A vida em primeiro lugar" e, como
lema: "A força da transformação está na organização popular". Dentro
deste tema geral, em Goiás, foi escolhido um tema expecífico: "Estive na
prisão e não fostes me visitar" (Mt 25, 42).
O Grito dos Excluídos/as será
realizado no dia 7 de setembro nas proximidades do Sistema Prisional de
Aparecida de Goiânia (antigo Cepaigo), das 8,30 às 12,30h. O enfoque - ligando
com a Campanha da Fraternidade deste ano, "Fraternidade e Segurança
Pública" - será a luta pela dignidade e pelos direitos dos
encarcerados/as.
Por incrível que pareça, na tarde de
segunda feira, 31 de agosto, o deputado estadual José Nelto, vice-presidente da
Comissão de Segurança Pública nos surpreendeu a todos/as, proferindo a seguinte
frase: "Policial que mata bandido merece uma medalha".
Graças à Deus, a postura do deputado
causou profunda indignação na sociedade e mereceu o repúdio do Conselho
nacional dos Procuradores-Gerais do Ministério Público dos Estados e da União;
do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana; da Comissão de Direitos
Humanos, Cidadania e Legislação Participativa da Assembléia Legislativa; e de
muitas outras Entidade ou pessoas (Cf. Diário da Manhã, 02/09/09, p. 8).
Fazer a apologia do crime,
incentivar e aplaudir a prática do crime, é crime, que deve ser punido. O
deputado José Nelto deveria ser processado e responder na Justiça pelo crime
cometido. A atitude do deputado não só é ilegal, mas é, sobretudo, desumana e
antiética. É um absurdo que, em pleno século 21, ainda existam pessoas que
pensam assim. Demonstra uma mentalidade fascista e um atraso cultural muito
grande.
Deputado José Nelto: toda pessoa
humana, mesmo que tenha cometido um crime, mais ou menos grave, deve ser
respeitada em sua dignidade e direitos. Ela tem um valor infinito, ela é imagem
e semelhança de Deus.
Infelizmente, na nossa sociedade capitalista neo-liberal
- que é uma sociedade discriminadora - as pessoas valem por aquilo que têm e
não por aquilo que são.
Na
prisão encontramos muitos pobres, que cometeram algum crime, quase sempre
vítimas da nossa sociedade injusta. Os ricos e poderosos, porém, que cometeram
crimes, às vezes muito maiores, normalmente não se encontram na prisão, estão
livres e se apresentam como "pessoas de bem" (são os chamados
criminosos de "colarinho branco"). Precisamos mudar a nossa sociedade
para que todos/as sejam tratados com justiça e igualdade
Falando do sistema prisional,
Massimo Pavarini, 62 - professor da Universidade de Bolonha e um dos maiores
penalistas da Europa - nos lembra uma grande verdade: a noção de que penas
maiores de prisão aumentam a segurança, " é um pecado, uma idéia
louca". "Acontece o contrário. Penas maiores produzem mais
insegurança". "Quanto mais se castiga um criminoso leve, mais
profissional ele será quando voltar ao crime" (Entrevista da 2a, Folha de
S. Paulo, 31/08/09, p. A16).
A sociedade, deputado José Nelto,
tem o direito de se defender, mas não tem o direito de matar. O senhor não só
fêz a apologia do crime, mas também a apologia da pena de morte. No Brasil não
existe a lei da pena de morte e mesmo onde ainda existe, ela é imoral e antiética.
Lutemos sempre em defesa da vida. Vale a pena. Venham participar do Grito dos
Excluídos/as!
Fr. Marcos Sassatelli,
Frade Dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da
UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos
Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do
Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do
Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador
Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br - Goiânia, 04
de setembro de 2009